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Aramis

Jazz after hours foi o melhor de New Orleans

Só quem não tinha compromissos na manhã de sábado e pode ficar até às 5h30 no Clube Curitibano é que ouviu/viu, realmente, o bom jazz. Afinal, como sempre acontece em encontros deste tipo, o "Jazz After Hours" que tem a maior espontaneidade, com os instrumentistas fazendo aquilo que sabem: a improvisação e criação sonora up to date, no momento. Convencionalmente, "Uma Noite em New Orleans" (Clube Curitibano, dia 18), que nasceu de uma (feliz) idéia do vice-presidente Caetano Rodrigues e do diretor Jorge Natividade, do Blue Note Jazz Clube, foi encampada pela diretoria do Clube Curitibano como um superbaile. Um festa com algumas características especiais e as quais não faltaram recursos, tanto é que ao invés de ser contratado apenas o Traditional Jazz Band, também houve dinheiro, para trazer, pela primeira vez a Curitiba, um outro grupo, no estilo dixieland, o Swiss College Brass Band. A diretoria do clube decidiu, entretanto, contratar mais uma orquestra - a Shinning Brass Band - esta na linha da música para dançar, sem qualquer criatividade que não fosse a de oferecer temas standards, para divertir os associados no grande salão. Por isto mesmo, quem queria ouvir o jazz tradicional teve que se acotovelar nos reduzidos espaços do restaurante e do chamado "Bar do Cid", no qual os instrumentistas que compõem estes dois conjuntos fizeram suas melhores performances. Mas na Shinning Brass Band, reconheça-se, há também alguns instrumentistas de nível, e mostraram isto quando, terminado o período oficial (6 horas) desceram ao restaurante e, ali, se integraram aos TJB e ao Swiss Band, mais os nossos bons instrumentistas. xxx Dentro da preocupação que caracteriza Caetano Rodrigues, como vice-presidente do Blue Note, dois conjuntos da terra também tiveram destaque. xxx O pistonista Saul - que já mais de 4 anos faz de seu bar, na Rua Cruz Machado, um ponto de encontro dos melhores músicos da cidade, liderou o grupo formado por Tiquinho (bateria), Belém (baixo), Anselmo (sax alto) e Henrique (guitarra). Já o Sigma Jazz Group, núcleo que foi um dos estímulos para que nascesse há dois anos o Blue Note, teve, como sempre, uma presença intensa na vocalista Selma de Castro, bela, harmoniosa e com um visual cuidadoso lembrando uma crooner da época das big bands dos anos 30. Fernando Montanari ao piano, Maurici na bateria, Micelli no piston, Orlando no sax tenor, Scaranti na guitarra, Boldrini no baixo, mostraram que mesmo com o fato de o sexteto não vir tocando com a regularidade desejada (e muito menos fazendo os indispensáveis ensaios), há uma identificação entre estes músicos saudáveis e criativos. xxx Quem assistiu, após as 4 horas da manhã, a jam-session que fundiu os instrumentistas do Tradicional, Swiss Band e mais o pessoal da terra, jura que aconteceram ali, momentos marcantes - e que só se espera tenham sido devidamente gravados pela equipe de vídeo que o Curitibano criou ainda na saudosa (e inesquecível) administração de Constantino Viaro, que documenta em imagens animadas os grandes eventos que ali acontecem. "Uma Noite em New Orleans" é uma boa semente. Se este ano a colaboração do Consulado Geral dos Estados Unidos, em São Paulo, através do adido cultural, se limitou ao envio de alguns impressos turísticos (em espanhol e inglês) sobre a cidade onde o jazz nasceu, nada impede que, nos próximos anos, o evento possa ganhar uma dimensão bem maior. O vice-presidente do Curitibano, o engenheiro Sérgio Silva, com sua visão cultural, já nos adiantou que "esta é uma promoção para ter outros desdobramentos", enquanto o diretor cultural, artista plástico Domício Pedroso, lamentou que, devido ao pouco tempo com que a festa foi realizada, não tenha sido possível promover, por exemplo, algumas palestras (com José Domingos Raffaelli, o maior expert em jazz no Brasil, por exemplo) ou mesmo um ciclo de filmes ligados ao jazz ou, no mínimo, que tiveram New Orleans como cenário (só para citar um exemplo, "Coração Satânico", de Alan Parker). xxx Desde que o Traditional Jazz Band se apresentou, pela primeira vez, em Curitiba (Teatro do Paiol, 12 de agosto de 1972), aos dias de hoje, muita coisa mudou. D núcleo original, só restaram o pistonista Austin Roberts, 47 anos, advogado nas horas vagas, e Eduardo Bugni, banjo e ovation, engenheiro naval de profissão. O TJB existe há 25 anos, dedicando-se ao estilo tradicional, na linha dos pioneiros King Oliver, Louis Armstrong e Jelly Roll Morton. No grupo, estão hoje o pistonista Carlos Lima, trombonista Alexandre Arruda, clarinetista Gil Silva, o pianista Edo Callia, baixista Carlos Chaim (também uma espécie de mestre de cerimônia, às vezes até cansativo na extensão do humor que coloca em suas intervenções não musicais) e Alcides Lima na bateria. Na gravação do último disco do grupo ("Made in Brasil", 1988, produção independente, solicitações via reembolso postal, a Rua João Moura, 337, casa 8, fone 852-3433, São Paulo) há a participação especial do sax tenor Hector Costita nas faixas "Stevedor Stomp" (Duke Ellington), "Indiana" (McDonald / Hanley) e "That's Plenty" (Ben Pollack). Fugindo um pouco do repertório mais conservador - mas sem esquecer mestres como W.C. Handy ("Beale Street Blues"), o Traditional visita autores como Michael Carmichael ("New Orleans") e o trio Rose-Jolson-De Silva ("Avalon").
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/08/1989

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