Mensagens de Paz & Otimismo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de janeiro de 1988
Embora os tempos bicudos se reflitam não só numa redução dos presentes de Natal, mas também nas mensagens de fim de ano, uma idéia que poderia ser encampada por alguma instituição seria a de reunir as mensagens mais originais que circulam em cada dezembro. Mesmo com toda a padronização de mensagens vendidas pela própria EBCT ou nos cartões que tem fins beneficentes - especialmente os da UNICEF e da Associação dos Pintores sem Mãos - há ainda quem procura, na simplicidade ou com sofisticação, personalizar seus cartões de Natal.
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Evidentemente que o universo é amplo e só de um esforço geral se poderia capturar mais interessantes para uma futura exposição, mas, pouco a pouco, se poderia ter um bom acervo. Por exemplo, há mais de uma década, o publicitário e escritor Jamil Snege, em momento da maior inspiração, escreveu um texto obra-prima ("Perdeu-se um menino chamado Jesus"), que a Múltipla Propaganda & Pesquisa, agência para a qual trabalhava na época, transformou numa mensagem que muitos conservam como peça de decoração.
Este ano, a mensagem da Múltipla (agora associada a Opus), foi bem mais singela, mas significativa: inspirada no "Origami", milenar costume oriental, um texto brilhante diz que "um pedaço de papel onde se põe arte. E, como a arte sempre revela seu dom mágico, dá asas ao papel e cria formas de cegonha, a mensagem da renovação. No Oeste do planeta, é reconhecida como a arte que traz filhotes. A Leste, porém, onde nasceu a tradição, tem sido, desde os primórdios, um símbolo de esperança. Diz a lenda que é preciso um como este para se ter mil. E mil para se ter tudo".
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Suetônio Muralha, um poeta português que viveu o final de sua vida em Curitiba, teve dois de seus belos textos aproveitados em mensagens de Natal. Uma, "Mensagem para Beatriz", utilizado pelo arquiteto Key Imaguire, sempre original em suas produções. Outro texto, "Esse Congo que foi Belga", na mensagem de sua viúva, Helen Anne Buttler Muralha, médica, também poeta e que para evitar que a obra de seu marido se perca, criou uma fundação com o seu nome.
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Lincoln Félix, fotógrafo que passou dois anos na Espanha e hoje tem um dos melhores estúdios de fotografia da cidade, foi buscar em seus arquivos uma foto de um valenciano marcante para a reprodução em seu cartão de Natal, com uma mensagem simples mas sincera: "Papai Noel existe, só que tirou a barba. Antes que a gente esqueça 88 está aí".
O publicitário Ney Alves de Souza, sempre criativo, foi quem sugeriu a Campelle - Produtos Naturais, uma mensagem (e brinde), a partir de uma muda de macieira, enaltecendo as delícias da maçã, "bonita desde a flor, saborosa, nutritiva, aproveitável de mil maneiras como alimento e, capricho da natureza, como deliciosa fragrância para perfumes e cosméticos".
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Os políticos raramente se preocupam em personalizar suas mensagens, limitando-se as frases standards. Uma exceção é o deputado Rafael Greca de Macedo, que, individualmente, escreveu e endereçou mensagens pessoais as suas (centenas) de amigos. A vereadora Rosa Maria Chiamulera procurou o humor em seu cartão, dizendo que "Se você está desanimado com a inflação, descrente dos políticos e preocupado com a radiação... é Natal - época de renovar a fé e a esperança e praticar a benção do perdão. O Deus Menino superou a fome, a incompetência, a hipocrisia, o egoísmo e a ingratidão. Pense nele e devolva a paz ao seu coração".
O grupo teatral Lusco-Fusco buscou uma frase otimista - "Nada se reduz ao tempo. Tudo está intensamente vivo". O colunista Ruy Barroso, do "Jornal do Estado", une o Natal a política: sua mensagem lembra que é candidato a vereador em 1988.
Bastante original foi o advogado Francisco Souto Neto, coordenador do Salão Banestado de Artes Inéditas: encomendou ao seu amigo Genaro, cartunista, uma charge em que aparece ao lado de sua mãe, dona Edith, e do mascote da família, o cachorro Quincas, legítimo vira-lata importado de Nova Iorque há dois anos e o xodó no Solar dos Soutos.
O arquiteto Omar Akel encontrou uma forma familiar e bem espiritual para saudar o ano novo. Bisneto de Gibran Khalil Gibran (1889-1931), satisfeito com a criação de uma praça em Curitiba com o nome do filósofo libanês, editou um poster com belas palavras de Gibran:
"Teus filhos não são teus filhos, são filhos e filhas da ânsia da vida por si mesmo.
Não vem de ti, mas através de ti, e embora estejam contigo, não te pertencem.
Podes dar-lhes teu amor, porém não teus pensamentos, porque ele têm seus próprios pensamentos.
Podes abrigar seus corpos, porém não suas almas, porque eles habitam a mansão do amanhã, que não podes visitar, nem mesmo em sonhos.
Podes esforçar-te em ser como ele, porém não procures fazê-los semelhante a ti.
Porque a vida não retrocede, nem se detém no ontem.
Tu és o arco do qual teus filhos, como flechas vivas são lançadas.
Deixa que a inclinação, em tua mão de arqueiro, seja para a felicidade".
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Os irmãos Petrim, das Livrarias Curitiba, foram buscar um dos belos contos de O. Henry (William Sidney Porter, 1862-1910), sobre o tema natalino, para o cartão da empresa.
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Muitas outras belas mensagens foram elaboradas para saudar o Natal a chegada de 1988. A todos os amigos que nos enviaram, muito obrigado! E, nesta primeira coluna de 1988, parte de nosso espaço dedicamos a estas palavras de amor, otimismo e esperança. Porque só com muito otimismo e esperança para enfrentar mais um ano neste final de milênio...
LEGENDA FOTO 1 - Família Souto: mensagem com humor.
LEGENDA FOTO 2 - Omar Akel: palavras do bisavô Khalil Gibran.
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