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Aramis

Um desperdício fatal na semana do Carnaval

Parece brincadeira, mas é verdade: distribuidores insistem em "queimar" excelentes filmes na esvaziada semana de Carnaval como se fossem fogos de artifícios. Parece que falta aos (ir)responsáveis pela marcação das datas, a mínima sensibilidade em entender o óbvio: no reinado de Momo, a freqüência aos cinemas cai de forma impressionante. Quem não viaja, cai na folia e no máximo fica em casa para acompanhar, pela televisão, os desfiles das escolas-de-samba do Rio de Janeiro - que é considerado um dos maiores espetáculos do mundo. Há alguns anos, a UIP liquidou com a carreira de um dos mais belos filmes de Alan Parker - "A Chama que não se Apaga" (Shoot in the Moon), exibindo-o no Lido, para platéias vazias. Poucos viram este filme, que é, em nosso entendimento, o melhor da obra do diretor de "Coração Satânico". No ano passado, foi a vez da Alvorada (ex-Gaumont), cometer a sua asnice: lançou em pleno Carnaval, no Astor, o maravilhoso "Tangos - O Exílio de Gardel", de Fernando Solanas, grande prêmio em Veneza-85. Felizmente, o filme retornou, mais tarde, no Luz e hoje existe também a disposição em vídeo. Agora, novamente, a CIC/UIP desperdiça (Condor, desde ontem, 5 sessões), um dos filmes de maior bilheteria: "Atração Fatal" (Fatal Attraction), de Adrian Lyne ("Flashdance", "9 ½ Semanas de Amor"), uma das maiores bilheterias de 87 nos EUA (já faturou mais de US$ 120 milhões), representante dos EUA no IV FestRio, este filme de grande empatia com o público classe média, é ouro em pó. Só que o seu público potencial está fora da cidade - a começar pela grãfinada que foi dourar a pele em areias longínquas. Claro que os yuppies endinheirados já curtiram "Atração Fatal" em vídeo - pois, em outra estupidez, a CIC Vídeo lançou o teipe antes mesmo de o filme chegar ao Brasil. Com inúmeros aspectos para atrair o público - uma história que mistura suspense e infidelidade conjugal, uma mensagem (sic) moralista, bons intérpretes - Michael Douglas (que possivelmente será o candidato ao Oscar por seu novo filme, "Wall Street", de Oliver Stone) e Glen Close. Com um plot que lembra "Perversa Paixão" (Play Misty for Me", 1971, de Clint Eastwood), "Fatal Attraction" pega o público masculino pelo pé: mais perigoso do que AIDS, é uma mulher que confunde um caso de fim de semana com uma ligação definitiva. Dan Callagher (Douglas), advogado yuppie, bem casado com a fiel e bela Beth (Anne Archer), pai de uma menina, Ellen (Ellen Hamilton Latzen), conhece na editora na qual é consultor jurídico, uma jovem e ambiciosa executiva, Alex Forrest (Glen Close). A mulher e a filha viajam para a casa de seus sogros e acontece o inevitável: numa "happy hour" chuvosa, após uns drinques, acabam tendo uma transa, que começa no elevador. Só que embora Dan tenha jogado limpo e não escondesse sua condição de marido papagaio-de-coleira, a fogosa Alex não aceita. Começa ameaçando suicídio, pega em seu pé, arrebenta seu carro, brinca de "Fera da Penha" (quem se lembra do famoso caso, ocorrido no Rio, há quase 20 anos?), ao ameaçar seqüestrar a menina Ellen e, tanto faz, que termina mal. "Atração Fatal" dividiu o público. No FestRio, quando de seu lançamento, a presença de Adrian Lyne possibilitou maiores debates, por parte de quem o viu como conservador, moralista, quadrado - e os que o entenderam como uma obra que vem de encontro a um desejo do público, que, cada vez mais, da parte masculina, tem relações extraconjugais. De qualquer forma, é bem realizado, com ótima trilha sonora de Maurice Jarre, fotografia esmerada de Howard Atherton e tem tudo para agradar. Nesta primeira semana de Carnaval, não haverá filas! Aproveite, então! E se o filme fracassar em Curitiba, a culpa é a UIP, merecidamente: quem mandou lançar o vídeo antes e escolher o Carnaval para fazer sua estréia? xxx No próximo dia 17, ao mesmo tempo em que estarão sendo anunciados os aguardados "nominations" à 60ª festa de entrega dos Oscars, estarão chegando às telas da cidade, grandes atrações: "Tocaia", um dinâmico thriller de John Badhan ("Curto Circuito", "Embalos de Sábado à Noite"), com Emílio Estevez e Richard Dreyffus - mais a bela Madeleine Stowe, substituirá ao musical "Dirty Dancing / Ritmo Quente", de Emilie Ardolino, no Astor. No Plaza, em substituição a "Projeto Secreto-Macacos" (Projex X), de Johnathan Kaplan - que estréia hoje, está programado, o aguardado (e elogiado) "Sem Saída" (No Way Out), do australiano Roger Ronaldson. A guerra do Vietnã terá mais um filme em cartaz: sem nenhum dos méritos de "Nascido para Matar" (de Kubrick, que continua em exibição no São João e Itália), vem o medíocre "Hamburger Hill", pastiche que já teve duas pré-estréias na semana passada. O Plaza também está bobeando na programação: há duas semanas, sem qualquer promoção, lançou o science-fiction "Cheryl 2000". Na semana passada, inesperadamente, estreou o interessantíssimo "Os Adoradores do Diabo" (The Believers", do competente John Schelessinger - um filme sério, sobre a macumba em Nova Iorque - que poderia resistir mais uma semana, mas que saiu agora para dar lugar a uma comédia dirigida por Kaplan e que traz no elenco o garotão Mathew Broderick, visto já em "Wargames", "Lady Dawje" e o ótimo "Brighton Beach Memories", que passou desapercebido, no ano passado, no Lido II - na semana em que se realizava no Lido I a Mostra do Cinema Latino-Americano. Em termos de lançamentos, no Cinema I está o melhor programa: "O Selvagem da Motocicleta" (Rumble Fish), 1983, o profundo filme que Francis Coppola realizou há 5 anos, do romance de S. T. Hinton, com um elenco de jovens talentos: Mickey Rourke, Vicent Spano, Diane Lane, Nicolas Cage, Matt Dillon e o veterano Dennis Hopper. Uma reprise oportuníssima. À tarde, o Cinema I continua com "Os Fantasmas Trapalhões", também em cartaz ainda no Lido II. O frei Chico, o homem que passou a perna no Aleixo Zonari em termos da programação de "Radio Days", usou a cabeça e desta vez não mudou os programas dos cinemas da Fucucu: "O Ilusionista", de Joe Stelling (Ritz), "Amadeus", de Milos Forman (Groff) e "Baixo Gávea", de Haroldo Marinho Barbosa (Luz), continuam em exibição. Também se mantém em cartaz a boba comédia "Manequim", de Michael Gotlieb (Palace Itália). No Groff, quem quiser fugir da batucada no sábado, poderá ver na sessão da meia noite (e domingo, às 10 horas), um dos melhores filmes de 1987: "Depois das Horas", de Martin Scorcese. E no domingo, para a garotada, "Dio Como ti Amo", no Astor e "Os Trapalhões e a Arca de Noé", no Luz. LEGENDA FOTO - Glen Close, que já teve várias indicações ao Oscar, está excelente como Alex, uma mulher que se apaixona por um jovem advogado (Michael Douglas) em "Atração Fatal". O filme estreou ontem no Condor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
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12/02/1988

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