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Wilson Buenos, palavras e os sentimentos do mundo

O jornalista e escritor Wilson Bueno, 31 anos, até semana passada editor-chefe do Jornal de Pesquisa/Curitiba Shopping, onde realizou trabalho jornalístico de inegável qualidade e grande repercussão foi um dos únicos , senão o único paranaense - a receber, de Flávia Schilling, uma curta e ardorosa carta. Nesta, a ex-presa política brasileira nos cárceres uruguaios faz rasgados elogios ao texto << Coração Desarmado >>, publicado por Bueno, numa das edições do Shopping e a ela enviado, chegando mesmo a afirmar, expressamente, que a crônica << foi do melhor que já li na minha vida >>, além de destacar a emoção que a mensagem do texto lhe passou , como reflexão política inclusive. Elogio nada desprezível para quem, como ela, recebeu da imprensa nacional e internacional, toneladas de papel e tinta. Revelando o seu lado humaníssimo e despojado Flávia Schiling reitera aos jornalista paranaense, na carta, o desejo de, com ele, trocar correspondência e diz ainda, com uma caligrafia miúda e determinada, que << um dia a gente deve se encontrar por este mundo para bater um grande papo >>. E como se não bastasse, ainda lhe envia, um exemplar do recém-editado - e já em segunda edição - << Querida Liberdade >> (Global Editorial. 126 páginas), obviamente que com autógrafo entusiasmado. Aliás, Wilsson Buenos já iniciou a arrancada para o reconhecimento nacional de seu trabalho - um quase silencioso artesanato de texto, trabalhado pelo autor em sua casa modesta da Vila Tingui: num dos próximos números da revista << Ele & Ela >>, sairá publicado um das dezenas de contos seus, em sua quase totalidade inédito ou esparsa e quase clandestinamente publicados em antologias independentes ou no Suplemento Literário do jornal << Tribuna da Imprensa >>, do Rio, criado por ele próprio, em 1971, ao lado da (celebrada) escritora de livros infantis Miners. E até hoje resistindo bravamente, todos os sábados, como encarte-tablóide do diário do polêmico Hélio Fernandes. Também o nanico << Lampião >> que vem aumentando seus índices de venda e defender das minorias sexuais, raciais, éticas, do País, deverá dar destaque, provavelmente em sua próxima edição, ao conto << Pássaro >>, de Bueno, que, por iniciativa do escritor José Édson Gomes (<< O Ovo no Teto >>, << Os Ossos Potulados >>, duas vezes premiado no extinto Concurso nacional de Contos do Paraná) circulou, há alguns anos, em cópia mimeografada nos meios literários do Rio e de São Paulo - como ostensiva atitude daquele conhecido contista contra o que considerava então << a máfia editorial brasileira >>, sempre incapaz de promover os verdadeiros talentos. Agora, << Pássaro >> ganhará a última página do << Lampião >> - espaço nobre, e ocupado, até aqui, entre outros nomes consagrados, apenas por Manuel Puig, Gore Vidal. Aguinaldo Silva. Darcy Penteado e Glauco Matoso. Também como letrista da nova música popular brasileira, Buenos inicia carreira: de 12 a 23 de agosto próximo, na Sala funarte, no Rio de Janeiro, estará acontecendo o show que Paulinho da Viola realizará com o jovem nordestino Aristides Guimarães, dividindo com este, inclusive, a interpretação do já clássico << Sinal Fechado >>. No show, das dez músicas a serem apresentadas pelo compositor pernambucano que Paulinho da Viola decidiu revelar (e promover) - o que se constitui, desde já, em garantia de qualidade - existem apenas três parcerias: com os poetas Castro Alves. Joaquim Cardozo e Wilson Bueno. A letra da música - << Estrelas Solitárias >> - um melancólico << blue-noturno >> que tivemos oportunidade de ouvir em fita, merece ser transcrita: << Ela longa a tua capa anoitecida/ de estrelas solitárias / e a tua boca / rente à noite vermelha/ Acesos os teus lábios/. Era verde o teu coração/ como uma maçã ácida/ suspensa do lado esquerdo/. E quando a lua brotava como um uivo/ recitavas a tua voz/ nascendo da boca/ como serpentes do último dilúvio/ como mínimas serpentes ao redor do sol/. Quero era a tua dor anoitecida/ e o teu longo grito >>. Resta saber quando o poeta enrustido Wilson Bueno resolverá, a exemplo do posador, dar o ar de sua graça, em publicações nacionais ou mesmo locais, pois segundo ele próprio revela, possui mais de cinqüenta poemas << aproveitáveis >> e dos quais não se envergonha. Só que inéditos... *** Desde domingo - O ESTADO passou a ter em Wilson Bueno o mais novo colaborador. Suas crônicas elogiadas por todos que as conhecem, refletindo sua visão do mundo, dos homens e das coisas, passam a enriquecer nossas páginas. E aproximar as pessoas, através do texto e dos sentimentos de um grande jornalista e pessoa que tem o grande exercício de viver.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
16/07/1980

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