Nordestinos ou Americanos?
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de maio de 1976
Qual é a diferença entre um disco como "Country Matters" (CBS, 137920, abril/76) ou dos LPs de Severino Januário, Trio Mossoró ("30 dias de Forró"), Zé Calixto ("Baile em sua Casa"), acordeonista Luizinho ( "Vamos Dançar Forró"). Festa na Roça (diversos artistas) ou "Cantiga do Povo" (Jair Alves/Manoel Serafim), todos lançamentos da etiqueta Tapecar, que ao lado de seu catálogo urbano, apoia-se também para vendas no fiel púlbico rural ou suburbano? A pergunta tem validade. Muita, porque a garotada que curte o som rural de Dan Fogelberg, Loggins & Messina, Michael Murphy, Billy Swan, Larry Gatlin, Brenda Smith, Charlie McCoy ou Joe Stampley, no aparentemente sofisticado "Contry Matters", jamais teria disposição de ouvir a música rural brasileira. Mas aceita, compra e admira o caipira americano - com seu estilo próprio e de valor para aquele país, não para nós. Sem falsos barrismos ou radicalismo estilo Tinhorão, acreditamos que se um LP, "Country Matters" - que a poderosa CBS editou porque existe um forte mercado - vale como informação e um tipo de música que se faz nos EUA, uns também tem (grande) validade, a música de acordenistas simples como Luizinho, Zé Calixto e Severino Januário. Sem a sofisticação/informação de seus irmãos-colegas norte-americanos, com instrumentos bem mais subdesenvolvido (embora de nobres tradições) do que o banjo ou até a guitarra elétrica que já se ouve nos caipiras americanos, os nossos artistas do povo, oferecem um trabalho sincero e honesto, com seus forrós, de gosto brasileiro. E, no momento em que a Tapecar se dá ao trabalho de colocar em seu suplemento, artistas nordestinos e simples como estes, a fábrica de Manolo merece toda nossa admiração - tão grande quando laça um LP com o mestre Candeia, legítimo representante dos compositores dos morros cariocas, ou com o melhor jazz americano. Afinal, é preciso saber ouvir e entender o nosso som.
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