Login do usuário

Aramis

Bethania: "Gil, governador da Bahia, por que não?"

Porto Alegre - janeiro - "Gil? Ah! Ele agora é secretário da Cultura de Salvador. Está entusiasmadíssimo. Cá entre nós, acho até que o político que existe nele pode fazer o cantor parar. Aliás, ele já disse que quer ser prefeito de Salvador". - E por que não governador da Bahia? - Sim. Por que não? Afinal, ele tem condições para isto! Oficialmente, a entrevista já havia terminado. Gravadores desligados, o papo informal da despedida na suíte do hotel São Raphael, segunda-feira, 19, à noite. Maria Bethânia tinha falado sobre seu novo disco - o primeiro que faz na RCA, seus shows - cada vez mais escassos, sobre Billie Holiday e Dalva de Oliveira e lembrado até dos Rosacruzes. No final, já fora da entrevista especial para Juarez Fonseca, da "Zero Hora" e este repórter, a cantora falou de seu amigo Gil. E fez a revelação de que o autor de "Domingo no Parque" não esconde suas pretensões políticas. - Aliás, de todos nós, Gil sempre foi o mais político. Nunca deixou de exercer indiretamente esta atividade. xxx Dentro de um roteiro escolhido pela própria Bethânia - iniciado no Rio e que prosseguiu por Salvador, Fortaleza, Campinas e se encerra hoje à noite, em Belo Horizonte, a cantora iniciou a semana na capital gaúcha, numa festa para o lançamento de seu novo disco com o título de "Dezembros". "Bethânia não gravava há dois anos, estréia numa nova gravadora e o evento precisava mesmo ser registrado" comenta Marina Ghiaghroni, diretora da área de imprensa da RCA, coordenadora-geral deste projeto. Duzentos convidados, entre jornalistas, radialistas, pessoal de TV e artistas - incluindo Renato Borghetti, bem menos tímido do que o habitual, lotaram o Salão Amarelo do Plaza São Raphael, num jantar com bom strogonoff e vinho branco. Saia branca, blusa azul, simpática e sorridente, Bethânia não cansou de falar a várias televisões, concentrando especialmente suas declarações sobre o novo disco - o 25º de 21 anos de carreira, voltando agora para a RCA após 14 anos na Polygram. Foi na RCA, que Bethânia gravou seus dois primeiros compactos e os três primeiros elepês, entre 1965/68. Em 1965, chegando de Salvador, substituíra Nara Leão, no show "Opinião" (com Zé Ketti e João do Valle) e iniciava uma carreira que a colocaria no ranking das superstars da canção brasileira. Em 1979, com "Alibi", foi a primeira cantora brasileira a vender um milhão de cópias. Já a partir de 1971, havia optado por shows em teatros, com "Rosa dos Ventos", dirigida por Fauzi Arap, amigo querido que seria responsável por outros belíssimos espetáculos - "Cena Muda" (1974), "Pássaro da Manhã" (1977), "Estranha Forma de Vida" (1981). Cantora especial, cuidadosa ao máximo de seu repertório, escolhe criteriosamente cada música para gravar. Em seu novo disco, lança "Anos Dourados" (Tom/Chico Buarque), seguramente uma das mais belas canções dos últimos anos. Milton Nascimento não poderia faltar, com a poesia de Fernando Brant, que em "Canções e Momentos" é quase uma declaração de vida e arte. Há canções e há momentos Eu não sei como explicar Em que a voz é um instrumento Que não posso controlar xxx Profissional das mais experientes na divulgação musical, Marina Ghiaghroni organizou o projeto de lançamento do disco de Bethânia em moldes perfeitos. Horas certas para as entrevistas, bom e farto material de imprensa, acompanhando a campanha publicitária que inclui anúncios de página inteira em revistas nacionais. Edson Coelho, da agência que atende a RCA; José Alberto - o extremamente dedicado empresário de Bethânia - e a assessora de marketing, Maria Emília, a acompanham neste período por várias cidades. Uma jornalista suíça, Nancy, amiga pessoal de Bethânia, vindo em férias ao Brasil, também participa do exclusivo grupo com acesso à sua suíte. Em Porto Alegre, após dezenas de declarações e centenas de autógrafos - "incrível como as pessoas não resistem e se tornam tietes quando Bethânia está presente", comentaria, conosco, Marina horas depois - Bethânia assistiu, no próprio Hotel São Raphael, um show de danças nativistas. Um espetáculo vigoroso, curto, e que mereceu seus entusiásticos aplausos. xxx De momento, Bethânia não tem nenhum show programado para viajar pelos Estados. Lamenta o alto custo da produção e a necessidade de grandes espaços - ginásios ou teatros com mais de 2 mil lugares "para comportar o público que é atraído". Sua última temporada foi há um ano, no Teatro Castro Alves, em Salvador, com direção de sua amiga Bibi Ferreira - espetáculo levado também, em maio, ao teatro Ópera, em Buenos Aires. Contratada pela RCA para fazer três álbuns - o primeiro dos quais sai agora - Maria Bethânia sente-se descompromissada do disco anual. Assim "há mais tempo para trabalhar o repertório" - ao mesmo tempo que o álbum não é tão descartável. Aliás, Bethânia é uma das (poucas) artistas brasileiras que tem grande parte de sua discografia em catálogo, sempre vendendo bem. A Odeon, onde esteve entre 1968/70, prensa sempre os três álbuns que ela ali fez (incluindo o belíssimo "Recital na Noite Barroco") e a Polygram tão cedo não deixará de manter em catálogo álbuns como "Álibi" (1978), "Mel" (1971), "Talismã" (1980), "Nossos Momentos" (1982), "Ciclo" (1983) e "A Beira e o Rio" (1984). Jovial - "completei 40 anos e nunca me senti melhor" - Bethânia confessa-se de paz com a vida. Musicalmente, volta-se ao acústico, buscando uma moldura mais suave às suas canções - conforme explicações que ocuparão espaço especial, numa das próximas edições de O Estado. Antes de tudo, a cantora romântica e que melhor traduz sua profissão na letra de "Canções e Momentos" Eu só sei que há momento Que se casa com canção De fazer tal casamento Vive a minha profissão. LEGENDA TEXTO - Bethania: em nova fase
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
23/01/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br