O canto do Interior
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1977
A temporada com a dupla Tonico & Tinoco (os irmãos João Salvador e José Peres) foi tão bem que Leonel Rocha, agora um audacioso empresário de espetáculos sertanejos, animou-se a trazer a cidade, numa das próximas semanas, uma dupla de artistas do Norte do Estado, que está em escalada nacional, dentro deste gênero: Milionário e José Rico (Romeu Januário de Matos e José Alves dos Santos, respectivamente). Atuando muito na região Norte/Nordeste, a dupla deixou há 3 anos, um trabalho anônimo, restrito a quermesses e festas regionais para se tornar uma das duplas mais lucrativas para a Chantecler, onde já fizeram cinco elepes, o último dos quais lançado há poucas semanas.
O número de duplas sertanejas, principalmente no Norte do Paraná, que vem gravando, não mais em etiquetas pequenas, autofinaciando seus discos, mas sim, disputados por fábricas, como Chantecler, Continental e CBS, que investem em artistas rurais, vendo suas possibilidades comerciais aumentando. A dupla Milionário e José Rico, por exemplo, foi formada em 1960 e somente 10 anos depois gravou o primeiro disco, pagando inclusive a produção, que na época ficou em Cr$ 2.400,00. Zé Rico (José Alves dos Santos) é paranaense de Terra Rica e antes de encontrar seu parceiro, fez dupla com Caarapó, participando do grupo também o acordeonista Andrezinho.
A musicóloga Roselys Velloso Roderjan, secretária executiva da Comissão Estadual de Folclore, professora na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, está animada a promover, em 1978, um estudo de profundidade sobre a música rural no Paraná. Autora do único livro sobre a Música no Paraná, obra que por sua importância há muito mereceria ser reeditado e ampliado, desenvolvendo um grande trabalho no setor, Roselys entende que é chegado o momento de, sem preconceito, procurar (re)pensar e (re)entender os artistas sertanejos, em sua simplicidade, em seus valores - principalmente quando começa a se notar uma crescente descaracterização, fenômeno aliás observado pelo sociólogo Waldenyr Caldas, em "Acorde na Aurora" (Companhia Editora Nacional, 1977), obra exaustivamente registrada nesta coluna.
Falando em Roselys, ela toma posse na sexta-feira, às 17h30min, na cadeira nº 11 da Academia Paranaense Feminina de Letras. Como a patrona da cadeira é Guilhermina da Cunha Lopes, compositora e musicista, sobrinha de Brasílio Itiberê da Cunha. Roselys passou os últimos dias, pesquisando sua vida, reunindo material tão interessante que pensa em aproveitar num futuro estudo. Se existissem mais pessoas como Roselys a nossa memória musical não seria tão fraca.
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