Said, o pioneiro na edição de sua "A Civilização Árabe"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de fevereiro de 1991
Há exatamente 25 anos, graças ao idealismo de um dos mais eruditos emigrantes árabes que já chegou ao Paraná, Said Mohamad El-Khatib (Kerde-Troha, Líbano, 20/12/1917 - Curitiba, 30/08/1988), era publicada o entendimento de um povo e de toda uma região do Planeta: "A Civilização Árabe".
Tendo chegado ao Brasil aos 14 anos, Said El-Khatib acabaria se fixando em Curitiba em 1953, após ter vivido no interior de São Paulo. Ao lado de seu espírito comercial - inicialmente no setor de comércio de café, depois em empreendimentos imobiliários (foi o incorporador de loteamentos como as vilas Centenário e Jardim Jordanias, margens da BR-277), Said sempre foi um homem preocupado com a cultura. Com recursos próprios, fundou e manteve escolas - no Brasil e no Líbano, criou instituições e, em 1958, fundou a Garantia Cultural, uma das pioneiras empresas em venda de coleções de livros de nível cultural e didático. Preocupado com a falta de informações corretas sobre o seu povo, conseguiu os direitos de uma obra tida como definitiva: "A Civilização Árabe", do psicologista social, pesquisador e escritor francês Gustave Le Bon (Nogent-le Rotrou, 06/05/1841 - Marnes-la Coquete, 13/12/1931) e a editaria, em três volumes luxuosos, edição encadernada - fazendo nascer, assim, uma editora que marcaria época nas décadas seguintes - a Grafipar.
Em três volumes, distribuídos ao longo de 833 páginas, "A Civilização Árabe" foi uma obra corajosa para a época. Só o prefácio de Jamil Almansur Haddad ocupava 91 das 160 páginas do primeiro volume. A bibliografia estendia-se por 23 páginas das 39 dedicadas as referências finais, identificando, inclusive, quase 200 ilustrações.
A coleção teve excelente repercussão: em sucessivas edições, mais de 10 mil unidades foram vendidas nacionalmente, existindo ainda hoje pessoas que a procuram em sêbos, como obra rara. O sucesso animou Said e seus filhos Faissal (hoje com 54 anos, atuando no mercado de capitais através da RGK Factorim) e Faruk (agora com 44 anos, após experiências em mais de 20 diferentes áreas, dirigindo a indústria de cosméticos Massani) a criar a Grafipar, cuja importância em nosso mercado editorial está a espera de uma justa avaliação. Em 1966, lançavam o "Dicionário Cultural da Língua Portuguesa" do filólogo Rosari Farani Mansur Guérios (1905-1987) e, no ano seguinte, a "História do Paraná", 4 volumes, ainda hoje única obra referencial. Posteriormente seriam editados "A Família - Conflitos e Perspectivas" e "A História de Santa Catarina", que já não tiveram o mesmo êxito em de vendas. Nestas alturas, com o juvenil entusiasmo de Faruk, a Grafipar lançou-se na área de quadrinhos eróticos, com um agressivo marketing que a levou a ficar entre as 7 maiores casas publicadoras do país. Sempre audacioso, Faruk acabaria fazendo a experiência de editar a versão brasileira da "Penthouse" e por pouco mais de um ano (1980) o jornal "Correio de Notícias".
De todas as publicações da Grafipar, o fundador da casa, que escreveria também o livro "Pilares do Islamismo" e sua autobiografia, sempre manteve o maior orgulho da pioneira "A Civilização Árabe", obra que hoje, passados mais de um século de ter sido escrita - e 25 anos após sua edição no Brasil - se mantém como um referencial para melhor entendimento do Oriente Médio.
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