A caça ao acervo para um espaço improvisado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de janeiro de 1987
O que colocar no Museu da Arte Paranaense?
Afinal, se a cidade vai "ganhar" (sic) um novo Museu, é preciso justificar o espaço. Para tanto, a secretária Suzana Guimarães designou uma comissão de acervo que vem trabalhando há algumas semanas, buscando telas que possam ser incorporadas ao futuro museu no Palácio São Francisco.
Realmente, existem muitas telas e algumas esculturas de bons artistas paranaenses que estão em várias repartições públicas. Teoricamente já deveriam estar no Museu de Arte Contemporânea desde a sua inauguração, há quase 20 anos. Entretanto, a falta de colaboração dos titulares de várias Secretarias e mesmo uma maior ação do MAC, em sucessivas administrações, fez com que estas obras-de-arte permanecessem em locais indevidos, muitas vezes necessitando de restauração.
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Num primeiro levantamento constatou-se que uma centena de obras estão espalhadas em repartições do Estado e no Tribunal de Justiça. Assim na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, subordinada à Secretaria da Educação, existem 18 valiosas peças, inclusive 4 grandes óleos de Alfredo Andersen; no Colégio Estadual do Paraná, entre as 8 peças - incluindo dois bustos executados por Erbo Stenzel. Na Secretaria da Segurança Pública, conforme aqui denunciamos há semanas, estão telas de Arthur Nisio, enquanto na Secretaria da Agricultura há obras de Silvio Nigri; Miguel Bakun e Arthur Nisio. Entretanto, o acervo mais representativo está no Tribunal da Justiça, com um total de 17 telas - entre as quais obras de Lange de Morretes, Arthur Nisio, Estanislau Traple, Waldemar Curt Freyesleben, Theodoro De Bona, além de uma rara obra de Maria Amélia D'Assumpção, considerada uma das pioneiras das artes plásticas no Paraná.
Se os quadros espalhados em órgãos do Estado ainda podem ser requisitados para o acervo do novo Museu - mediante decreto do governador João Elísio, em relação ao patrimônio do Tribunal da Justiça a questão não é tão simples. Além de ser um poder independente, o Tribunal de Justiça adquiriu estas telas - assim como encomendou outras obras de arte para os seus espaços (inclusive um belíssimo painel do artista Franco Giglio), os quais fazem parte de sua decoração. Os Senhores Desembargadores não aceitarão, de forma alguma, que se retirem de seus gabinetes as telas que ali se encontram. Isto faz com que a pretensão de reunir no Alto do São Francisco trabalhos hoje em outras repartições já se reduza.
Outra questão: quais os critérios para um pintor ser destinado ao Museu de Arte do Paraná - que, a rigor, cobriria o mesmo período? Se forem considerados apenas os pioneiros, o acervo ficará reduzido a Maria Amélia D'Assumpção e outros poucos nomes - já que Alfredo Andersen tem o seu próprio Museu. E pintores como Arthur Nisio, Traple, De Bona (ainda vivo, embora gravemente enfermo), Paul Garfunkel, Miguel Bakun, Guido Viaro não são, por acaso, contemporâneos? Na listagem da Secretaria da Cultura aparecem até artistas dos anos 60 - como Fernando Velloso, Érico da Silva, Fernando Calderari, Mário Rubinski, Luís Carlos de Andrade Lima, Loio Persio e até Enio Marques Ferreira, que tem trabalhos em várias repartições. Aliás, 15 dos artistas listados, têm seus trabalhos já no acervo do MAC, não entendendo-se assim por que iriam passar para o novo Museu.
Numa segunda etapa, a comissão está levantando trabalhos de artistas paranaenses em acervos particulares. Estes seriam solicitados como doação (sic) ou em regime de comodato, o que, sinceramente soa como piada. Será que uma família que adquiriu (ou herdou) uma tela ou escultura de um bom artista paranaense estaria disposta a desnudar sua residência para que o quadro fosse para o novo Museu inaugurado a toque-de-caixa política?
Mesmo que se tente a compra destas peças - e para tanto a Secretária da Cultura pensa em usar os benefícios da Lei Sarney (que, pelo visto, virou solução mágica para todos os problemas culturais do País) ou mesmo a intervenção da Fundação Roberto Marinho, é um sonho distante pensar que as paredes do novo Museu se povoem de obras nunca antes vistas pelo público.
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O levantamento feito agora tem ao menos um mérito: mostra a pobreza de nossas artes plásticas. Em mais de um século, o Estado reuniu muitas poucas obras - quase sempre adquiridas como premiações, sem critérios maiores, o que explica inclusive a existência também de muitos trabalhos medíocres, nem considerados neste levantamento.
Ironicamente, o maior acervo artístico está nas mãos do professor e colecionador Newton Carneiro, que em sua mansão ao estilo virginiano na Avenida 7 de Setembro, guarda obras das mais preciosas - que vão de originais de Debret e Rugendas e toda uma completa pinacoteca dos grandes artistas paranaenses. Ao invés de perder tempo em projetos como o do Museu de Arte do paranaense, a Secretaria da Cultura melhor faria se tivesse iniciado um trabalho capaz de conseguir recursos para que o verdadeiro museu do professor Newton Carneiro passe algum dia para o Estado.
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