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Aramis

Um exibidor que trouxe o Cinemascope para o Brasil

Pode-se dizer que Paulo Sá Pinto trouxe a modernidade para a cinematografia curitibana - que durante décadas estava acomodada com os exibidores tradicionais. Em 6 de novembro de 1948, uma sexta-feira, reabria o antigo Cine Vitória (que antes havia se chamado Imperial) com o nome de Ritz, na quadra da Rua XV de Novembro entre a Dr. Murici e a Marechal Floriano. Para marcar o evento, escolheu "Fim do Rio" (End of the River), de Derek Twist, uma produção inglesa com seqüências rodadas na América do Sul e que foi estrelado pelo indiano Sabu e a brasileira Bibi Ferreira, que veio a Curitiba para a inauguração. xxx O Ritz fecharia em 1962, quando das obras do alargamento da rua XV de Novembro, na administração Ivo Arzua. Nos anos 80, o grupo holandês C&A, associado a família Wenceslau Glasser - proprietário da área - ali construiu o grande edifício que hoje sedia a loja de departamentos, e, por imposição do prefeito Jaime Lerner, em troca da utilização comercial do miolo-de-quadra, a C&A doou a Fucucu um ótimo cinema de 300 lugares, inaugurando novamente como Ritz (já na administração de Maurício Fruet), em março de 1985, com "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho. xxx O dinamismo de Paulo Sá Pinto seria uma das razões que motivaria a um jovem castrense, Ismail Macedo, ao assumir a administração do Cine Ópera - que construído pelo professor David Carneiro no final dos anos 30 (e inaugurado em julho de 1942, com "Tudo Isto e o Céu Também") a ampliar o grupo exibidor (transformado em Orcopa) - e que teria cinemas como o Arlequim, São João e Vitória - além de ampliar-se nos bairros (Flórida e Guarani, entre outros). Paulo Sá Pinto foi o primeiro a exibir cinemascope no Brasil, lançando "O Manto Sagrado" no Cine República (onde instalou a maior tela de cinema do mundo), em 22 de fevereiro de 1954, quando comemorava seus 42 anos e São Paulo sediava um Festival Internacional de Cinema dentro das comemorações de seu 4º centenário. Em Curitiba, por questão de dias, a novidade foi lançada no Cine Ópera, por Ismail Macedo - mas seria o Avenida que traria outra inovação - o sistema 3D (terceira dimensão), que embora não tivesse emplacado (o público tinha que utilizar óculos bicoloridos para ter a sensação das imagens saindo da tela), lançado no Avenida teve extensa programação no Ritz. Inovando sempre (quando inaugurou o Cine Olido, em dezembro de 1959, em São Paulo, com "Tarde Demais para Esquecer", levou uma orquestra sinfônica para apresentar o clássico tema "An Affair to Remenber"), Paulo, freqüentador habitual de festivais, trouxe também grandes sucessos como os filmes da Família Trapp (o primeiro ficou 6 meses em cartaz no antigo Marabá) e a série "Sissi". O último filme que adquiriu para lançar no Brasil foi "Sexo, Mentiras e Videoteipe", distribuído pela Art Filmes, da qual era sócio com 50%. Deixou uma rede de cinemas com mais de 60 cinemas espalhados em 7 capitais (só em São Paulo, 40 salas), tendo como sócios os irmãos Magalhães Rodrigues e Francisco José Lucas Neto. Em Curitiba, sua Empresa explora há 12 anos o Cine Plaza e adquiriu há 4 anos uma área de 1.200 metros quadrados no antigo colégio Santa Maria, para ali instalar dois cinemas, "cujo início de obras foi retardado por várias razões", explica seu executivo regional, Alfredo Prim. xxx Por uma estranha coincidência, Paulo Sá Pinto morreu em São Paulo, no mesmo dia em que falecia o banqueiro Amador Aguiar, fundador do Bradesco. Dois homens que, com sua energia e visão construíram impérios - Paulo na cinematografia e Amador nas finanças. Outras coincidências: a morte de Paulo Sá Pinto ocorre poucas semanas antes da reinauguração do antigo Palácio Avenida - agora Edifício Avelino Vieira - em cujo amplo espaço térreo existiu por décadas o saudoso Cine Avenida. xxx Ao ver em Nova Iorque um filme em cinerama, "This is Cinerama" (1953), também decidiu instalar o sistema em uma de suas salas, o Comodoro, na Avenida São João, fazendo de São Paulo a única cidade brasileira que realmente viu o cinerama legítimo, com três projetores trabalhando simultaneamente. No resto do Brasil - e somente em alguns cinemas - os filmes chegavam em 70mm, processo que também acabou sendo abandonado (em Curitiba, foi instalado no Vitória, inaugurado em 1963 e fechado há 3 anos, que agora será sede do Centro de Convenções).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
30/01/1991

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