Kawa, a saudade em branco e preto
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de janeiro de 1985
No 34ª Salão Paranaense de Belas Artes, foi pela primeira vez premiado um trabalho fotográfico. Constituía-se de duas fotografias, ambas focalizando a mesma paisagem, mas a um intervalo de 10 anos (1967/1977).
Na primeira, um casal e o filho, um cenário de belos pinheiros. No outro, a mesma família, a criança já crescida, e apenas dois solitários pinheiros.
Com esse trabalho profundamente ecológico, captado em duas fotos perfeitas Francisco Kawa Sobrinho foi o primeiro fotógrafo a ter premiação num salão de arte do Paraná. O mais interessante: era sua própria família nas imagens. A sensibilidade de registrar, em ocasiões diferentes, o mesmo cenário – porém devastado pelo homem, em sua beleza natural.
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Trágica ironia: um homem que tanto amava a natureza e que por isso mesmo se apaixonou pela Ilha do Mel, um dos poucos pontos do Estado ainda não (totalmente) devastados pela dita "civilização" – ali morreu no último Domingo. Mais do que a morte de um amigo e excelente profissional, o desaparecimento de Kawa retira de nossa convivência uma das pessoas mais sensíveis à natureza.
Em termos profissionais, Kawa deixou milhares de imagens do Paraná, que retratou em várias épocas, sempre com emoção e competência. Pioneiro na valorização de sua profissão, criando a primeira empresa especializada em fotos para audiovisuais, exposições, etc. (a Prisma, em sociedade com Jesus Santoro), Kawa jamais se descuidou de participar dos movimentos da categoria. Ainda agora, integrava o conselho diretor do núcleo regional de fotografia da Funarte e tinha muitos projetos para 1985.
Falar de Kawa é emoção e saudade. É memória em preto e branco de um amigo que deixa imagens coloridas de emoção.
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