Login do usuário

Aramis

O som do fim de noite

Confirmando-se o que havíamos previsto há duas semanas: um modestíssimo bar, localizado na área mais boêmia (da pesada) desta cidade começa a se transformar no must musical da temporada. A excelência da música ao vivo que o pistonista Saul está aglutinando em seu "Trumpete's Bar" compensa a falta de ventilação (que falta faz um ar condicionado ou, no mínimo, um exaustor!) e o espaço comprimido. Os melhores músicos da cidade - aqueles que são obrigados a fazer música comercial em ambientes tradicionais, para garantir o pão nosso de cada dia - se descontraem ao chegarem ao Trumpete's e ali, ao lado de Saul e de Henrique, o excelente guitarrista (único profissional contratado) - deslanchando jam sessions que esquentam a partir das 3 horas da manhã, prolongando-se até o alvorecer. xxx Além da música instrumental, também bons vocalistas da noite estão aparecendo para canjas especiais. Na última sexta-feira, com um grupo básico em que se destacavam além de Saul e Henrique, também o saxofonista Orlando Comandulli e Maurici - fazendo percussão - o cantor Pimenta (Joca Camargo, paranaense de Guaratuba, 22 anos), mostrou repertório bossanovista, em interpretações de muito feeling. Sambistas, boleristas e milongueiros que profissionalmente atuam em casas noturnas, ao encerrar suas jornadas de trabalho, reúnem-se espontaneamente no Trumpete's para fazer aquilo que nem sempre podem nos ambientes dos quais são contratados: cantar um repertório não convencional. O Trumpete's Bar, inaugurado há apenas três meses, entra assim na esfera do comportamento da cidade como um ponto de reunião musical - talvez de efêmera duração, mas, tal como no poema de Vinicius de Moraes, intenso enquanto dure. Com um detalhe: a incrível democracia do público - onde convivem apreciadores de jazz, jornalistas e intelectuais, boêmios históricos e, a partir das 4 horas da manhã, as moças da chamada vida alegre - em seus vestidos de lantejoulas, que saindo do Metrô e outras casas noturnas nas proximidades, vão ouvir a música que se faz no Trumpete's. E passam, assim, a acrescentar um novo lado cultural a sua formação: o gosto pelo bom jazz. xxx A tendência agora é o endereço atrair também soçalaites, que após recepções black-tie, gostam de conhecer os chamados "ambientes diferentes". Repetindo-se, 20 anos depois, aquilo que caracterizava o hoje careta Bar Palácio, nos áureos anos 50/60: a integração da boêmia da pesada com a então conhecida sociedade curitibana. Por outro lado, por sua característica de bar que só fecha depois das 8 horas da manhã, o Trumpete's realiza um projeto que o ex-letrista e hoje costureiro Hector Valentim (Heitor Gurgel do Maral Valente) planejava há muito: abrir um bar que só começasse a funcionar às 3 horas da manhã. Com o apropriado nome de "Último Recurso".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
13
10/01/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br