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Aramis

Revistas de cinema, do passado e do presente

"Cinemin" está circulando regularmente há mais de dois anos, com edições que melhoraram de número para número: "Filme Cultura", da Embrafilme, chega ao número 46, em quase 20 anos e se a experiência bem intencionada como a "Moviola", de um grupo de cinemaníacos gaúchos parece ter acabado, surgem duas novas - e irreverentes - publicações cinematográficas: a "Cisco", em Goiânia e o "Cinema Livre" em Salvador. Em São Paulo, um ex-cineclubista curitibano, José Augusto Iwersen, com apoio do grupo Fittipaldi tenta manter "Premiere" nacional - lembrando, distantemente, a internacionalmente respeitado "Premiére" francesa - que ao lado do "American Film", editado pelo Instituto Americano de Cinema, se constitui hoje na mais atualizada publicação dos meios do cinema. Espíritos indômitos Uma história das revistas de cinema - a espera de quem ainda a faça - teria que mergulhar no idealismo de centenas de apaixonados que, no Brasil, desde os anos 20, tem procurado colocar esforço e entusiasmo em revistas que, salvo raras exceções ("Cinelândia" e "Filmelândia", nos anos 50/60, apoiadas pelo poderio da Rio Gráfica Editora), jamais conseguiram ter sequência regular. A época das revistas quadrinizadas, com filmes adaptados em formas de fotonovelas ("Cinemascope 55", "Superscope" etc.) e mesmo as diferentes fases de "Cinemin", da Editora Brasil America Ltda, contrapunham-se naqueles saudosos anos 50 ao espírito de novelização dos roteiros dos filmes nas "Filmelândia" ou ao estilo de gossips (incluindo colunas das fofoqueiras Elsa Maxwell, Louellea Parsons entre outras) nas páginas de "Cinelândia", de todas as revistas de amenidades cinematográficas a que teve maior circulação e conseguiu resistir por mais tempo. Entre as experiências mais sérias de fazer revistas de interpretação crítica, a "Revista de Cultura Cinematográfica", editada pela editora Sion, de um grupo religioso ligado as irmãs Paulina, em Belo Horizonte, entre 1959/62, foi marcante, influenciando toda uma geração. Em compensação, mesmo circulando por breve tempo, a "Revista de Cinema" (7), de Belo Horizonte, até hoje se constitui em bibliografia de citação obrigatória. Nascido quando ainda o antigo Instituto Nacional do Cinema engatinhava, a revista "Filme Cultura", desde seus primeiros números - trazendo na capa do número 2, (novembro-dezembro/66) Belmondo, Clement e Alain Delon, numa cena de bastidores das filmagens de "Paris Está em Chamas?" fez história. Teve múltiplas fases, diferentes estilos de abordagem de matérias, chegou a suportar um excelente suplemento - o Guia de Filmes, em termos referenciais o mais completo trabalho publicado no Brasil por vários anos - e como toda publicação oficial sofreu as conseqüências dos humores políticos e administrativos da instituição que a patrocina - depois do INC, a Embrafilmes. A exemplo de seu antecessor, Roberto Parreiras, o atual diretor-geral da Embrafilme, Carlos Augusto Calik, vê com a maior atenção a área editorial e portanto "Filme Cultura" vem circulando com regularidade, só que em edições monográficas. Em abril/1986 saiu uma edição de 78 páginas dedicada a análise do cinema operário no Brasil e, agora, começa a circular o número referente a memória das casas de exibição. A (boa) novidade introduzida pela Embrafilme foi o "Caderno de Crítica", publicação autônoma, que em seu número um, 50 páginas, traz 15 textos críticos de ensaístas de expressão nacional, analisando filmes recentes como "A Marvada Carne", "A Hora da Estrela", "Tigipió", "O Beijo da Mulher Aranha", "Chico Rei", "Avaeté", "Patriamada", "Muda Brasil", "Céu Aberto", "Aqueles Dois", "Sonho Sem Fim", "Jogo Duro", "Filme Demência", "A Opção" e "Igreja da Libertação". O eclético Cinemin Nos 40 anos da EBAL, que já foi a maior editora de quadrinhos da América do Sul, "Cinemin" teve várias fases. Quadrinizou filmes, publicou biografias em quadrinhos de "ídolos da tela", fez até experiências de quadrinhos em terceira dimensão lá por 1954 quando a novidade chegava as telas. Como o diretor industrial da EBAL, Fernando Albagli, é apaixonado por cinema, a "Cinemin" ressurgiu há pouco mais de dois anos, com a finalidade de se transformar numa revista informativa. Contando com colaboradores que possuem excelentes arquivos - como Gomes de Matos e Gil Araújo - e mais o entusiasmo de seu filho, Benjamin Albagli Neto, Fernando Albagli está fazendo uma revista interessante e equilibrada. Ao lado de material informativo sobre os filmes que chegam ao Brasil, há uma básica preocupação referencial, seja através das pesquisas de Gil e Gomes de Matos (responsáveis também por projetos maiores dos quais - sobre Zinnemann, Strohein, e Ford, já lançado, Cz$ 100,00 o exemplar) ou da série sobre o oscar - em forma de fascículos - com todas as informações a propósito desta premiação. Hoje, "Cinemin" é uma leitura indispensável a quem se interessa em conhecer o cinema e mesmo não tendo intenções críticas mais profundas (nem visão protecionista sobre o cinema brasileiro) preenche um espaço editorial. Também buscando uma linha informativa, mas ainda com dificuldades de formação de equipe, José Augusto Iwersen, lutador há 20 anos, pela cultura cinematográfica (fundou em Curitiba o cine clube Pró-Arte, foi o idealizador do Cine de Arte Riveira, fez os primeiros filmes em super-8 premiados nacionalmente, entre nós etc.) vem editando há alguns meses a "Premiére", em São Paulo, com apoio do grupo Fittipaldi. ainda longe de ser a revista ideal, se constitui, entretanto, numa proposta bem intencionada. Publicações guerrilheiras Fora do eixo Rio-São Paulo, acontecem também algumas experiências válidas. Um grupo de cinemaníacos gaúchos, atentos e trabalhadores, conseguiram editar meia dúzia de números da "Moviola", que, no festival de Gramado, no ano passado, entusiasmou a Sérgio Augusto, ao ponto dele prometer uma colaboração regular. Infelizmente, pelas dificuldades que são naturais neste tipo de publicação, a revista deixou de ser editada nos últimos meses. Em compensação, há duas novas propostas de publicações de cinema, ambas anárquicas e independentes. Em Goiânia, circula "Cisco" (solicitações de assinaturas: Rua 49 Od 47 lote 13 - vila Itatiaia, Goiânia, CEP 74.000), que em seu número 3 (35 páginas, Cz$ 13,00) dedica longa matéria sobre cinema na Constituinte. Já os baianos que estão editando "Cinema Livre" (Caixa Postal 296, Salvador, BA), são ainda mais reverentes e o assunto principal do número 4 é a proibição de "Je Vous Salue, Marie". No Paraná, até hoje foram raras as tentativas de publicações voltadas ao cinema. Em 1967, o então questionador Lelio Sotomaior Jr. editou, com financiamento de seu amigo o único número de "cinema 67", que propunha, em seu conselho de cinema, a abolição das bolas pretas para os filmes medíocres, "como forma de se evitar o racismo estético". Nos últimos meses, com recursos próprios, antonio Gil de Almeida, coordenador da Federação Paranaense dos Cine Clubes e candidato, agora, a presidência do Conselho Nacional de Cineclubes, vem editando "Opção Cultural", um órgão ágil, aberto a colaboradores de todas as tendências. NOTAS (1) A "Revista de Cinema teve apenas quatro números lançados entre janeiro/1961 a julho/1964. No número um. Maurício Gomes Leite publicaria um ensaio sobre os novos tempos do cinema americano ("Os Americanos Intranqüilos. - Nova Mania em Hollywood) que se tornaria um clássico.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
7
20/07/1986

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