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Aramis

Os bons tempos do Paraná de 24 (IV)

O relatório que o professor Lysimaco Ferreira da Costa, diretor do << Gymnasio [Ginásio] Paranaense >>, encaminhou ao secretário Geral do Estado, Alcides Munhoz, em 1924 - e que fez parte do volume entregue ao governador Caetano Munhoz da Rocha, chega a detalhes mínimos, como registramos ontem. Por exemplo: há quadros de todas as provas prestadas pelos alunos matriculados no internato e externato, com as notas obtidas nos exames finais. E mesmo sendo impossível sintetizar em observações jornalísticas o conteúdo do relatório, muito aspectos provam ali que o fato de um aluno tirar notas baixas - ou ser reprovado - não significou que o mesmo não viesse a ter uma brilhante carreira. Afinal, Albert Einstein foi reprovado em Física... E, num exemplo mais recente, o professor Newton Freire - Maia, cientista de renome mundial, reconheceu em entrevista que nunca se preocupou em tirar as melhores notas, muito pelo contrário, sendo até péssimo aluno em algumas cadeiras. O rigor dos << lentes >> do antigo << Gymnasio [Ginásio] Paranaense >> - hoje Colégio estadual do Paraná - se reflete nas notas baixas (raras acima de 7) em quase todas as cadeiras. Por exemplo: Atlantido Borba Cortes, que se tornaria um médico respeitadíssimo, no primeiro ano de ginásio foi reprovado em desenho e em aritmética alcançou a nota mínima: 4,2. Também Divorsir Borba Cortes, hoje articulista da << Gazeta do Povo >>, foi reprovado em desenho, da mesma forma que Dalio Zippim - um dos mais queridos advogados do Paraná, pessoa notável e que, em 1924, foi reprovado também em Aritmética. Já Ernani Gomes Correia, hoje advogado, jornalista - redator da coluna << Roda Gigante >> da << Tribuna do Paraná >> desde o seu primeiro número, e há muitos anos secretário-executivo do Conselho Rodoviário Estadual, era reprovado em aritmética, mas, em compensação, obtinha uma boa nota em português. Ser reprovado em aritmética, cadeira da qual era lente o rigoroso professor Álvaro Pereira Jorge, era comum: dos 113 alunos que em 1924 cursaram o primeiro ano do curso ginasial, nada menos que 33 foram reprovados nesta matéria. Entre outros que também enfrentaram dificuldades naquele ano, estavam Helli de Macedo Souza, Francisco Monteiro Tourinho, Ito Carias de Oliveira, Joaquim Miró Junior, João Arthur Portugal Macedo, Mário Tourinho Filho, Theopilo Garcez Duarte Filho, Vasco taborda Ribas e Waldemar Monastier. Desenho, que tinha como professor Pedro Macedo, também reprovou muitos alunos, entre os quais Simão Kossobudski, Raul Vaz, Raul Pilloto, Othelo Lopes e Joaquim Monteiro Franco. Algacyr Guimarães, que viria a se formar em engenharia e ocuparia os mais altos cargos - secretário da Fazenda, diretor-geral do DNER e até governador interino do Paraná, em 1924 era aluno do 2.º ano do Gymnasio [Ginásio] Paranaense e foi reprovado em << arithemetica >> [aritmética], junto com 18 outros de uma turma de 48 alunos. Entre os reprovados estavam Guilherme Braga de Abreu Pires, Ildefonso Fontana e Sady parigot de Souza. As demais matérias - português, francês, geometria, desenho e mesmo latim, não derrotavam tantos alunos - embora as notas em geometria fossem das mais baixas. Athos Moraes de castro Velloso, hoje desenbargador e filho do professor Dario Velloso, ao cursar o terceiro ano, repetiu português, foi excluído em francês e reprovado em geometria e álgebra, nestas duas últimas cadeiras tendo vários companheiros de << infortúnio >>: Antônio Chalbaud Biscaia, fausto Lobo Brasil, José Pacheco Júnior, Libanio de Lourival Cardoso, Luiz Romaguera filho, Léo Miró, Leticia Manassés, Manoel Guimarães, Manoel Vicente Oliveira Mello, entre outros, No Quarto ano do Gymnasio [Ginásio] Paranaense, em 1924, havia apenas 10 alunos - todos aprovados. Entre eles, estavam Francisco Flavio Fontana, Homero Baptista de Barros e Edgard Sampaio. No 5.º ano, com 12 alunos, em compensação, houve 3 reprovações: Berthelot Faria Franco em inglês, física/química; Lyra Gonçalves da Motta também em física/-química e Paulo Guarinello em história natural. Izidoro Brzezinski - hoje desembargador aposentado, pai do pintor João Osório Brzezinski, foi um dos que obtiveram melhores notas naquele ano, assim como seu colega Edmundo Mercer Júnior, que também seguiria acarreira jurídica e chegaria ao Tribunal de Justiça do Paraná. *** Um resumo dos exames da 1.ª época, em 1924, permite verificar o rigor dos exames; pelas percentagem de aprovação: o máximo obtido foi de 56% em latim, chegando em alemão a 27% e << arithemetica >> [aritmética] 28% Reprovados na 1.ª época, a solução era estudar para os exames de 2.ª época, mas que também eram pesados. Basta ver o índice de reprovações: dos calouros (1.º ano do ginásio), Vasco Taborda Ribas, Voctalino Esmanhoto, Waldemar Monastier e Ernani Gomes Corrêa que não haviam alcançado a nota mínima na primeira prova, tiveram a reprovação confirmada alguns meses depois. Já Algacyr Guimarães, com 5,5, conseguiu ser aprovado em << arithemetica >>, [aritmética] , na 2.ª época, bem como Ildefonso Fontana e Renato da Rocha Guttierez. Em compensação, dos 15 alunos do 2.º ano ginasial, em 24, que fizeram provas de 2.ª época com o professor Pereira Jorge, 8 foram reprovados. No terceiro ano, Erasmo Pilloto - que se destaria como um dos educadores mais notáveis no Paraná, conseguiu média 6,5 em álgebra, matéria que o havia reprovado na 1.ª época, mas Carlos Filizola - que seguiria o ramo do Direito, sendo por muitos anos assessor jurídico de vários prefeitos, não teve a mesma sorte. Em português, o único reprovado em 2.ª época, foi Salvador Boscardin. Dos 3 alunos do 4.º ano que prestaram exames de 2.ª época, José Nicolau dos Santos - que chegaria a ser reitor da Universidade Federal do Paraná - foi reprovado em inglês e geometria obtendo 3,66 em história geral. Uma categoria que existia na época era dos << exames avulsos >>, também com anotações que, hoje, são curiosas: Octavio de Sá Barreto, que nos anos 30 começaria a se destacar na vida literária, foi reprovado em história natural e Anor Pinho reprovado em francês. *** A Escola Normal Secundária, também dirigida pelo professor Lysimaco Ferreira da Costa, tinha 119 alunas em 1924 e nos exames de admissão daquele ano das 33 candidatas, apenas duas eram reprovadas. Das disciplinas da escola constavam cadeiras como << trabalhos em agulha >>, que, obviamente, nunca reprovou nenhuma aluna. Aliás, o percentual de aprovação das moças era impressionante: 100% nas cadeiras de << gimnastica >>, [ginastica] , música e trabalhos manuais, 96% em trabalhos de agulha e desenho, 87% em português, 83% em história natural e 80% em física e química. Mas apesar do excelente aproveitamento, havia algumas reprovações: por exemplo, nos exames de 2.ª época da turma do 2.º ano, Aurora Duarte Vellozo foi reprovada em geometria e faltou na prova de trabalhos manuais, geometria, desenho, trabalhos em agulha e música. Já Namyr Romero faltou nas provas de história geral e geometria, obteve 3,43 em física e química e foi reprovada em português. O relatório do professor Lysimaco Ferreira da Costa não era apenas detalhado na área do corpo discente. também especificava quais as matérias que cada professor ministrava e observava que em 1924 o professor Cesar Pietro Martinez - hoje nome de estabelecimento escolar - teve 40 faltas. Estas observações em absoluto significam críticas aos alunos ou mestres de 56 anos passados. Ao contrário, a maioria viria a se destacar no Estado - muito já faleceram, deixando famílias numerosas, enquanto outros, sexagenários ou septuagenários , aposentados, no crepúsculo de suas vidas, por certo nem devem mais se recordar daqueles velhos bons tempos, de uma Curitiba mais tranqüila, amiga e humana. E que hoje desapareceu, com milhares de alunos espalhados por colégios que jamais poderiam oferecer relatórios públicos tão detalhados, como o que em 1924 chegava às mãos do governador Caetano Munhoz da Rocha Neto. O Prefeito Jaime Lerner, de volta de dakar, contand, novidades, deve ter ficado satisfeito quando leu << O Pasquim >> da última semana: o convite ao jornalista Fausto Wolff para vir a Curitiba, dividir com o compositor-cantor Elomar Figueira de Mello uma << Parceria Impossível >>, valeu um artigo de duas páginas, intitulado << Deu Bode >>, e que o irreverente jornalista promete dar continuidade. Fausto refere-se ao passei que deu pela cidade, ciceroneado por Jaime e Fany Lerner e no almoço no Guilhobel. A respeito diz: << Guilhobel era um dos assessores do jango, manjam? Um daqueles caras que enriqueceram graças ao ouro de Moscou e cuja síntese suprema era comer criancinhas. Como o País foi salvo pela revolução democrática (que homenageia Stroessner no Interior do Paraná, dando-lhe uma praça com estátua e tudo e homenageia Lula no ABC dando-lhe uma cela sem habeas e tudo), o Guilhobel hoje tem o segundo melhor restaurante de Curitiba onde ele, a mulher e as filhas cozinham >>. Fausto Wolff elogia o prefeito, afirmando: << Honestamente, quantas vezes vocês já passearam com um prefeito que gosta da sua cidade e do povo? Pessoal parava na rua e ele, estilo calmo, explicava, informava e orientava. Última vez que vi um sujeito tão de pazes feitas com a sua cidade foi quando dei uma volta com Glenio Peres por Porto Alegre. Até cego reconhecia o malandro. Lerner mostrou-me as casas tombadas, as ciclovias, os ônibos interbairros (turismo dos pobres) e esqueceu-se de mostrar-me as favelas >>.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
17/05/1980
cacilda rocha schliewe,procura por seu sobrinho dalio zippim filho ,anita zippim ,marilú zippim e diana zippim.

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