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Aramis

Artigo em 01.06.1979

E Altou a força do improviso, do repente, da criação espontânea. Toda a criatividade que esse notável Sivuca esparrama em seus shows ficou cerceada pelo ambiente frio de um estúdio e esse seu LP lançado pela Copacabana não consegue captar toda a vibração que o instrumentista põe em seus trabalhos. Mesmo porque (com fim comercial?) a maioria das faixas troca o músico pelo cantor, encobrindo com uma voz comum um potencial artístico ilimitado de quem se coloca à vontade à frente de um piano, violão, guitarra, sanfona, percussão... Se não fosse um disco de Sivuca, seria um trabalho completo, pois está bem acabado e traz um repertório adocicado por valsinhas e toadas. Mas é um disco de Sivuca, que não tem a agressividade contagiante que ele costuma irradiar ao vivo, quando a parede do estúdio não é o limite final de seu talento. Ainda assim ele se solta um pouco mais em "Samburá de peixe miúdo" (Sivuca & Glorinha Gadelha), talvez até embalado pelo gênio irreverente de Hermeto Pascoal, que participa desta faixa e da instrumental "Nosso encontro" (Sivuca & Hermeto Pascoal). Mas eu ainda sou mais pelo Sivuca do palco, livre do tempo que uma faixa lhe reserva e pronto para criar improvisos alucinantes. LUIZ AUGUSTO XAVIER Excelente músico, profissional competente - vide sua atuação, sempre bem sucedida, no mercado norte-americano -, Sivuca é o que se pode chamar de um artista notável. Sua carreira, até aqui, embora pouco desenvolvida globalmente em atuação no Brasil, tem sido pontilhada por seguido êxito. Afinal, o trabalho que desenvolve é de primeira linha. O show que Sivuca vem fazendo mereceu da crítica elogios os mais rasgados. O disco, porém, não alça os mesmo vôos. Inexplicável: Sivuca conseguiu fazer um disco que, mesmo tendo qualidade, é limitado. Tudo certinho - arranjos, vocalização, execução, etc. Mas faltou o melhor de Sivuca: o môlho, a loucura controlada deste albino genial. Faltou o dedo de uma produção melhor cuidada, o que resulta num trabalho que fica no quase. Infelizmente. JORGE EDUARDO Sivuca (Severino Dias de Oliveira, Itabaiana, Paraíba, 26/05/1930) é o exemplo daquela artista que teve que provar primeiro seu no Exterior para só agora, aos 49 anos, encontra em seu país, um clima favorável ao seu trabalho instrumental da maior importância e criatividade. Albino e nordestino como Hermeto Paschoal - outro gigante da música instrumental brasileira - Sivuca foi levado aos Estados Unidos por Carmem Costa, há quase 20 anos - e sua carreira se desenvolveu em vários países: gravou discos na França, acompanhou a cantora Miriam Makeba e Harry Belafonte, fez elepê solos na Vanguarda - editados no Brasil pela Copacabana - até que decidiu retornar ao Brasil. O show que apresentou na Sala Funarte, no RJ, teve tanto sucesso que foi transferido para outra sala - e atrasou sua estréia no Paiol, o que somente aconteceu neste fim-de-semana. Para quem já ouviu/viu o show de Sivuca, no ano passado, a recomendação é desnecessária: mais do que um instrumentista-compositor (e cantor), este paraibano é a exemplo do alagoano Hermeto Pascoal, um bruxo sonoro que consegue extrair do acordeon, piano e percussão sons extraordinários - do romantismo de "João e Maria"( que, em 1977, recebeu uma das mais eternas letras de Chico Buarque) até "O Dia Em Que El Rei Voltou A Terra de Santa Cruz", título, aliás, do show que fez ano passado. De certa forma, Sivuca apresentará no palco do Paiol, neste fim-de-semana, parte do que está em seus último lp (Copacabana, 12377), produzido por Glorinha Gadelha, médica, violonista, cantora, compositora e, há alguns anos, sua companheira e musa inspiradora. Muitos dos músicos que acompanharam Sivuca no registro deste LP ( que merece a cotação de 4 estrelas) - como o violinista Cláudio Jorge e o baterista Téo Lima - estão na cidade, mas infelizmente Hermeto Pascoal que participou de várias faixas, não vem . Afinal, juntos eles só fizeram um histórico show em Salvador, e se a dose se repetisse, até o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto seria pequeno. Como o nosso espaço é também pequeno, vale a frase: compre o elepê e não perca o show. FOTO LEGENDA: FICHA TÉCNICA LP: SIVUCA (COPACABANA - COLP 12377) Produção: Glorinha Gadelha, Lindolfo Barbosa e Talmo Scaranari Arranjos: Sivuca Participação especial: Hermeto Pascoal e Glorinha Gadelha. Músicos: Téo Lima, Ivan Machado, Formiga, Maurílio, Niltinho, Kátia de França, Neco, Zé Carlos, Hermes e Cláudio Jorge.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
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01/06/1979

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