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Aramis

Ainda em tempo de jazz (com os melhores LPs)

Extrapolando as apresentações do Free Jazz Festival, em sua terceira edição (que se encerra neste domingo, no Anhembi, São Paulo), o generoso banquete de lançamentos fonográficos prossegue com pratos dos mais apetitosos aos ouvidos de quem sabe apreciar o que há de melhor. São gravações novas e antigas, não só dos artistas que vieram ao Rio / São Paulo, mas também de outras preciosidades jazzísticas. Por exemplo, os dois melhores grupos vocais-instrumentais que estiveram nas edições anteriores do Free Jazz Festival gravam agora novas edições: uma gravação ao vivo do The Manhattan Transfer, registrada a partir de duas apresentações no Japão (20-21/fevereiro/1986) (edição WEA) e o volume e do extraordinário Supersax & L. A. Voices ("Straighten Up and Fly Right", CBS). Acompanhado de cinco ótimos músicos, o Manhattan Transfer - Tim Hauser, Cheryl Bentyne, Alan Paul e Janis Siegel - nesta gravação ao vivo fez um revival de seu repertório, incluindo oito números de seu mais arrojado trabalho ("Vocalese", 1985). Com 10 anos de carreira, o Manhattan Transfer abriu novos caminhos para o gênero e colocou, graças a colaboração de John Hendricks, letras em 11 clássicos do jazz e do r&b. Também o Superstar & L. A. Voices trouxe um novo estilo jazzístico, casando vozes e instrumentos e redesenhando standards. Neste volume 3, seguramente, um dos melhores discos do ano, temos clássicos de Charlie Parker ("Ko Ko", "Chi Chi"), Nat King Cole ("Straighten Up"), Harburg/Vernon Duke ("April in Paris"), Frank Churchill/Larry Morey ("Sumerday my Prince will Come", originalmente da trilha de "Branca de Neve"), além de composições do líder do L. A., Med Flory ("Super Sax", "Bamboo", "Country"). Dois discos vocais-jazzísticos perfeitos. BOB JAMES, 48 anos, pianista, compositor, sintetizador, ex-maestro arranjador de Sarah Vaughan, conhecido também por trabalhos para o cinema (como a trilha de "Serpico"), mostra toda sua criatividade em "Obsession" (primeiro elepê solo que faz na WEA). Desde que Quincy Jones se interessou pelo talento de Bob, no festival de Jazz de Notre Dame, há 25 anos, a sua música tem sofrido transformações e um burilamento. Com Creed Taylor, a partir de 1973, Bob se revelou um dos mais inspirados arranjadores/produtores/tecladistas da chamada "Safra CTI". Cada um de seus elepês - e já passam de duas dezenas - Bob procurou sempre um som harmonioso. Assim foi em sua parceria com o saxofonista David Sanborn ("Double Vision", já editado no Brasil) e que repete agora neste "Obsession", para o qual trouxe a vocalista Lisa Fisher, ex-banda de Luther Vondross. LARRY CARLTON, 39 anos, guitarrista e baixista, pode ser apreciado numa recente gravação ao vivo ("Last Night", WEA), feita na famosa boate Baked Potato, de Hollywood, na qual "incendeia sua guitarra, dando-nos uma nova visão do jazz, expressa de forma vibrante através de melodias ricas e sensuais" - e neste caso a adjetivação do release se justifica. Num momento de iluminação, Larry buscou dois temas de Miles Davis ("All Blues" e "So That"), aos quais se acoplam suas próprias composições como "Don't Give it Up", "The B. P. Blues", "Last Night" e "Emotions Wound Us So". Mostra, assim, não só o seu lado de extraordinário virtuose da guitarra, mas também compositor, acompanhado por uma banda especialíssima formada por Terry Trotter (teclados), Abe Laboriel (baixo), John Robinson e Rick Murotta (bateria), além de Alex Acuna na percussão. WAYNE SHORTER, 52 anos, ex-Weather Reporter, um dos mais curtidos saxofonistas contemporâneos, faz seu segundo elepê solo ("Phanton Navigator", CBS), uma obra belíssima. Inteligência e fantasia se fundem no virtuosismo do músico que, desta vez, faz do sax-soprano o ponto focal de uma linda paisagem musical. Com o sax-tenor e o lyricon, uma orquestração rebuscadíssima, e uma equipe quentíssima, valorizando um repertório magnífico, naturalmente de temas próprios: "Remotex Control", "Mahogany Bird", "Yamanja", etc. Um disco de jazz que mostra o cinqüentão Shorter mais jovem e atual do que nunca. PHILIP GLASS, 50 anos, embora chamado de minimalista não gosta de rótulos. Criador de uma música personalíssima e que só passou a ser conhecido no Brasil a partir da trilha que fez para o filme de Geodfrey Raggio ("Koyaanisqatsi", 1984), Philip Glass foi uma das personalidades mais fascinantes deste III Free Jazz Festival. Seu trabalho foge a rótulos - e vai desde a ópera "Einstein at the Beach", "The Civil Wars") a trilhas sonoras ou música para dançar. É o caso das "Dance Pieces", que a CBS lançou em seu pacote de música New Age - outro rótulo que tenta se aplicar a Glass (aliás, na dificuldade de definir seu estilo, joga-se muitos adjetivos, sobre os quais ele reage com bom humor). De qualquer forma neste interessante álbum estão "In The Upper Room", e as "Glasspieces", composições coreografadas, respectivamente, por Jerome Robbins e Twyla Tharp. Em ambas, a inventividade de um autor plenamente em dia com o seu tempo, utilizando a voz, instrumentos convencionais e sintetizadores de modo a conseguir da crítica mais exigente os maiores louvores, devido a seu trabalho instigante. LEGENDA FOTO - Bob James: sempre com categoria.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
19
13/09/1987

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