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Aramis

Joyce canta Vinícius

Se faltam discos de Carlinhos e João Gilberto para comemorar os 30 anos da Bossa Nova, nem tudo está perdido: no dia 1º de setembro será lançado "Vinícius - negro demais no coração" (SBK Songs), homenagem que uma das maiores amigas do poeta, Joyce, lhe presta agora exatamente um ano após ter feito "Tom Jobim, os anos 60", também editado no Brasil pela SBK (etiqueta que vem ampliando seu catálogo de trilhas sonoras também para o melhor da MPB) e que, em CD já saiu também no Japão. Marcos Kilzer, superintendente da SBK (que agrega a Editora Songs) gostou de um projeto que resulta em "negro demais no coração, que traz a característica de Joyce em deixar sua marca em tudo que canta. Revisitou todo o imenso repertório de Vinícius, recuperando, uma a uma, todas as lembranças emocionadas de uma convivência estreita, do tempo em que trabalharam juntos. Há 13 anos, Vinícius precisou de uma cantora que o acompanhasse com Toquinho em uma temporada em Punta del Este. Toquinho acabou não podendo viajar e assim só foram Vinícius e Joyce, numa parceria que durou quase dois anos e que se estendeu até Roma, onde Joyce acabou gravando um elepê. Vinícius era um velho amigo - pois em 1968 já havia escrito a contracapa do primeiro lp de Joyce (Philips, 1968), quando ela, abandonando a carreira de repórter do Jornal do Brasil, assumiu a condição de cantora. Vinícius definia Joyce morena, "um broto bacana de Copacabana, de olhos verdes, riso meio triste e boca de menina amuada. Uma garota moderna e considerante, com uma carinha de lua nova em céu de tarde, e toda circunflexa. Gente bem pra frente, como está em moda dizer, e caindo de bossa". Em 20 anos de carreira, Joyce gravou 13 elepês, viajou pelo mundo e encontrou no baterista Tuti Moreno o marido e parceiro de andanças musicais. Reconhecida hoje em sua dimensão de compositora e intérprete, Joyce teve um desafio: como selecionar da imensa obra de Vinícius, apenas 12 faixas para um disco que teve uma produção das mais carinhosas, juntando participações muito especiais - arranjos dividios com Hugo Fattoruso e Toninho Horta. No final, a seleção ficou com "Samba da Beção", "Sabe Você", "Canto de Ossanha", "Astronauta", "Minha Namorada", "Maria Moita", "Tarde em Itapoã", "Deixa", "Mundo Melhor", "Primavera" e "Estrela Branca" - esta, explica Joyce, "recriada em cima da gravação de Elizeth, com Tom ao piano" - do histórico "Canção do Amor Demais". Em um bonito release, que a SBK envia antecipando ao disco, Joyce diz sobre Vinícius: - "É melhor ser alegre que ser triste. Durante o tempo em que tive a sorte de conviver e trabalhar com Vinícius, nada foi mais claro, nenhuma certeza mais que segura do que esta. Vinícius, a pessoa, era uma grande festa, uma Kizomba, uma reunião ecumênica e democrática de todas as cabeças, tendências, idéias e músicas." Cláudio Manoel da Costa, que vem tentando fazer uma programação musical no "505" (promete, inclusive, trazer o magnífico Johnny Alf, outra figura histórica da Bossa Nova), bem que poderia reservar alguns cruzados e uma data para Joyce ali se apresentar. É uma chance da rica clientela de sua casa ouvir um talento legítimo e maior.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/08/1988

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