A dança de Lygia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de maio de 1978
Lygia Lopes dos Santos acostumou-se a poesia, a crônica e ao conto desde a infância. Seus pais, dona Pomphilia e Dario Santos mantém, há mais de meio século, uma regular atividade intelectual - restrita, evidentemente, ao âmbito curitibano, mas de grande constância. Dario, quase octogenário, faz ainda alexandrinos versos, enquanto que dona Pomphilia, uma vitalidade extraordinária, foi a fundadora do Centro Paranaense Feminino de Cultura, lidera movimentos assistências e ainda escreve suas crônicas, poesias e mesmo novelas.
Mas Lygia preferiu esperar a chamada idade da razão para publicar seus textos. Um casamento, quatro belas filhas, amor & desamor, a volta a Curitiba, assumindo um trabalho ao qual se dedica há seis anos, na Fundação Cultural, da qual faz parte desde sua criação, fizeram que amadurecesse como mulher e pessoa. Agora, publica "Dança do Caos" (O Formigueiro, 98 páginas) capa de Luís Antônio Guinsky), livro despretensioso, que fez questão de editar às suas expensas, para dispor de maior liberdade.
E a leitura dos 21 contos que Lygia selecionou, entre mais de uma centena que já escreveu, mostra uma mulher observadora, sensível e inteligente. Lygia escreve corretamente, sabe utilizar as frases, criar ambientes e situações. Não tem pretensões formalisticas, mas suas estórias, falam de amor, de traições, de crimes, do dramático e do ridículo da vida, são bem contadas. Cada uma das estórias que Lygia relata parece ser de personagens que ela conhecem bem, em suas quatro décadas de uma vida intensa e honestamente curtida, em Curitiba, em Vitória - capital onde residiu alguns anos. Isso é que dá ao seu livro uma característica especial, impulsionando a sua leitura de uma forma agradável. Cada instante de seus contos, cada personagem que focaliza - da Teresa meneta lingüiça ao dilacerante conto final, que dá título ao livro, Lygia soube integrar-se/entregar-se, até onde era possível, a uma realidade que viveu e conheceu.
Geralmente, quando uma mulher se propõe a entrar no campo da literatura, preconceitos provincianos afloram e fazem já uma auto-censura. Lygia, sem escandalizar, sem chocar, é honesta em seus contos - e por isto seu "Dança do Caos" é um livro que não envergonha ninguém. Muito pelo contrario.
Enviar novo comentário