O superfestival das artes em Nova Iorque
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de fevereiro de 1988
Nova Iorque não é mais aquela metrópole do sonho distante - imagem apenas em filmes ou nas canções de Rodgers & Cole Porter. Mesmo com o dólar ultrapassando os três dígitos as viagens para a "Big Apple" cada vez mais entram no cotidiano de segmentos (ainda que privilegiados financeiramente) de brasileiros de muitos Estados e, assim, notícias de quem esteve - ou irá - para aquela cidade já começam a se tornar tão quotidianos como se fosse registros de viagens ao Rio ou São Paulo.
Assim, Nova Iorque - como Londres, Paris ou outras cidades iluminadas pelo fascínio da cultura, artes & shopping justifica, cada vez mais, a criação de esquemas que motivam uma população flutuante de milhões de pessoas. E se a infra-estrutura cultural é, em si, já fabulosa, a criatividade de instituições - públicas e privadas - funciona a mil para que novos eventos aconteçam.
Exemplo desta filosofia é "The First New York International Festival of the Arts", programado para 11 de junho a 11 de julho, reunindo nada menos que 350 performances na área da música, dança, teatro, filme e televisão "do século XX".
Um suplemento colorido, encartado na maçuda edição do "The New York Times", há apenas duas semanas (domingo, 14/02/88), detalhando a programação, faz com que se fique com água na boca, culturalmente falando, pelo banquete pantagruélico do que pode ser servido de mais atraente a paladares sofisticados em termos artísticos. Pena que até agora as imbecis agências de viagens, raramente dirigidas por executivos de maior visão cultural, não tenham se ligado nas potencialidades que uma promoção desta envergadura poderia motivar para a venda de pacotes destinados a uma faixa específica de clientes. Só que nestas alturas, 15 dias após o lançamento da programação, pelo menos 50% dos eventos principais já estão exibindo o cartaz "sold out"- ou seja, lotações esgotadas, pois a programação montada realmente é para ter os tickets disputados a tapa.
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Na área da música, um frase define a amplitude da programação que ocupará os maiores e melhores espaços culturais da Big Apple - os múltiplos auditórios do Lincoln Center, American Place Theatre, Apple Cort Theatre, Bargemusic, The Majestic Theatre, e The Opera House da Brooklin Academy of Music, Carneggie Hall e Weill Recital Hall, além de igrejas, ginásios e, naturalmente, os imensos espaços verdes do Central Park, com as audições gratuitas. A frase é: "um evento para capturar o espírito artístico do século".
A programação musical inclui concertos de orquestras como a de Chicago, Montreal, Nova Iorque (naturalmente), Filadelfia, St. Louis, The London Sinfonieta, The Chamber Music Society of Lincoln Center. Programações que vão do clássico ao popular - Cole Porter, Richard Rodgers, Stephen Sondheim, com especial destaque para o jazz - que já tem, aliás, em julho, o consagradíssimo "Kool Jazz Festival" - consolidado ao longo de três décadas.
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Só para dar uma idéia da riqueza artística da área jazzística, entre os dias 24 de junho a 3 de julho, somente no Avery Fischer Hall, do Lincoln Center, estão programadas apresentações de 47 dos maiores nomes do jazz contemporâneo - entre os quais Dave Brubeck, Ron Carter, Miles Davis, Gil Evans, Herbie Hancock, Freddie Hubard, Wynton Marsalis e tantos outros que ocupariam toda esta coluna.
Na programação dos concertos, várias primeiras audições mundiais: já no dia 13 de junho, a New York Philarmonik, regida por Zubin Mehta, faz uma primeira apresentação da peça de Zeilich, seguindo-se concertos com regências de nomes como Pierre Boulez e Luciano Berio (dois dos maiores nomes da música contemporânea), paralelamente a vinda de grandes nomes da música contemporânea, paralelamente a vinda de grandes nomes de países distantes - como Asha Bhosle, da Índia.
Na área da dança, serão nada menos que 11 "premieres" mundiais, de companhias de várias partes do mundo - Frankfurt Ballet, entre as que terão maior destaque - com coreografias e direções de George Balanchine, Pina Baush, Mece Cunningham, William Fortyth e Jerome Robbins (o grande responsável pelo clássico "West Side Story"), só para citar alguns nomes.
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No teatro, uma programação que fará entusiastas como Marcelo Marchioro e Emílio di Biase babarem (e não será surpresa se os dois estiverem fazendo das tripas corações para assistir ao Festival, custe o que custar), com peças de Becket, O'Casey, Éugene O'Neill, Tenessee Willians e tantos outros autores com as mais incríveis encenações por gente como Arvin Brown, Martha Clarke, o polonês Tadeusz Kantor, Theodore Mann e José Quinteros. Na programação divulgada pelo "The New York Times" (20 páginas a cores), há um destaque para "The brilliant argentinian play writht-actor Eduardo Pavolosky" - assim como o Gardzienice Theatre, um grupo polonês e o Gate Theatre, que virá da Irlanda. Sete novas peças, "off Broadway", estarão também estreando mundialmente nesta temporada - ao lado de montagens como "The Field has Eyes, the Forest has Ears", direção de Martha Clarke, encenada por New York Shakespeare Theatre; "Ah, Wildnerss", com Jason Robards, a "premiere" mundial de "Pavolsky Marathon", de Pavlosky e "Sand", de Eric Bass.
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Da América Latina, se o teatro argentino ganha alguns destaques - "El Senor Presidente", de Hugo Carillo, direção de Carlos Gimenez e "Pablo", de Eduardo Pavlosky, o Brasil não terá - em nenhuma área - qualquer participação.
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Na área do cinema e televisão, retrospectivas, ciclos, homenagens e mostra que se propõe a revisar o que houve de mais significativo desde que o cinema e a televisão começaram. Homenagens especiais a Fred Astaire, Marlene Dietrich, coreógrafa Martha Grahan, atriz Helen Hayes, ator Danny Daye, bailarino Gene Kelly, Ethelm Mermann, Stravinsky, Arturo Toscanini, Orson Welles, Lee J. Cobb com trabalhos feitos para tela ampla ou o vídeo. Duas das mostras mais preciosas, pelo ineditismo, por certo, da maioria dos filmes escolhidos serão "Film as Vision" e "Independente America: News Film 1978/88". O primeiro ciclo - "American Avant-Garde: 1940/1977", programada para o Public Theatre, reunirá 50 dos filmes mais significativos realizados nas décadas de 40 a 70. Já a mostra do "New Film", organizada pelo American Museum of the Moving Image, inclui nada menos que 150 filmes de ficção, documentários e animação de vanguarda - numa variedade "de performances e multimídia como podem ocorrer", diz a programação.
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Inútil tentar sintetizar no espaço de uma coluna uma variedade tão ampla de programação cultural. E não deixa de ser até uma provocação falar daquilo que acontecerá em Nova Iorque, acessível apenas a quem disponha de, no mínimo, alguns mil dólares - pois só para os ingressos há que existir uma verba especial. Afinal, em Nova Iorque, como em Curitiba, a praga dos cambistas faz com que as entradas para os melhores espetáculos se esgotem em questão de horas - e qualquer ticket não fique a venda por menos de US$ 50 ou US$ 100 dependendo da importância da performance.
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