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Aramis

Artigo em 29.11.1980

Neste fim de semana o recorde de bilheteria em Curitiba estará batido: "O Império dos Sentidos"( Cine Plaza, sessões corridas a partir das 10 horas da manhã) terá passado do primeiro milhão de cruzeiros em apenas 6 dias de exibição, num único cinema. Numa época de baixas rendas e esvaziamento das salas de exibição que leva ao fechamento várias casas (Ópera, Arlequim, Bristol e Cinema I em menos de dois anos), a bilheteria de "Ai no Korida" não deixa de ser impressionante. Em São Paulo, este filme que desde 1976, quando apresentado no Festival de Cannes, vem acumulado tantos prêmios como polemica, rendeu no primeiro dia a impressionante soma de Cr$ 4.300.000,00, subindo para Cr$ 4.800.000,00 no segundo e atingindo Cr$ 5.600.000,00 na última quinta-feira. Somente naquela Capital, o filme de Nagisha Oshima fechará as duas primeiras semanas com mais de Cr$ 30 milhões. Os exibidores Francisco Lucas Neto e Magalhães Rodrigues Lucas, sócios de Paulo Sá Pinto num circuito de dezenas de cinemas, tem a exclusividade para projeção de "O Império dos Sentidos" durante quatro meses o que lhes permite um lucro seguro. Para obter esta vantagem, arriscaram o "advanced" de Cr$ 1.500.000,00, antes mesmo do filme ser liberado, pagos ao editor Álvaro Pacheco, da Artenova Filmes que acertou sozinho, na Loteria Esportiva, uma centena de vezes, ao comprar os direitos da polemica obra e, principalmente, conseguir sua liberação. Homem que já é rico, haja visto os "best sellers" que sua casa publicadora tem lançado, Pacheco agora triplicará sua fortuna com as rendas do filme que Oshima realizou inspirado num episódio real ocorrido no Japão em 1936. Com cenas de sexo explicito - de uma forma nunca antes apresentado em circuitos comerciais de exibição, "O Império dos Sentidos" não é, entretanto, um filme pornográfico. As premiações internacionais acumuladas entre 1976/78 e a polemica que provocou em muitos países, diferenciam "L'Empire des Sens" da maioria dos filmes comerciais apelativos e, este sim, realmente pornográficos que inundam os cinemas de todas as capitais. Com atraso de 15 anos, o Brasil começa a ver filmes que colocam o sexo explicito e derrubam velhos tabus. Evidentemente que para uma obra do nível de "O Império dos Sentidos" existe uma centena de subproduções, realizadas com a finalidade única e exclusivamente de faturar. O curioso é que passado o primeiro impacto, mesmo os filmes mais chocantes começam a cansar o público. Uma prova esta que "A Historia D'O", de Just Jaeckin ( o mesmo diretor de "Emanuelle, A Verdadeira") com cenas de sadomasoquismo e liberado apenas para salas especiais (mas por força de mandato de segurança podendo ser exibido em qualquer cinema) não resistiu a mais do que suas semanas no São João: começou com Cr$ 485.107,80 na primeira semana, soma que caiu para Cr$ 231.332,00 na segunda. "A Fêmea do Mar", que o paulista Ody Fraga rodou em Florianópolis há poucos meses e que é também anunciado como filme pornográfico, rendeu apenas Cr$ 455.400,00 na primeira semana no Cine Avenida, não passando, até ontem de Cr$ 300 mil na segunda semana, o que levará a sua substituição por "Depravação", também nacional e na mesma linha. "Vanessa", produção da República Federal da Alemanha, importada pela Fama Filmes e que o "mérito" de ter sido o filme pornográfico a receber o certificado de censura 001 nesta categoria rendeu Cr$ 1.074.641,00 na primeira semana, que diminuiu para Cr$ 496.577,00 na segunda e equilibrando-se ao redor de Cr$ 400 mil nesta terceira semana. O que o levará João Aracheski, executivo da empresa no Paraná a substituí-lo, na próxima feira por uma produção australiana, grande sucesso nos Estados Unidos neste ano: "Sexta-Feira, 13" (Friday The 13 th), de Sean Cunningham, "Giselle", de VictorDi Melo, primeiro filme nacional que recebeu o certificado de pornográfico", nos cines Lido e Condor, já passou do Cr$ 1,500.000,00, mas experientes observadores acreditam que a tendência é começar a decair a renda a partir da próxima semana. O comportamento do publico em relação aos filmes eróticos e pornográficos em exibição é curiosa. Alfredo Prim, do cine Plaza, ficou impressionado com o bom comportamento dos espectadores de "O Império dos sentidos". É verdade que o preço (Cr$ 180,00) e o interesse que as premiações internacionais obtidas pelo filme de Oshima, selecionam uma freqüência mais categorizada, "inclusive senhoras desacompanhadas", frisa o exibidor. Os gritos e piadas acontecem, mas em menor intensidade do que se imaginaria. A tendência de "O Império dos Sentidos" é ter uma renda em ascensão, especialmente porque a partir deste fim-de-semana, nas reuniões sociais, a discussão em torno das cenas de sexo explicito e o chocante final passam a ser assunto principal. E a propaganda boca a boca é o que mais funciona. Já com relação aos filmes simplesmente pornográficos ou de erotismo barato - há um esvaziamento da platéia especialmente masculina que, nas primeiras semanas, eleva a bilheteria a cifras impressionantes, mas, pouco a pouco, esvazia-se, obrigando a substituição dos filmes programados. Liberados com a exigência do público ser advertido de que se tratam de filmes pornográficos, com cenas de sexo, as produções que chegam agora às telas vem demonstrar a imbecilidade dos puritanos (falsos e hipócritas) que, por anos, apoiavam as mais fascistas ações da censura. Independente de posicionamento a favor ou contra este gênero cinematográfico, o fato é que chegam aos cinemas como reflexo de uma sociedade em constante transformação e a absorção ou não de cada produto é problema individual, reservado aos maiores de 18 anos que devem escolher a sua programação. Xxx CURITIBA também será cenário de um filme erótico. Hoje, das 8 às 10 horas da manhã antes que "O Império dos Sentidos" comece a ser projetado no cine Plaza, o produtor-diretor Wilsom Rodrigues e seus assistentes Ari Santiago e Hely Antônio, ali estarão escolhendo 20 interpretes para "Suite Número 5", filme policial-erotico que começa a ser rodado na segunda semana de dezembro. Durante 3 meses, Ari e Wilson vieram todos os fins-de-semana orientar um curso de arte dramática para 200 rapazes e moças interessados em fazer cinema. Agora serão escolhidos os melhores para "Suite Número 5", produção com a qual Wilson Rodrigues prossegue o projeto de descentralizar suas realizações do eixo-Rio-São Paulo. "O Amor Uniu Dois Corações" foi rodado em Belo Horizonte com 40 jovens daquela cidade e, obviamente considerando a TFM, o argumento foi bem comportado. Na filmografia de Wilson Rodrigues estão "O Meu Primeiro Amante", "Nós Os Amantes" e "Liberdade Sexual". Para integrar o júri que escolherá os artistas de "Suite Número 5" chegou ontem à noite a Curitiba o temível Zé do Caixão (José Mojica Marins), que, a propósito, vai agora realizar o seu mais avançado filme: "A Encarnação do Demônio". Xxx U M dos projetos da professora Cassiana Lacerda Carolo, coordenadora do setor de Editoração da Secretaria da Cultura e do Esporte, é publicar duas ou três teses sobre a economia cafeeira no Paraná. Isto sem falar no profundo trabalho a respeito que a professora Filomena Gebram, diretora do setor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vem concluindo para dissertação de mestrado. A inexistência de maior bibliografia a respeito do ciclo do café no Paraná ao menos editada e ao alcance de todos os interessados torna-se mais gritante, quando comparada com a ampla literatura especializada sobre a cana-de-açúcar, seja no passado ou no presente. A Paz e Terra lançou, por exemplo, dois ensaios a respeito: "A Velha Usina Pernambuco na Federação Brasileira (1889-1937)", de Robert M. Levine (297 páginas, tradução de Raul de Sá Barbosa). Faz parte de uma trilogia de estudos na Federação Brasileira, no mesmo período, que os "brazilianistas" desenvolveram: Levine sobre Pernambuco e enfocando, naturalmente, a economia da cana-de-acúcar; John D. Wirth sobre Minas Gerais e Joseph L. Love sobre São Paulo. Já "Greve nos Engenhos", de Lygia Sigaud (114 páginas), é quase uma reportagem interpretativa da greve dos trabalhadores dos engenhos produtores de cana-de-açúcar, ocorrida na Zona da Mata de Pernanbuco, em outubro de 1979, que teve uma semana de duração, envolvendo diretamente 20 mil trabalhadores e, indiretamente, outros 100 mil, constituindo-se na primeira grande mobilização dos trabalhadores na região no período posterior a 1964. A greve foi vitoriosa, tendo resultado num acordo com os patrões, o qual previa, entre outros pontos, um aumento salarial de 52%, a cessão de uma área de 2 hectares de terras para cultivo de lavouras de subsistência.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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29/11/1980

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