A visual música de Copinha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de fevereiro de 1978
Se o octagenário cineasta Humberto Mauro estivesse na platéia do cine São João na noite de quarta-feira, possivelmente se emocionaria com a trilha musical que o maestro Copinha Montou para, ao vivo, emoldurar sonoramente as imagens de "Ganga Bruta", rodado há 45 anos - e cuja força e beleza permanece até hoje, como legítimo clássico do cinema brasileiro.
"Nem o melhor sistema quadrifônica seria melhor do que a usa música", disse, ao final, com sinceridade, Francisco Bettega Neto, o mais respeitado crítico de cinema que o Paraná já teve, há 14 anos afastado das andanças cinematográficas, dedicando-se apenas a assessoria de relações públicas da Copel.
xxx
Copinha - Nicolino Coppia, 67 anos, 52 de vida musical, um dos maiores virtuoses da flauta no Brasil, que começou a trabalhar no tempo de cinema mudo, em São Paulo, fazendo fundo musical a filmes de Tom Mix e dos "Perigos de Paulina", foi contratado pela Embrafilmes para formar um nostálgico conjunto e acompanhar a promoção "Nosso Cinema 80 Anos", na música para "Ganga Bruta" (hoje, 16 e 20 horas, últimas exibições em Curitiba, no Rivoli). Com Bahia no piano, Waldemiro Siphman e Walter Gomes nos violinos, Sebastião Marinho no baixo e Plinio de Araújo (irmão de Severino, da Orquestra Tabajara), na bateria, Copinha formou um afinadíssimo conjunto, que ajustou uma brasileiríssima música a cada seqüência de "Ganga Bruta".
xxx
valsas, xotis, modinhas, choros, dos maiores mestres da música brasileira, em arranjos primorosos de Copinha, foram utilizados para formar a trilha de "Ganga Bruta", um filme rodado em 1933, com Cassiano Gabus Mendes. Entre os intérpretes deste filme, rodado na Cinédia, do pioneiro Ademar Gonzaga (1897-1978), estava Carlos Eugênio Cotrim, que durante muito tempo residiu em Curitiba, trabalhando como representante de uma indústria de explosivos. Em 1964, Cotrim voltou ao cinema, associado a Rubens Mendes de Moraes, coronel da polícia Militar do estado, e hoje diretor- geral da Secretaria da Justiça. Dirigiu algumas seqüências de um dos seus roteiros, "Maré Alta", mas divergências com Rubens - que teve um prejuízo altíssimo com a aventura - o levaram a se afastar, sendo o filme concluído por José Vedovato e Egídio Eccio (1934-1977). "Maré Alta" foi rodado na Ilha das Cobras, numa produção acidentada, com estórias incríveis, inclusive a visão de fantasmas que fez, numa noite de tempestade, toda a equipe fugir, apavorada, para Paranaguá.
xxx
Entre os filmes programados para hoje, na continuidade da mostra "Nosso Cienam 80 anos" está prevista "O Cangaceiro" (CINE São João, 16 e 20 horas), que Lima Barreto rodou em 1953 e que é um dos filmes mais famosos da história de nosso cinema.
caribé, artista argentino radicado na Bahia, foi o cenógrafo e no elenco, ao lado de Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro e Vanja Orico, aparecem os compositores Adoniram Barbosa, Zé do Norte e o cineasta Galileu Garcia, além do próprio Lima Barreto - hoje abandonado, alcoolatra e pobre, vivendo em São Paulo.
Tags:
- Ademar Gonzaga
- Adoniram Barbosa
- Alberto Ruschel
- Cassiano Gabus Mendes
- Cine São João
- Egídio Eccio
- Francisco Bettega Neto
- Galileu Garcia
- Ganga Bruta
- Humberto Mauro
- Ilha das Cobras
- José Vedovato
- Lima Barreto
- Maré Alta
- Milton Ribeiro
- Nicolino Coppia
- Nosso Cinema
- O Cangaceiro
- Orquestra Tabajara
- Rubens Mendes de Moraes
- Secretaria da Justiça
- Tom Mix
- Vanja Orico
- Zé do Norte
Enviar novo comentário