As Poesias - víseras de Cristina Gebran
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de abril de 1985
" Eu vou andando pela rua e detesto andar.
Não que ir para o lugar que estou indo e não queria ficar no lugar onde estava.
Tudo é como um cigarrro queimando.Um vício idiota, mas que tem de estar lá.
Eu sou um cigarro queimando . "
Se alguém esrera(va) encontrar, nas poesias de Cristina Gebran, versos vem metrificados e estruturados com imagens de rosa, pode ir tirando o cavalinho da chuva' Essa Curitibana de 23 anos que ao entardecer de hoje ( 18h30min, para ser preciso), na loja Funarte ( Rua Cruz Machado , 98 ), estará autografando seu primeiro livro, " Blasphimias", é emoção, garra e coração. Escreve com as Víceras expostas e substitui o esquema amor-azul-do-mar-verde- esperança, por um canto que chega até a ser raivoso , sem nunca deixar de ser sincero.
Parte de meu fogo divino
Será para profanar
os indesejados desejos do mundo
poque os quero para mim
porque os tenho todos em mim
Mulheres que publicam poesia, há muitas. Poetas há poucas. E menos ainda as que buscam essa forma literária não apenas para divigações amorosso existências mas, sim corajosamente, expondo uma visão do mundo. Há alguns meses, Maria Elisa Ferraz de Carvalho Patronick, advogada, casada, 4 filhos, emocionou com sua sinceridade em " Maria de todo o dia ", obra aberta na prporção em que não temeu expor, em sua linguagem, as iniquietações da mulher que tenta deixar a expressão das convenções.
Cristina Gebran, nas " Blasphemias", vai ainda mais longe, Não teme, inclusive, usar palavras que assustariam a outros poetas - mas que, longe de se transformatrem em palavrões, dão ainda força à sua lirica.
Parte mim
em teu pêlo
raça o cansaço mudo
e suspiro
o cansaço mundo
Beijo como um vampiro
Surpreso e insatisfeito
O teu feito
parte de mim
Thiago de Mello foi um dos primeiros a ler os originais de Cristina Gebran. Não a conhecia e quando esteve em Curitiba, no ano passado, participando do projeto Encontro Marcado, falou de alto e bom tom, no auditório da Reitoria, que além da alegria de poder voltar à cidade, estava feliz porque iria conhecer uma poeta de fibra. No prefácio que fez para o livro, repetiu sua admirição : Os poemas de Cristina Gebran queimam como se fossem escritos com palavras de brasa. Palavras feitas de vida, impregnadas da ardente lucidez com que essa moça vê a vida do mundo que lhe coube e, sobretudo, a sua própria vida, que nele se cumpre e se confunde, e de si mesma se perde. Ë para se encontrar que ela escreve.
Madura em sua jovialidade, caminhos pelo mundo - incluindo uma longa vivência na Swinging London dos anos 70 e o de quem não aceita as verdades prontas e oficiais. Sem cair na chatice da poesia social e também escapando dos devaneios individualistas, Cristina Gebran é poeta de sangue e víseras, quando diz :
Sou estátiua de meu próprio prazer
Endureço com os olhos
todos os espaços ocupados
e ocupo com meu sangue
todo espaço desabitado.
LEGENDA DA FOTO 1 - Cristina uma poeta sincera.
LEGENDA DA FOTO 2 - Tonia " Divina Sarah ", com ingresso a Cr$ 20 mil.
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