O grande filme de Renoir
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de fevereiro de 1977
A exibição de "A Grande Ilusão" (Cinema I, somente hoje, às 14, 20 e 22 horas) adquire um especial significado para quem sabe apreciar o cinema como manifestação artística: trata-se da (rara) possibilidade de assistir em tela larga afinal as cópias dubladas exibidas na televisão não dispõe da mesma qualidade original) um filme que, há 40 anos, vem sendo apontado pela crítica internacional como um dos mais belos momentos do cinema.
Com uma história ambientada durante a I Guerra Mundial o cineasta Jean Renoir (Paris, 1894) fez uma análise dramática das modificações sofridas pelas classes sociais com o conflito que se estendeu por quatro anos (1914-1918), encontrando-se no filme uma superposição de temas que se enriquecem e conferem a indiscutível categoria de obra prima do cinema francês na década de 30. É uma crônica sobre os campos de concentração alemães, a vida dos prisioneiros e suas tentativas de fuga, assim como os reflexos da guerra na população civil, de diferentes classes sociais e a decadência de uma elite condenada a desaparecer. Algumas seqüências são incluídas pelos historiadores entre os mais belos momentos do cinema: a representação teatral que os prisioneiros franceses e ingleses organizam e que termina com o canto da "Marselhesa", e os prisioneiros contemplando através das vidraças os exercícios dos soldados alemães. Um filme, enfim, repleto de momentos belíssimos, de uma mensagem de paz e amor - ironicamente realizada apenas dois anos antes de eclodir a II Guerra Mundial, ainda mais trágica do que o primeiro conflito.
O roteiro de "La grande illusion", foi desenvolvido pelo próprio Jean Renoir, em colaboração como Charles Spaak (Bruxelas, 1903), a fotografia foi de Christian Matreis, Jean Borgoin e do sobrinho de Jean Claude, (Paris,1914). Como assistente de direção trabalhou Jacques Becker (1906-1960), que a partir de 1942, com "Dernier Atout" se lançaria a realização.
A trilha sonora foi criada por Joseph Kosma (1905-1969), compositor húngaro, que deixou uma imensa obra, muitas músicas receberam letras de Jacques Prévert, Aragon, Sartre etc. E, finalmente o elenco de "A Grande Ilusão", oferece oportunidade de assistir no auge de suas carreiras, às antológicas atuações de Jean Gabin (1904-1976), Erich Von Strohein (1885-1957) e Pierre Fresnay (1789/1975), aparecendo no elenco de suporte os melhores intérpretes da França, na época, como Sylvain, Jean Dasté, Gaston Modot, Dalio, Carret, Michel Salina e Claude Sainval.
Amanhã, no mesmo cinema, outro clássico que teve, se não nos enganamos, uma última projeção em Curitiba, há exatamente 16 anos em cópia 16 mm, numa frustrada tentativa de cine-clubismo na Bibliotéca Pública: "A Bela e a Fera" (La Belle et La bête), 1946, de Jean Cocteau (1889-1963), Poeta e cineasta bissexto, que embora tenha realizado apenas 6 filmes ao longo de 30 anos (le sang dún poete, 1930; A Bela e a Fera, 46; "Les Parents terribles", 48; "Orphée", 50 e "Le testament d'Orphée", 1960), é citado em todas as enciclopédias do cinema e foi o principal responsável pela projeção do ator Jean Marias (1913), intérprete de A Bela e a Fera".
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