Depois de morto, a vida de Chico na roda dos milhões
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de setembro de 1990
Desde a morte de Chico Mendes, a novela pela compra dos direitos sobre sua vida - inicialmente para o cinema, mas incluindo também vídeo, televisão, livros etc., vem movimentando inúmeros grupos de interesse. Cinematograficamente, o produtor Peter Guber, quando na Warner Communications - no qual se tornou o golden boy pelos milhões de dólares de lucros de "Batman" - e entusiasmado com a repercussão que "A Montanha dos Gorilas" (Gorilas in the Mist), havia conseguido, inclusive a indicação ao Oscar de melhor coadjuvante para a atriz Sigourney Weaver, intérprete da antropóloga Dyan Fossey (1932-1985) que, a exemplo de Chico Mendes, foi assassinada devido a sua luta pela preservação ambiental (em seu caso, dos gorilas africanos) - foi um dos primeiros a tentar negociar a compra da história. Apesar de seu prestígio - e apoio de pesos-pesados que se integrariam ao projeto (Robert Redford, Dustin Hoffman e mesmo Robert de Niro), a ganância de grupos que cercavam Chico Mendes impuseram tantas objeções que, no final, num leilão de interesses em que estavam mais sete outros candidatos (inclusive realizadores com a respeitabilidade de Costa-Gavras e do brasileiro Nelson Pereira dos Santos) a venda acabou beneficiando o grupo menos preparado, justamente a NF Filmes, cujo curriculum cinematográfico é inexpressivo.
Acontece que, correndo por fora, a atuante advogada Zélia Oliveira conseguiu provar em juízo a existência da primeira esposa de Chico Mendes, Eunice, e de sua filha, Angela, sem cujo consentimento nada pode ser realizado. Assim, os contratos que a viúva Ilzamara assinou estão sub judice, o que retardou todos os projetos cinematográficos. Aliás, na reportagem "A Life Under Fire", da "Newsweek", Ilzamara é descrita como uma personagem que usando jeans da Calvin Klein e pilotando uma moderna motocicleta admite envolvimentos com quatro amantes, incluindo um padre, "mesmo antes de Chico ter sido assassinado". Em sua defesa, Ilzamara disse a revista americana: "Eu não posso ser uma viúva permanente. Eu tenho apenas 24 anos".
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Adrian Cowell, autor de "The Decade of Destruction", é uma cameraman inglês que há 30 anos vem acompanhando os problemas da Amazônia e, nos anos 80, em particular, observou a ação política-ecológica de Chico Mendes. Sua opinião, segundo extravasa a "Newsweek" não é, em absoluto, a de santificação do seringueiro acreano.
Também Vicente Rios, um dos integrantes da equipe de Cowell, é irônico em sua apreciação sobre Chico Mendes. Assim, quando indagado sobre o carisma de Mendes, Rios disse:
- "Chico acostumou-se tanto ao conforto que quando entrava em nosso carro rapidamente dormia. Cinco minutos depois da partida ele já roncava".
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Embora ainda nenhuma editora brasileira tenha anunciado o lançamento em português destes livros, por certo que os mesmos provocarão muitos debates. Chico Mendes é hoje a imagem do mártir ecológico da Amazônia e as referências a sua personalidade provocam naturais discussões.
Até agora, nenhuma livraria de Curitiba - mesmo o Livro Técnico, que tem o melhor esquema de obras importadas - recebeu estes volumes.
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Henry Holt, autor de "The Decade of Destruction", já realizou vários documentários sobre a Amazônia, ecologistas (um deles sobre José Lutzenberger) e seu livro é bem mais amplo na abordagem que faz da questão ecológica.
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