El Broto, aos 58 anos, ainda canta muito bem
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de julho de 1986
O veterano crítico Ary Vasconcelos tem toda razão de escrever com indignação: como pode um País em que faltam bons cantores (embora sobrem compositores) dispensar tão precocemente um intérprete da dimensão de Francisco Carlos?
Aos 58 anos - nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de abril de 1928 - Francisco Rodrigues Filho era, nos anos 50, "El Broto", capaz de ultrapassar até Francisco Alves na votação dos ouvintes da Rádio Nacional para a escolha do melhor cantor de 1953.
Aluno da Escola Nacional de Belas Artes, ainda estudante apresentou-se no Programa Casé, na rádio Mayrink Veiga, sendo contratado como profissional em 1946, transferindo-se depois para a Globo e Nacional. Em 1950 gravava o seu primeiro sucesso, "Meu Brotinho" (Humberto Teixeira/Luís Gonzaga) e iniciava também uma carreira cinematográfica, nas chanchadas de Atlântida: "Aviso aos Navegantes" da Watson Macedo e "Não é Nada Disso", de José Carlos Burle.
Simpático, boa pinta, de grande empatia junto ao público feminino, Francisco Carlos tinha a maior correspondência do elenco all star da Nacional, popularidade aumentada com sua presença em filmes como "Carnaval Atlântida" (1952, de Burle), "Colégio de Brotos" (56), os "Garotas e Samba" (57) e "Esse Milhão é Meu" (58), os três dirigidos por Carlos Manga (que, por sinal, retorna agora como diretor em "Os Trapalhões e o Rei do Futebol").
Mas os tempos mudaram, a nacional deixou de ser a grande emissora e Francisco Carlos decidiu se dedicar a pintura (embora em 1962, tenha viajado pela Europa na V Caravana da UBC).
Uma ausência lamentada pelos que admiravam sua voz - bem colocada, afinada e que conserva, como mostra agora, num LP de retorno ( "O Cantor namorado do Brasil", RCA), com um repertório amplo e diversificado, no qual inclui desde belos momentos como "Alma dos Violinos" (Lamartine Babo/Alcyr Pires Vermelho"), "Flor Amorosa" (Catulo/Callado), "Promessa de Um Caboclo" (Geraldo Pereira/Arnaldo Passos), "O Sol Nasceu Pra Todos" (Lamartine Babo), até versões como "Não Quero Mais Amar" (I'll Never Fall In Love Again") e "A Aventureira" (El Choclo), o pioneiro tango de Discpelo/Villoldo/Catan, na tradução de Haroldo Barbosa.
Significativo este reaparecimento de Francisco Carlos. Afinal, numa época de crise de bons vocalistas "El Broto" poderia ter mantido sua carreira.
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