Implantando o Grammy Brasil
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de maio de 1988
Há dois anos que a festa de entrega do Grammy, instituída pela Academia de Artes e Ciências Fonográficas, nos EUA, em 1958, vem sendo apresentada, via televisão, também para o Brasil. Ainda sem o fascínio do irmão mais velho - o sexagenário Oscar (desde o final dos anos 60 acompanhado também pela televisão), o Grammy está fazendo com que o público conheça melhor a extensão de um dos setores mais ricos do show business - o discográfico, hoje com lançamentos simultâneos em todas as partes do mundo.
Independente dos aspectos de marketing da indústria cultural, o Grammy tem seu significado artístico e, para um artista, a simples nomination conta muito. Há dois anos, Flora Purin, que no ano passado já havia desbancado Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald como melhor cantora nos jazz poll das revistas Playboy e Down Beat, ganhou indicações ao troféu com sua gravação de "Vinte Anos de Blue". Não levou o troféu, mas a menção significou o seu prestígio.
Entre as centenas de escolhas de melhores que se fazem a cada ano - desde relações individuais até grandes rankings com as participações de (e) leitores/ouvintes, a premiação dos talentos que se destacam a cada período é ainda um parâmetro considerável.
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No Brasil, inexistindo entidades como a Academia de Artes Fonográficas, americana, ou a Academia Charles Coix, de Paris (que, por sinal, premiou há pouco o álbum do violonista Turibio Santos, interpretando a íntegra da obra para violão de Villa-Lobos), os eventos feitos até hoje tiveram repercussão restrita. E não foram poucos, pois desde os pioneiros tempos em que o crítico Claribalt Passos coordenava a escolha dos "melhores do disco" no início dos anos 50 - até a tentativa de nacionalizar o jazz poll da Playboy desenvolvida quando o jornalista Fernando Pessoa Ferreira era um dos editores da "Playboy" brasileira, foram muitos os esforços neste sentido. A própria Associação Brasileira dos Produtores Fonográficos, há dois anos, na euforia do Plano Cruzado, reorganizou a promoção Villa-Lobos, com categorias diferentes - entre as de maior vendagem e as indicações pela crítica. Infelizmente, como o Plano Cruzado II foi a pique, as vendas caíram, e a promoção acabou esvaziando-se pois, como disse na ocasião o idealizador do evento, advogado João Carlos Mueller, "não há nada para comemorar".
As escolhas feitas por publicações - seja a que, aqui em O Estado do Paraná, coordenamos, desde 1965 - ou as que têm por base os votos de leitores especialmente a faixa jovem, do qual a revista Bizz vem dando grande vitalidade, existem várias formas de aferição. Rastreadoras do que se faz em determinado período e que, por mais injustiças que aconteçam têm o seu significado.
Portanto, no momento em que um dos maiores grupos empresariais do Brasil, idealisticamente se propõe a criar um Grande Prêmio Nacional, realizado com os critérios mais honestos e independentes possíveis - como fez a Sharp, na iniciativa do jovem executivo (e compositor, é bom lembrar) José Maurício Machline, se deu um primeiro - e importantíssimo - passo para a criação de uma premiação que, alcance a curto prazo, a credibilidade e importância do Grammy.
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