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Aramis

A flauta de Herbert Laws e as guitarras de Szabo/Gale

Mais alguns nomes importantes do jazz moderno - o flautista Hubert Laws, os guitarristas Gabor Szabo e Eric Gale, - em lançamentos fartos feitos no Brasil pela Top Tape, aqui representando a CTI e Kudu Records, do experiente Creed Taylor, que divide com Norman Granz (agora com nova etiqueta, a Pablo Records), a mais ativa produção jazzística nos Estados Unidos. Vamos aos registros, aqui feitos, repetimos, como orientação aos leitores interessados em formar uma biblioteca básica de jazz contemporâneo - na linha adotada pelos lançamentos de Creed Taylor: o jazz moderno, facilmente consumível, aberto [às] boas influências - e não experiências herméticas, elitistas. HUBERT LAWS - Conta Leonard Feather, o papa da crítica do jazz, que o prestígio de Hubert Laws é tão grande que, quando Quincy Jones (de quem a Odeon lançou um novo lp, "Body Heat", que aqui registraremos na próxima semana) foi encarregado de dirigir o show de televisão, da entrega dos Oscars, em abril de 1971, ele chamou Laws, que estava em Nova Iorque. Nenhum flautista local (isto é, na Califórnia) poderia dar a Quincy a segurança de execução, e paz de espírito que só a presença de Laws poderia lhe garantir. Humberto Laws, texano de Houston, 45 anos, é, como tantos outros jazzistas, de uma família musical: sua mãe tocava piano, sua irmão Eloise é uma jovem cantora de muito futuro e seu irmão Ronnie, de apenas 20 anos, já ganhou diversos prêmios tocando sax e flauta. Laws começou aprendendo piano, depois mellophone, e mais tarde passou para o sax alto. Estava, então influenciado pelos primeiros músicos bebop, e pela assim chamada cool school - Stan Getz e Lee Knotiz. Naquela época, Laws ouvia, muito pouco, Bird (Charlie Parker, 1920-1955), que mais tarde, tornou-se uma influência muito importante no desenvolvimento de seu estilo. Sua aproximação com a flauta, foi resultado de um feliz imprevisto, quando foi feito um arranjo, para o conjunto da escola, na qual havia uma parte para flauta. Como não havia ninguém para tocá-la, Hubert apresentou-se voluntariamente. Empregando sua habilidade, para o desenvolvimento de um estilo [...] de jazz, Laws tornou-se integrante de um conjunto de adolescentes, em [54]. Esse grupo era liderado pelo baterista Stix Hooper, incluindo também, o pianista Joe Sample, o trombonista Wayne Henderson e o sax-tenor de Wilton Felder. Esse conjunto teve diversos nomes (Swingsters, Modern Jazz Sextet, Nite Hawks) e durante os dois anos estudou no Texas Southern University, período em que começou a se interessar a executar a flauta de maneira pela qual os músicos clássicos o faziam. Aos 17 anos, era solista numa apresentação da Houston Symphony Young. Em 58 veio para Los Angeles, permanecendo com Hooper por mais 3 anos e ganhou então uma bolsa de estudos para [freqüentar], por um ano, a Julliard School, de Nova Iorque. Nessa cidade, seu aproveitamento foi tão grande que ganhou duas bolsas, para dois anos adicionais, período esse em que laws ampliou seu círculo de amizades, as quais foram muito importantes em sua carreira: tocou no Berkshire Festival Orchestra, integrou o Thrid Stream - conhecido como "Orchestra U.S.A." dirigida por John Lewis, tomou parte em diversas gravações e trabalhou com Mongo Santamaria, em night clubes e filmes. Com suas raízes clássicas ainda firmes, Hubert estudou durante aqueles anos com o eminente flautista Julius Baker. Começou também a se interessar pelo "piccolo", que espera, venha a ser mais aceito no jazz gosta muito de seu som. Como escreveu Feather, "possivelmente, tem sido essa incomum combinação de elementos - o treinamento clássico, a harmonia ouvida atentamente, a experiência do jazz - que resultou no singular talento que é Hubert Laws. Nesses dias, de novos músicos, vindos de toda a parte, de novos discos chegando às dúzias, é raro achar um solista que sobressaia tão claramente quanto Laws. Agora, em seus 30 anos de música, Hubert já fez um excepcional avanço na, cuidadosamente orientada, procura de grande qualidade. Eu não posso ver nada além de grandeza para Hubert Laws". Após "Morning Star" (OW-558) e "The Rite Of Spring" (OW-564) -nesta segunda demonstrando toda sua formação erudita, revalorizando a composição de Igor Stravinsky (1882-1972) - mais três extraordinários [álbuns] de Laws foram lançados pela Top Tape, no Brasil: "Afro-Classic" (OW0556), "Crying Song" (OW-541) e "Carnegie Hall" (OW-569). Em Crying Song" há uma formação instrumental básica de Mike Beech no baixo, Gene Chrisman na bateria, Reggie Houng na guitarra; Bobby Emmons no órgão, Bobby Wood no piano e Ron Carter no 2º baixo, Billy Bobhan e Grady Tate na bateria. George Benson na guitarra e o pianista Bob James, além da participação de vigorosas seções de metais e cordas (9 violinos e 2 celos, além do instrumento indiano Tabla). Tudo isto para a execução de um repertório eclético, que inclui temas conhecidos até do público pop: "Love Is Blue" até o público pop: "Love Is Blue" (Popp/Blackburn/Cour), "I've Gotta Gett A Message To You" (Barry, Robin e Maurice Gibb), "Let It Be" (Lennon/McCartney), ao lado de uma única composição própria - "How Long Wil It Be?",,. De R. Walters é "Oymbaline" e a "Crying Song" que dá tipo ao lp, de John Christopher; "La Jean", de Mike Nesmith "Listen To The Band" e D. Mason "Feeling'Alright?", que abre a face B do lp. Com uma formação bem mais reduzida - apenas o baixista Ron Carter, o vibrafonista Deve Friedman, o guitarrista Gene Burtoncini, os [percussionistas] Richie "Pablo" Landrum e o guarapuavano Airto Moreira, mais Bob James no piano elétrico e Fred Alston, Jr., executando um instrumento chamado "Basson" (?). "Afro-Classic" é uma experiência fascinante, onde Laws tenta fundir a arranjos de base africana, dois [clássicos] temas: "A Sonata para Flauta em Fá" de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), com duração de 3,15 minutos e a "Passacaglia In C Minor" de John Sebastian Bach (1685-1750), que com 15,10', completa o lado B deste disco realmente extraordinário. No lado A, entre "Allegro From Concerto Nº 3 em Dó" de Bach - em arranjo de Dom Sebesky, temos "Fire and Rain" a conhecida composição de James Taylor e, "Love Story" de Francis Lai, que apesar de todo o desgaste é revalorizada por Laws, num longo arranjo de 7.25 minutos. Reproduzindo dois dos melhores momentos do concerto de Laws no "Carnegie Hall", em Nova Iorque, este lp gravado ao vivo é realmente uma confirmação de toda a extraordinária criatividade que faz Laws ser admirado como um dos grandes instrumentistas contemporâneos: Na fase A temos "Windows" d Chirck Correa e "Fire And Rain" de Taylor - em faixa única, ocupando 15,30 minutos e onde Laws, acompanhado basicamente pelos mesmos instrumentos de "Afro-Classic" - apresenta o tema de James Taylor em outro enfoque. E no lado B, o seu vôo maior "Passacaglia In C Menor" de Bach que em "Afro-Classic" havia tido um arranjo de Don Sebesky em 15'10, aqui ampliado para 20'42. Aliás a edição destes lps torna-se muito importante, por permitir a comparação de dois mesmos temas, em improvisações/recriações diferentes, por um mesmo e genial artista. Anotem o nome de Laws - e podem incluí-lo entre os grandes jazzistas nos anos 70. GABOR SZABO - A odisséia jazzística de Gabor Szabo é tão estranha que resiste facilmente a qualquer análise que se lhe queira fazer. Nascido e criado em Budapeste, Hungria, começou a se interessar pela guitarra ao ver, repetidas vezes, os filmes de Roy Rogers, um cowboy-guitarrista-cantor, de muito prestígio dos filmes classe B (1). Ao mesmo tempo, ouvia Gerry Mulligan e Barney Kessell, Charlie Parker e Dizzy Gillespie, como também qualquer disco de jazz que conseguisse, e todas as transmissões do programa de jazz, da "Voz da América". Esse foi seu primeiro aprendizado sobre a música de jazz, até o dia em que foi obrigado a deixar Budapeste, durante os tumultuados e incertos dias da revolta húngara, contra a dominação russo-comunista em 1956. Emigrando para os EUA foi aluno de Barkeley School of Music, em Boston e logo começou a procurar os músicos de jazz, o que lhe proporcionou suas primeiras chances com Chico Hamilton e Gary McFarland. "Há muito tempo - declarou Gabor - desde Budapeste, - e mesmo aqui, na América, os músicos de jazz fizeram com que eu optasse pelo tipo de música que eu gostaria de tocar, mas, jamais, orientaram meu estilo. Esta é a maneira como gosto de tocar música, não somente, porque me comunico através dela, mas porque, me sinto feliz em tocá-la, seja uma canção francesa, brasileira ou hindu". Com o recente desaparecimento de West Montgomery (1925-1970) e permanecendo praticamente desconhecido das novas gerações o trabalho do lendário Django Reinhardt (1910-1953), é importante que surjam novos guitarristas de jazz - como Szabo, George Benson (de quem a Top Tape já editou vários lps) e também Eric Sale, de quem falaremos mais adiante. Confessando sua admiração pelo balanço latino, que tem utilizado com [freqüência], a música de Szabo que podemos ouvir através da edição de seus lps "mizrab" (W-552) e "Rambler" (OW-591) demonstra um natural virtuosismo cigano - como Reinhard, a dinâmica rítmica latino-americana, do timbre dos acordes, do sentido de improvisação do jazz, e, muito dele mesmo, reunidos num todo. Em "Rambler", apresenta-se apenas com quatro músicos - Wolfgang Melz no baixo, Bobby Morin na bateria, Mike Wolfford no piano elétrico e Bob James, também supervisor musical da gravação, alternando-se no piano, órgão e sintetizador. O baixista Wolfgang Melz é autor de 5 das seis faixas do lp: "Rambler",. It's So Hard To Say Goobye", "New Love", "Reinhardt" (uma sentida homenagem a Django) e Help Me Build A Lifetime". A última faixa, "All Is Well", é de Robert Lam. Já, em "Mizrab", a produção foi mais sofisticada e além de haver substituições - como a Wolfgang por Ron Carter no baixo, a presença de Billy Cobbhan (nas faixas "Mizrab" e "It's Going To Take Some Tome") e Jack DeJohnette na bateira, o maestro-pianista-arranjador James convocou uma numerosa secção de cordas (8 violinos, 2 violas, 3 celos, uma harpa), marcante secção de metais (incluindo Hubert Laws na flauta/Piccolo) para amparar as cinco excelentes faixas: "Mizrab" e "Thirteen" do próprio Szabo, "It's Going To Take Some Time" de Carole King, "Concerto Nº 2" adaptado por Bob James da peça de Shostakovitch (1906) e, por último, o tema "Summer Breeze" da dupla Seals/Croft.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jazz
28
22/09/1974

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