Uma revisão do Brasil nas "Histórias do Cotidiano"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de julho de 1988
Noilton Nunes, 46 anos, bastante conhecido em Curitiba pelos cursos práticos de cinema que orientou na Cinemateca do Museu Guido Viaro nos bons tempo em que Valêncio Xavier sabia dirigir aquela unidade da FCC, é um cineasta persistente. Trabalhou anos para conseguir montar e concluir "O Rei da Vela", com os milhares de pés rodados por José Celso Martinez Corrêa, da antropofágica montagem da peça de Oswald de Andrade feito pelo Teatro Oficina.
Nos últimos cinco anos, Noilton vem se empenhando em realizar "Fronteiras - A Saga de Euclides da Cunha" - que pelas dificuldades já é chamado de "A saga de Noilton Nunes". Mais de 45% das seqüências já foram rodadas (Cantagalo, São José do Rio Preto), mas faltam recursos pra as cenas da Amazônia e de Canudos. Noilton, sempre estimulado por sua esposa, Regina Abreu, não desiste. Só que enquanto não pode levar adiante o projeto de "Fronteiras", não fica parado e em apenas 60 dias fez um interessante documentário, de 20 minutos, levado ao Festival do Cinema de Gramado, há três semanas.
"Histórias do Cotidiano - Brasil Século XX" foi viabilizado graças ao apoio do Museu Nacional de Belas Artes e o patrocínio do Petróleo Ipiranga.
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Dentro de uma preocupação em usar multimeios de informação aos visitantes, a direção do Museu Histórico Nacional pensou na produção de um vídeo. Como a esposa de Noilton, a socióloga e pesquisadora Regina Abreu, é funcionária daquela instituição, surgiu a idéia de fazer um filme rodado em 35mm, no qual, através dos diálogos de uma avó com sua neta, fosse possível fazer uma espécie de sintético painel da história do Brasil neste século. um roteiro enxuto, inteligente, a busca de material de arquivo - fotos de Malta, filmes de cinematecas (inclusive uma cena de "Pátria Redimida", de João Baptista Groff, que focaliza a passagem de Getúlio Vargas na Avenida Luiz Xavier em Curitiba) a dinâmica montagem possibilitaram um resultado interessantíssimo, para um filme que em sua metragem de 20 minutos, destina-se a ter exibição Nacional - e a ser levado em outras salas culturais. Reduzido para 14 minutos, obterá aprovação do Concine para distribuição comercial.
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"Histórias do Cotidiano - Brasil Século XX" tem a narração através de uma velha avó, dona Laura (Henriqueta Brieba, 86 anos a serem completados no dia 24 de agosto, 82 de vida artística), falando com sua neta, Cristina (Mariana Moraes, 18 anos). Assim, como própria personagem que assistiu as transformações deste Século XX no Brasil (aqui chegou com 18 anos, vindo de Barcelona), Henriqueta Brieba faz a narrativa da história, relembrando as mudanças urbanas do Rio de Janeiro, as revoluções, acontecimentos políticos, os carnavais, o Estado Novo, o populismo de Vargas, os anos JK, o golpe de 64 - enfim, um caleidoscópio de imagens - conduzidos pela narrativa de Henriqueta Brieba e com uma trilha sonora musical perfeita, montada pelo pesquisador Jairo Severiano.
"Histórias do Cotidiano" pode abrir um projeto amplo, no qual através do sistema de narração de fatos históricos, numa linguagem coloquial, aproximando gerações diferentes - a octagenária Henriqueta Brieba (um exemplo de vigor artístico, em atividade no palco do Teatro Alaska, RJ, na revista "Xi, Estourou a Camisinha!", com Colé - em cuja companhia esteve em Curitiba, há alguns meses; (também no elenco de "Xuxa Contra O Baixo Astral") e a jovem Mariana de Moraes, se abordará muito de nossa história. O importante é que este primeiro projeto não se restrinja aos freqüentadores do Museu Histórico Nacional e seja visto em todo o país.
LEGENDA FOTO - Regina Abreu, Noilton Nunes e o assistente Marcelo Serra nas filmagens de "Histórias do Cotidiano", dentro do Museu Histórico Nacional.
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