Marketing extra
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de setembro de 1983
Como sempre acontece, mais do que um lançamento, um evento: "Extra", o novo disco(WEA)-show do baiano Gilberto Gil ocupa ha mais de um mês o espaço nobre da imprensa, rádio e televisão. Afinal, não é sem razão que antes de ser compositor e cantor Gilberto Passos Gil Moreira, 41 anos completados no último dia 29 de junho, foi o primeiro classificado num concurso de técnicos de marketing da Gessy-Lever em São Paulo. EIe sabe como e o que oferecer a um público exigente de modismos. Cantor de bela voz, bom instrumentista e, sobretudo, compositor de imagens e propostas sempre renovadas, Gilberto tem conseguido acompanhar o trem (azul?) das mudanças neste gigante voraz que é o mercado da MPB nas últimas duas décadas. Por isto mesmo, desde que houve a primeira apresentação, da fitas de "Extra", no RJ, para alguns jornalistas, Gil vem justificando seus posicionamentos: "Você quer ser importante ou ser feliz?". Explica-se: a música, para ele, tem que passar pelo filtro da emoção e não 'so da cabeça. Traduzindo-se: Gil abdica do fardo pesado de ter de ser um dos grandes da MPB com todas as cobranças de posturas que esta situação exige em troca de um mergulho nas coisas que , aparentemente são prosaicas, simples, às vezes banais. Assim Gil assumiu o "funk" ao se unir a Jimmy Cliff para uma excursão nacional há alguns anos. Assim como numa faixa de "Extra" ("Mar de Copacabana") mostra as heranças da Bossa Nova, citando a obra-prima "Barquinho" (Menescal e Boscoli, arranjo de Walter Wanderley). Polêmico, resgata a imagem de "O Veado" (fez a música porque não concorda com a associação deste animal com o homossexual). Em tranquilidade spiritual - Flora, a nova esposa familiarmente vende sua filha, Nara, estreando como vocalista numa bela ingênua canção tipo Jovem Guarda ("Lady Neyde", parceria com Antonio Risério) , Gil volteia do romântico ("A Linha e o Linho", "Preciso de Você") e afro ("É Lá Poeira") ao irônico no "Punk da Periferia" e, como uma antecipada resposta a quem não gostar, ele exclama em "Funke-se Quem Puder": "É imperativo dançar/Sentir o ímpeto, jogar as nádegas/Na degustação do ritmo". Se não fosse o grande artista que é, Gil ainda estaria mais rico como técnico de marketing.
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