"Muito Prazer" no retorno de Neves
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de julho de 1980
Um importante - ou a menos curioso - filme nacional em exibição na cidade: << Muito Prazer >> (Rivoli, 4 sessões, censura: 16 anos). Depois de dois longas metragens (<< Memórias de Helena >> e << Lúcia McCartney >>, inspirados em textos de Maria Helena Morley e Rubens Fonseca, respectivamente) e muitos curtas metragens, David Neves retorna << com certa voracidade >>, como confessa num texto que a Embrafilmes distribui, finalmente. Diz Neves que a idéia do filme já existia ha uns quatro anos, mas, no Brasil, para se filmar << é indispensável uma regularidade profissional: um diretor que se dedica a outros afazeres cinematográficos é considerado um ex-cineasta: a continuidade funcional tem muito a ver com certa << patronização >> do trabalho, a versatilidade sendo condenada peremptoriamente >>.
A idéia de << Muito Prazer >> é bastante interessante 3 jovens arquitetos e 3 pivetes trabalham frente a frente num cruzamento de tráfego na Zona Sul do Rio de Janeiro. Do seu ponto privilegiado, os arquitetos observam a atividade diária dos pequenos vendedores ambulantes e este, ao mesmo tempo, são observadores dos arquitetos, num processo de mútuo << voyeurismo >>. A troca é a tônica central do filme. Uma alta tensão vital proveniente dos pequenos párias sociais, colide e corre em linha paralela com os conflitos domésticos e existenciais dos arquitetos. As revelações se sucedem mais ou menos dentro das expectativas. Um bom elenco - Ítala Nandi, Antônio Pedro, Cecil Thiré, Otávio Augusto, Vera Barroso, Carlos Kroeber, e a fotografia de Jom Tob Azulay (o diretor de << Os Doces Bárbaros >>, em exibição no Condor) tornam recomendável a visão deste filme.
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