Login do usuário

Aramis

Elizeth, 50 anos de amor e emoção

Felicidade existe em qualquer lugar Depende apenas de querer procurar Às vezes basta dar ouvido à voz Que fala dentro de nós ("Felicidade Segundo Eu", Dona Ivone Lara/Nei Lopes). xxx A voz suave, perfeita, redonda de Paulinho da Viola está em contracanto à de Elizeth Cardoso. Ambos, enternecedores, fazendo mais um hino de amor e paz, numa das faixas de "Luz e Esplendor", que, após cinco anos, marca a volta ao disco daquela que é a Divina, a Enluarada - a maior das cantoras brasileiras. O disco somente irá para as lojas no dia 27, em lançamento da Arca Som, etiqueta pertencente ao joranalista Ary de Carvalho, ex-repórter policial da "Última Hora", em São Paulo, chefe da Sucursal da UH em Curitiba entre 1963/64, fundador do "Zero Hora" em Porto Alegre e hoje, milionário dono do grupo "Última Hora/O Dia", no Rio de Janeiro. A paixão de Ary pela melhor MPB - em especial por Elizeth Cardoso - fez com que os 50 anos de carreira - e 66 de vida de Elizeth Moreira Cardoso - transcorridos no último dia 16 de julho - não permanecessem esquecidos. xxx Nesta quinta-feira, 14, à tarde, na Câmara Municipal, Elizeth estará recebendo o título de Cidadã Benemérita do Rio de Janeiro, uma entre muitas homenagens programadas para a Divina. Tímida em fazer discursos, Elizeth aceitou a sugestão de seu amigo e fã, o vereador Sérgio Cabral - autor do projeto-de-lei que lhe deu o título - e assim, ao invés de fazer um discurso estará cantando algumas de suas músicas mais notáveis, a começar por "Serenata do Adeus" (Vinícius de Moraes/Antonio Carlos Jobim), que, há 29 anos atrás, imortalizaria na gravação feita para outro amigo, Irineu Garcia (LP "Canção do Amor Demais", Festa, álbum precursor da Bossa Nova). No domingo, 17, no Scala, acontece a grande noite de Elizeth, comemorativa aos seus 50 anos e, a partir da próxima semana, um novo show, direção de Túlio Feliciano, que após algumas semanas no Un-Deux-Trois, seguirá para algumas capitais - incluindo Curitiba. Ainda no roteiro, dia 25, uma apresentação no Paladium, em São Paulo. Um final de agosto repleto de comemorações para uma cantora que, há meio século, enternece o Brasil com as mais belas canções e que, no plano pessoal, chega aos 66 anos praticamente incólume. Como lembrava dias atrás a jornalista Magda de Almeida, Elizeth nunca teve o nome envolvido em escândalo de espécie alguma. De sua vida amorosa pouco ou nada se conhece. Soube preservar-se. Casou cedo, tem um filho legítimo - Otavio Valdez (compositor bissexto), vários adotivos, quatro netos que lhe enchem os dias e o coração. Gosta de praticar tapeçaria, pintura de porcelanas, e, com sua irmã e secretária, Lourdes, mora há anos num confortável, mas simples, apartamento no Botafogo. Eventualmente faz alguns shows - no Brasil ou mesmo no Exterior. Já esteve duas vezes no Japão (1977/78), e ali deve voltar no próximo ano. E já fez mais de 50 elepês, centenas de 78 rpm - todos identificados por um aspecto: a maior dignidade artística. xxx Hermínio Bello de Carvalho, 51 anos, poeta, animador cultural, produtor musical e que à frente do Departamento de Música Popular da Funarte ali realiza há 10 anos os melhores projetos culturais, tem sido o grande produtor de Elizeth. Juntos fizeram momentos antológicos - o show com o Zimbo Trio e Jacob do Bandolim (que foi quem lançou Elizeth em 1936) e Época de Ouro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (transformado em 3 elepês absolutamente perfeitos), "Elizeth Sobe o Morro" (onde, compositores como Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça e outros foram devidamente valorizados), "A Enluarada", "A Cantadeira do Amor" etc. Agora, após um intervalo fonográfico de alguns anos, Elizeth voltou a se encontrar com seu amigo, uma espécie de irmão musical, Hermínio, para gravar um novo elepê que, dentro de uma efeméride marcante, teria mesmo que ser um trabalho especial. Trabalhado com o requinte, carinho e amor que HBC coloca em cada uma de suas produções, realizou mais do que um simples disco, negro produto em vinil capturando momentos perfeitos de poesia & música. São dez canções - entre as quais antológicas músicas como "Valsa Derradeira" (Gereba e Capinam), na qual Elizeth fala da velhice ("Ai, quem me dera/Nesta saudade/A primavera da mocidade/Eu sou a mesma criança/Que nunca soube o que quis/Que se perdeu na esperança de um dia ser feliz".). Em cada uma das músicas de Elizeth, há aquela poesia, aquela profundidade, que a faz ser uma cantora eterna - identificada há meio século com os mais belos momentos ("Canção de Amor", "Nossos Momentos", para só citar dois exemplos) e aos quais, por certo, se acrescentarão agora novas canções como "Operário Padrão", do paulista Cesar Bruneti, que diz já em seu primeiro verso: Coração/Que trabalha no peito de um compositor Hoje eu vim te falar de motor pra motor Te contar o que se passa no peito pra fora... Como diz Ary de Carvalho, que possibilita, empresarialmente, o retorno de Elizeth num disco à altura de sua dignidade, feliz o Brasil por existir uma cantora como Elizeth. E, antecipando-se à sua voz nas rádios (isto é, se houver a mínima sensibilidade de programadores em substituirem o pior rock e o mais supérfluo som pelo canto da Divina) fazemos aqui hoje, este registro, na impossibilidade de, presente na Câmara de Vereadores, no Rio, aplaudir e beijar a Cantadeira do Amor - esta mulher-ternura que só tem espalhado emoções em suas canções iluminadas, e que voltará agora, ao ser ouvida, ao comparar o coração ao "operário-padrão" da letra de Cesar Brunetti, dizendo: O operário-padrão que fabrica emoções Aguenta coração E sustenta tua sina como um estandarte Se amanhã tu te calas de angina ou de enfarte Cantarão pra lembrar-te mais mil corações.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
14/08/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br