O bom som da Árvore
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de abril de 1975
Aplaudidos, infelizmente, por reduzido público, um grupo de jovens de Londrina (alguns já radicados em São Paulo), apresentaram no último fim-de-semana, no Teatro do Paiol, um espetáculo que revitaliza as esperanças no som que se faz no Norte do Paraná: "Música Nova/Coração de Árvore". Estreado em Londrina, há dois meses (dias 31 de janeiro, 1º e 2 de fevereiro/75), o espetáculo dirigido pelo engenheiro e compositor Robinson Borba, 24 anos, é uma demonstração de vitalidade e talento, com garotos na faixa etária de 17/23 anos, apresentando músicas do melhor nível. Apesar das reconhecidas influências (salutares) de Milton Nascimento, Maria Bethania e Gilberto Gil, os oito integrantes do grupo demonstram muita personalidade e garra, ao longo de 25 músicas próprias, com às quais sustentam as duas partes do espetáculo - que em breve estará sendo mostrado em São Paulo.
Embora o diretor Robinson Borba tenha concebido um espetáculo horizontal, numa espécie de "cooperativa artística" a fim de que não houvesse estrelismos, a vocalista, violinista e compositora Elite (Eça Medeiros), 23 anos, paulista da Capital, acaba tendo um natural destaque. Executando também guitarra, violoncelo, baixo e percussão, Eliete é uma mini-show woman, da qual muito se ouvirá falar. Aos 16 anos, vencia um concurso colegial com uma música "Momentos Maus" e a partir de então vem se destacando em várias mostras amadoras, mas agora inicia um profissionalismo, inclusive atuando em casas de samba na noite paulista. Alta, rosto marcante, lembrando ao cantar a Maria Bethania de uma fase intermediária, Eliete é uma das sustentações do espetáculo. Interpretando suas próprias composições, mostra desde construções avançadas (como "Tática") até preocupações ecológicas ("Abril") e encerrando o espetáculo com uma música sintética, amarga, do pianista Arrigo Bernabé, 23 anos, londrinense, ex-estudante de arquitetura (atualmente cursando Comunicações na USP); "Lástima". De costas para a platéia, Eliete clama, num grito desesperado: "Olha/desculpa/eu não cantar/mais prá você/é que também/com tanta coisa/acontecendo/eu não consigo mais falar de amor."
Arrigo Bernabé, ao piano, tem solos marcantes, em especial o Tema, com o qual abre a segunda parte do espetáculo. Itamar Assumpção, 25 anos, paulista do Tietê, em Arapongas desde os 9 anos de idade, irmão da atriz Denise e do radialista Narciso - ambos já conhecidos do público curitibano, sozinho ou em grupo, mostra uma série de composições, com nítidas influências de Gilberto Gil: "Como Vai Essa Força", "[Chega] de Conversa Mole Luzia", "Peço Perdão". Robinson Antonio Vieira Borba, responsável pelo espetáculo, longo curriculum artístico, é autor de alguns dos números mais experimentais do espetáculo, como "Rita Vampiro", "Barato Voador" e "Mente Mente".
Honestos em suas proposições musicais, procurando uma linguagem própria - o que não é fácil de ser encontrada dos descaminhos de nossa MPB - os integrantes do grupo "Coração de Árvore" conseguiram resultados positivos neste espetáculo, provando que em Londrina já existe um sólido núcleo musical. Vamos ver os resultados que Paulinho Vitola consegue na I Mostra de Compositores Paranaenses, que vem ensaiando, madrugada a dentro, com estréia programada para a próxima sexta-feira, no Paiol.
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