Geléia Geral
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de fevereiro de 1988
O marketing da CBS faz com que artistas chamados "nacionais", isto é, capazes de vender de Manaus a Porto Alegre, merecem figurar em seu elenco. Assim, os artistas regionais sobraram para outras gravadoras. Portanto, ao decidir lançar um novo cantor-compositor chamado Djalma Oliveira ("Merenguexá", dezembro/87), a multinacional deve ter visto méritos neste nordestino, com seus merengues, funks e outras diluições em torno do afro para vender bem. As dez músicas do elepê têm muito ritmo e embalo, dentro de uma linha que vem caracterizando a música que sai da Bahia: "Ganga Zumba" ("Bahia de Todas as Áfricas"), "Merenguexá", "Malgaxe-Êh", "Muzenza na Cor", entre outras faixas incrementadas.
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A Continental, que está apostando alto nos novos grupos e compositores baianos, traz agora os Novos Bárbaros ("Guerrilheiros Bárbaros"), octeto jovem, com uma bela crooner - Simone Moreno - que vem com um repertório alternando composições próprias, com composições de bandas da Boa Terra, com Paulinho Camafeu ("Bodas de Cristal"), Carlos Pita ("O Menino me Chamou") e Edil Pacheco ("Capoeira da Bahia").
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Nem só de novidades vive uma gravadora e assim, para quem já passou dos 40 anos e curte o romantismo, temos um reciclado Francisco Petrônio, 65 anos, que marcou época como seresteiro. Agora, o afinado cantor reaparece num elepê repleto de versões a partir do título: "Em Algum Lugar do Passado". As únicas exceções são "Tudo Passará" e "Aplausos" (Nelson Ned), pois no mais temos versões de boleros ("Cada Dia Mas", "Seguire Mi Camino", "Só Você", "Foste Minha num Verão", "Abraça-me", "Esta Tarde Vi Chover") e de músicas que o cinema popularizou, incluindo "As Time Goes By", "Smile", "Os Pensamentos Seus" (título que Alf Soares deu para o belo "The Windmills of your Mind", de Legrand / Bergman).
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Um retorno auspicioso: com um incrível balanço, chegando quase ao jazzístico, o Earth, Wind e Fire em "Touch the World" (CBS) está de novo na praça. Maurice White, produtor e co-autor da maioria das faixas demonstra estar em ótima forma, com muitas bolações - inclusive uma espécie de apresentação de algumas faixas, como em "System of Survival". Um disco para ser curtido com atenção.
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Outro exemplo de que a CBS está disposta a não perder o trem de sucesso dos novos baianos: lança o elepê "Garoto de Rua" com Missinho, ex-Chiclete com Banana e que no ano passado foi sucesso com músicas como "Felina", "Merengue Tropical", "Gata Cubana" e "Neóns dos Guetos", que dava título ao seu elepê de estréia na CBS. Agora, este guitarrista-cantor-compositor reflete a forma, com influências das mais diversas - salsa, merengue, rumba, em fusões com o rock. Do Caribe à África, uma musicalidade de agrado jovem. Uma faixa capaz de agradar os programadores das FMs se ganhar boa programação é o reggae-rock "Tá Sujeira", que não deixa de se inscrever na faixa do rock-protesto:
"A gente até parece que tem / Cara de otário / Já nasce devendo ao fundo monetário...". Há erotismo ("Sabor de Merengue", no qual fala "Me pega e me leva / Pra cama / Teu corpo me chama / Me ama, é prazer"), enquanto "Ouro de Orumilá" tem um certo clima romântico, mas com letra sapeca: "Ela diz que não quer, que quer / Que vai e fica / Nesse entra e sai / Sai não sai / Vai não vai / Bota mais, bem mais...".
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A cada mês aparecem novos intérpretes-compositores, e iniciando 88, temos um surpreendente Chris Rea ("Dancing with Strangers"). O moço tem muitos anos de estrada, pois em 1970 já integrava o grupo "Beautiful Loosers", que tinha na época David Coverdale (depois "Deep Purple"). Há 12 anos, já ganhava a definição de o artista mais promissor e aparecia ao lado de Elvis Costello e Bruce Springsteen. Mas só há 4 anos, com o compacto "I Can Hear our Hearbeat", estourava na Inglaterra e, depois, em outros países. Depois de um elepê ("Watersign") e uma excursão com Eric Clapton, discos de platina em vários países, chega agora também ao Brasil. Há quem veja-o como um cantor de blues - mas, no mínimo, é agradável e não abusa do instrumental eletrônico. O que já vale muito...
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Um bom duo vocal que vem do frio: Laban é a dupla formada por Leci Johnson e Ivan Pedersen, que se constitui na grande surpresa deste início de ano. Cantam de forma suave e agradável, aproveitando as potencialidades que a harmonização de vozes possibilita e mesmo recorrendo a um repertório pop fazem um elepê dos mais agradáveis ("Caught by Surprise", Mega/AllDisc/RGE). Não é sem razão que o Laban já ganhou até discos de platina com seus elepês anteriores (a dupla já fez três, cada um vendendo acima de 120 mil cópias - soma considerável para um país pequeno como a Dinamarca). Neste elepê de estréia no Brasil, destacam-se as faixas "Love in Sibéria" e "Caught by Surprise".
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