Em tempo de Blues
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de novembro de 1987
O boom jazzístico - com constantes edições tanto do que há de novo como tesouros do passado, através das excelentes coleções da CBS - o sucesso do Free Jazz Festival e, em termos locais, a aceitação que o Blue Note Jazz Clube obteve, provam que há um amplo mercado para a música instrumental. André Midani, um homem que sempre soube ver longe, sentiu isto e abriu as portas da WEA para o blues ter seu espaço no Brasil.
Afinal este ritmo criado pelos negros, desprezado durante anos e revalorizado por músicos brancos, tem influenciado roqueiros. Cazuza, Frejat e a novíssima Marisa Monte (a cantora revelação do ano, ainda sem disco na praça) são alguns exemplos.
A WEA, depois da coleção de quatro álbuns duplos que valeu por um verdadeiro curso de introdução ao blues, lança agora a série "Blues Anthology", uniformizada com suas capas iguais, trazendo no encarte todos os detalhes das contra capas originais, sempre muito informativas. Na frente, o número correspondente a ordem de lançamento.
Os três primeiros são John Lee Hooker, Muddy Waters At Newport e Big Bill Broonzy and Washboard Sam. O segundo pacote, já a caminho das lojas, trará Bo Diddley, Chuck Berry e Little Walter. Em seguida, outros intérpretes de um vasto catálogo que conta com nomes como Etta James (que recentemente se apresentou em São Paulo), Memphis Slim, Koko Taylor, Little Milton e Howlin Wolf.
Estes discos fazem parte do notável acerto da Chess Record, pertencente a WEA. O selo Chess está intimamente ligado com a história do blues. A gravadora foi criada pelos irmãos Leonard e Phil Chess, judeus-poloneses; que antes tinham se dedicado ao comércio de bebidas alcoólicas. O maior responsável pelo sucesso da gravadora foi Muddy Waters que, há 40 anos, fez algumas gravações para a Aristocrat, que viria ser origem da Chess.
Os irmãos Chess sentiram a força e a influência de Waters entre os músicos do Sul. E Muddy ajudou na escolha dos intérpretes. Concorrendo com a Chess surgiu a Modern, dos irmãos Joe, Jules e Saul Bihari que tinham em Ike Tumer (ex-marido de Tina Turner) o assessor na escolha de intérpretes e repertórios. A concorrência foi saudável. A Chess contratou músicos como Little Walter Willie Dixon, Eddie Boyd, Willie Nabon. E pouco depois, Bob Diddley e Chuck Berry, no começo do rock and roll. Teve ainda outro Bluesman da primeira linha: Sonny Boy Williamson.
O melhor da Chess Records é da década de 50. Como lembrou Carlos Castilho, no texto promocional preparado para a WEA, são dessa época os discos da Blues anthology agora editados no Brasil. Aliás, o consumo de blues está crescendo: a coleção Atlantic Blues superou as expectativas de venda. Os discos de Anita Baker tiveram ótima saída e a CBS está lançando os álbuns de Steve Ray Vaughan e Robert enquanto a Polygram apresenta Robert Cray - representantes mais modernos do blues.
Cada blue tem sua história. Cada um dos discos desta nova coleção permite sentir a beleza e a profundidade desta música de raízes negras e humanas. Salve a WEA por fazer chegar ao Brasil artistas que, até agora, permaneciam praticamente inéditos entre nós.
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