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Aramis

O solo de Gilson, jazz com Guilherme e piano romântico

Verdade seja dita: independente do (inegável) talento de Ivan Lins, muito de seu sucesso deve ser creditado a Gilson Peranzzetta. Pianista, arranjador e fiel amigo de Ivan, há mais de dez anos que Gilson é fundamental para os discos que o autor de "Madalena" tem gravado. E não só Ivan Lins, mas dezenas de outros cantores(as) devem muito a Gilson Peranzzetta, que formado entre os melhores instrumentistas da geração surgida na década de 70, finalmente tem um elepê-solo onde pode mostrar não só a sua excelente versatilidade instrumental como também o seu lado de compositor - embora, ao longo destes anos, Ivan já tenha desenvolvido com ele algumas boas parcerias. Produção independente (solo), distribuída pela Imagem, do bravo Jonas Silva, "Paisagem Brasileira" é, desde já, um dos melhores álbuns instrumentais do ano. Dividindo algumas faixas - como "Cheia de Luz", "Paisagem Brasileira" e "Na Rota do Sol", com a participação de músicos perfeitamente identificados ao seu estilo - como o percussionista João Cortes, o baixista Luizão Maia, o saxofonista e flautista Ricardo Pontes e o guitarrista Flávio Fontenelli - Peranzzetta desenvolve temas marcantes e envolventes. Sente-se nas oito composições deste álbum (apenas três em parcerias com Chico Curzio: "Cheia de Luz", "Como o Verão" e "Caravana de Ciganos"), um artista amadurecido, pleno e seguro. Peranzzetta fez bem esperando o momento certo de realizar um trabalho de solista-compositor. Sem buscar recursos eletrônicos desnessários, tendo a emoção como mola propulsora e inclusive incluindo na faixa final - "Cantos da Terra", um terno coral infantil (Renata Petri, Simone, Leonardo e Bruno), Gilson nos traz um momento dos mais significativos em termos instrumentais. O JAZZ DE GUILHERME - Gravado há quatro anos, em Copenhague - e lançado no Brasil já há dois anos pelo Estúdio Eldorado, o elepê que o pianista Guilherme Vergueiro fez ao vivo no International Jazz Montmartre, na Capital dinamarquesa, está entre os bons discos de jazz com artistas brasileiros à disposição do público. Filho de um dos homens que mais conhece música no Brasil - Carlos Vergueiro, diretor artístico da Rádio Eldorado e irmão do talentoso (mas imerecidamente esquecido) Carlinhos Vergueiro, Guilherme tem desenvolvido sua carreira mais no Exterior do que no Brasil. Já morou muitos anos nos Estados Unidos e na Europa e atualmente tem acompanhado sua prima, a atriz Maria Alice Vergueiro, em "Lírio do Inferno", belíssimo espetáculo de canções e poemas de Bertold Brecht, apresentado, aliás, há poucas semanas no auditório da Reitoria. Em 21 de setembro de 1982, acompanhado pelo violonista Nicolai Gromin, baixista Mads Winding e percussionista Chuim (Luís Carlos de Siqueira), gravou quatro temas próprios ("Choro Bop", "Cabeça Dura", "Saudades de Você" e "Viva"), num elepê que mereceu comentários entusiásticos na Europa. Jens Lohmann, no jornal "Information", de Copenhague, escreveu: "Vergueiro será, sem dúvida, um dos grandes nomes da música brasileira e do jazz. Sua música em certos aspectos faz lembrar a de Tania Maria, mas contrário à sua compatriota impulsiva, Vergueiro é um músico rigidamente disciplinado, que não deixa nada para o acaso". UM PIANO AO CAIR DA TARDE - Um dos programas de maior popularidade na excelente Rádio Eldorado, em São Paulo, é "Um Piano ao Cair da Tarde", no qual são focalizados grandes intérpretes ao teclado com repertório soft. A idéia desta programação foi transferida pelo sempre atento Aluízio Falcão para uma das mais bem sucedidas coleções do Estúdio Eldorado, que, reunindo bons pianistas e repertórios nacional e internacional, já conta com vários volumes editados. Por exemplo, o quarto volume internacional trouxe as pianistas Marina Brandão com os clásicos "Stormy Weather", "Poinciana" e "New York, New York". Já Eliane Elias, tecladista que há dois anos conseguiu fazer sucesso nos Estados Unidos e ser até capa da "Down Beat", pode ser ouvida em dois temas contemporâneos e marcantes: "New Warrior" (Bobby Lyle) e "Dolphin Dance" (Herbie Hancock). Menos conhecidos, mas igualmente harmoniosos e agradáveis são Roberto Bomilcar ("Adios Nonino" e "Angel Eyes") e Didi Mareschi, este com três temas especialíssimos: "Lullaby of Birdland" (George Shearing/ B.Y.Foster), "The Duke" (Dave Brubeck) e "Take Five" (Paul Desmond). No volume 4 da série nacional de "Um Piano ao Cair da Tarde", temos Dick Farney, mostrando todo seu romantismo com momentos ternos como "Copacabana", "Carolina" e "Não Tem Solução". Amilton Godoy preferiu já Dori Caymmi ("O Cantador"), Baden Powel ("Lapinha") e um pouquíssimo conhecido tema de João Gilberto: "Acapulco", reminiscência da fase em que o papa da Bossa Nova residiu no México. Três outros tecladistas paulistas também estão neste lp: Mozar Terra ("Da Cor do Pecado" e "Das Rosas"), Mané Leão ("Constelação" e "Canção do Nosso Amor") e Orlando Martins ("Tristeza de Nós Dois" e "O Bilhete").
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
26/10/1986

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