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Aramis

Uma segunda morte dos garibaldinos (pobre Giuseppi!)

Após 30 (trinta) dias da publicação de nossa informação sobre a decisão da diretoria da Sociedade Garibaldi em recusar a proposta feita pelo Consulado Geral da Itália para ocupar uma parte de sua sede em troca do financiamento para a restauração do prédio - que há anos precisa de completa reforma orçada em muitos milhões de cruzados - o presidente Alfredo Sant'Anna Ribeiro enviou longa carta a "O Estado do Paraná". Em seu confuso texto, publicado na página 4 do "Almanaque", edição dominical (02/10/88), o presidente Sant'Anna Ribeiro não contesta concretamente nenhuma das informações aqui publicadas. Apenas faz comentários evasivos. A explicação, que levou 30 dias para ser encaminhada, confirma o que todas as pessoas ligadas à Garibaldi já sabiam: a atual diretoria recusou a proposta feita pelo novo cônsul da Itália, Gian-Carlo Izzo, em auxiliar a entidade. Condoído da situação em que se encontra o belo edifício, na praça Garibaldi, construído no início do século, o diplomata Izzo empenhou-se junto ao Ministério das Relações Exteriores da Itália para conseguir uma substancial ajuda - de US$ 80 mil, segundo informações extra-oficiais (mas dignas de crédito, já que não houve por parte do consulado qualquer desmentido), que seriam aplicados na reforma. Ocupando uma pequena parte do grande imóvel - que poderia ser inclusive na área dos fundos - o consulado pagaria um aluguel-base ao redor de US$ 3 mil, mensais, dos quais seria feito o reembolso do investimento na reforma. Ou seja: a sociedade teria o seu prédio restaurado e, a partir de algum tempo, passaria a ter uma renda extra. A diretoria da entidade, entretanto, recusou esta proposta, conforme aqui publicamos no dia 28 de agosto de 1988. Entrevistamos o Sr. Alfredo Sant'Anna Ribeiro, que nos detalhou as razões da recusa e forneceu inúmeras informações. Na ocasião, o Sr. Sant'Anna, 75 anos, nem sequer lembrou-se do nome do engenheiro italiano (Ernesto Guaita), autor do projeto do prédio. Compreensível o esquecimento para um septuagenário, mas estranho para uma pessoa que há mais de 50 anos está ligada, sempre em cargos diretivos, a esta instituição social. xxx Embora discreto por força de sua própria função oficial, o diplomata Gian-Carlo Izzo comentou, com muitos de seus amigos em Curitiba (embora tenha chegado há menos de um ano, já fez uma roda social bastante simpática), a sua frustração em não poder auxiliar a restauração do belo prédio da Sociedade Garibaldi. Homem culto, sensível à importância do patrimônio histórico, o cônsul Izzo pretendia ajudar a salvar um prédio que, devido à falta de conservação, tende a ruir nos próximos anos. Isto porque tenha 500 ou 250 sócios, o fato é que a Garibaldi jamais conseguirá, com seus próprios recursos, fazer as reformas e restaurações necessárias. Há dois anos, quando o Clube de Campo Santa Mônica manifestou interesse em associar-se à Garibaldi - provocando reação de um forte grupo de associados, mas com a simpatia do Sr. Sant'Anna - aqui registramos o fato. A questão foi para a Justiça, já que a contestação começou da própria data em que havia sido convocada uma assembléia geral para discutir a fusão das duas sociedades. xxx Ao jornalista Carlos Tavares, editor da "Tribuna do Paraná" - e redator da coluna social "Dicas do Charles", o Sr. Sant'Anna disse que menos de 50 sócios da entidade contribuem efetivamente. Em sua correspondência publicada no domingo, ele tenta desmentir esta informação ("Se o Charles falou em 50 sócios, só pode ter sido porque tenha ouvido ou entendido mal, no burburinho da redação"). Não houve - como não há - qualquer intenção "maquiavélica" ou "maldosa" da parte deste redator ao registrar o grave fato de uma sociedade secular, em péssima situação financeira, recusar ajuda desinteressada de um país com o qual tem ligações afetivas e culturais. Ao contrário, uma entidade como a Sociedade Garibaldi, de um passado glorioso, vítima de violência e perseguição nos anos de guerra, e que sobreviveu justamente graças à dedicação de homens como o Sr. Alfredo Sant'Anna Ribeiro (e isto deixamos bem claro no texto aqui publicado no dia 28 de agosto), merece ser auxiliada. Ultrapassa os registros de colunas sociais a crise econômica e o esvaziamento da Garibaldi - que, se algo de urgente não for realizado - se transformará numa ruína urbana, como alertam muitos de seus associados de maior visão. A divisão dos associados em dois grupos - e que afastou lideranças da expressão do industrial Senibaldo Trombini e a família Ceccom (o velho patriarca Orlando Ceccom a presidiu por mais de 10 anos), trouxe conseqüências danosas à entidade. Localizada em área central, ampla, com um imóvel belíssimo, a sociedade não pode ter um final melancólico. Nos poucos meses em que aqui se encontra, o cônsul Izzo entendeu este fato e tentou ajudar. Agora, decepcionado com a falta de apoio a sua proposta, estaria disposto a canalizar os recursos que o seu governo cederia à Garibaldi, para outros projetos, conforme notícia publicada pela colunista Margarita Pricás Sansone, na "Gazeta do Povo". xxx Pelo muito que fez em favor da Sociedade Garibaldi ao longo de cinco décadas - praticamente evitando seu esfacelamento a partir de 1943 e brigando na Justiça pela reconquista do imóvel (que ironicamente foi ocupado por anos pelo Tribunal de Justiça do Paraná), o Sr. Sant'Anna merece respeito. Só que, infelizmente, seus argumentos não convencem mais os associados mais lúcidos em relação ao futuro da Garibaldi. Pela sua idade - e o respeito que se deve aos idosos - não pretendemos alimentar a polêmica a respeito. Só esperamos que a estreiteza administrativa dos idosos diretores da Garibaldi, com seus temores injustificados, não condene a sociedade, que tem como patrono o grande herói ítalo-brasileiro, a uma morte sem glória, em meio a ruínas de um prédio que Curitiba não pode - nem deve - perder.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
3
04/10/1988

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