O Clube do Choro de Londrina
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de maio de 1976
Sábado à noite, no 11 andar do edifício Júlio Fuganti, onde, com entusiasmo e amor, Cleto de Assis, está instalando o "Palácio da Cultura" , foi criado, oficialmente, o Clube do Choro de Londrina. Embora nascendo depois dos clubes do choro do Rio de Janeiro e Brasília - e do musiclube Ernesto Nazareth, também do Rio - a entidade musical londrinense há muito vinha sendo planejada, anteriormente ao surgimento de suas congêneres. Edilson Leal, 36 anos, 10 de Londrina, um jornalista e advogado baiano que defende a MPB com a mesma firmeza com que atua no foro, fazendo advocacia criminal Baldy, 35 anos, professor da Universidade de Londrina, co-autor de 5 livros sobre sua especialidade (doenças infecciosas e tropicais), há vários meses, curtindo os melhores choros de Jacb, Nazareth, Pixinguinha e outros admiráveis criadores, projetavam uma entidade, capaz de reunir músicos e apreciadores da música tradicional.
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Mas de 50 pessoas estiveram presente a sessão de fundação do clube. Ao invés de atas, protocolos e discursos houve "choro" do mais alto nível, interpretado por músicos extraordinários, amadores que amam esta legítima forma de expressão cultural e que apoiam a idéia. Cabeção, 47 anos, representante comercial e executante do bandolim com rara maestria, sintetiza numa fase o potencial musical do clube:
"Norte do Paraná existem dezenas de excelentes e instrumentistas, capazes de formarem excelentes grupos de chorões. Só que estão escondidos, tímidos, afastados por não terem chance de mostrarem sua música. Estão que nem tatu na toca: só puxando pelo rabo é que aparecem!
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A descaracterização musical urbana e rural, com a influência supérfluo som pop (nacional e estrangeiro), anestesiando a juventude, faz com que, realmente, instrumentistas de grande valor, executantes de violão, bandolim, cavaquinho, pandeiro, flauta, etc..; recolham-se a um anonimato, frente à impossibilidade de terem seu trabalho apreciado com amor. Para estimular esses músicos e procurar despertar nos jovens o amor pela música brasileira é que Edilson, Baldy e Cleto de Assis, criaram o Clube do choro, que descompromissadamente, sem burocracia, mas com entusiasmo - em sessões semanais, de princípio aos sábados, tem muito a oferecer. E, inclusive há duas grandes propostas de Cleto: criar um Regional, que poderá ser oficializado pela Universidade de Londrina e promover, dentro de alguns meses, o I Encontro Nacional do choro, reunindo as maiores expressões do gênero de todo Brasil.
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