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Aramis

Quem foi Hans Richter? (Goethe vai apresentá-lo)

É lamentável que o Goethe Institut, tão cuidadoso na produção de suas exposições internacionais, não tenha incluído como suporte da mostra "Hans Richter / Pintor e Cineasta" (sala FUNARTE, Rua Cruz Machado, 98, entre os dias 16 de abril a 2 de maio) a projeção do filme "Dreams That Money Can't Buy" (Sonhos Que O Dinheiro Não Pode Comprar), realizado nos EUA, entre 1944/47. Possivelmente problemas de direitos autorais em relação a este cult-movie que Hans Richter realizou em sua chamada fase americana, fizeram com que o mesmo não conste da exposição que nesta semana será trazida a Curitiba. Há 14 anos, quando dirigíamos a Fundação Cultural, dentro de uma mostra de cinema de vanguarda realizada no Teatro do Paiol (bons tempos em que aquela unidade era um centro propulsor de cultura), promovemos uma exibição de "Dreams That Money Can't Buy", filme que Hans Richter realizou em episódios, a cores e que em 1947 obteve o grande Prêmio Internacional da Bienal de Veneza por sua excelente contribuição para o progresso da arte cinematográfica. "Dreams" é considerado um clássico do cinema, porque nele Richter projetou a figura de um poeta, um vendedor de sonhos, que vê no olhar de quem lhe está defronte, imagens dos processos íntimos da alma, aspirações e angústias. Este filme nasceu da colaboração de velhos amigos de Hans Richter, pintores e escultores pertencentes à primeira vanguarda dos anos vinte: Max Ernst, Fernand Léger, Man Ray, Marcel Duchamp e Alexander Calder. xxx Para compensar a ausência de "Dreams That Money Can't Buy" haverá três projeções (em horários dos mais incômodos, aliás) do curta-metragem "Hans Richter - Eu Vivo No Presente" (sala FUNARTE, dia 16, 19 horas; dias 22 e 28, 16 horas). Rodado por ocasião do 85º aniversário de Richter, este filme reúne fragmentos de alguns de seus filmes como "O Fantasma Da Manhã" (Vormittagsspuk, 1927/28); "Ritmo 21" (1921, seu primeiro filme abstrato); "Filmstudie" e "Inflação". Um dos grandes admiradores de Richter, o americano Jonas Mekas, da chamada escola Free Cinema, que surgiu em Nova Iorque no final dos anos 50, é o narrador deste documentário. Pena que o Goethe Institut não tenha programado a projeção do filme na Cinemateca, mais confortável do que a Sala FUNARTE. xxx Hans Richter (Berlim, 1888-Locarno, 1976) é, nas palavras do historiador de arte Herbert Reed, "um nome que ficará para sempre ligado às origens do modernismo". Artista plástico, Richter reconheceu muito cedo que a nova técnica cinematográfica que surgia no início do século oferecia ao artista uma possibilidade única. A sua especial contribuição para o modernismo é fruto desta intuição. Foi sempre difícil descrever a arte de Hans Richter, pois ela condensa, em síntese única, a ação do pintor e do cineasta. Cronologicamente falando, o pintor é anterior ao cineasta. Foram certas experiências com a arte abstrata e geométrica pura que levaram Richter a tentar o cinema. Por volta de 1919, descobriu que os ritmos abstratos de um quadro podiam prolongar-se até quase o infinito. Não a limitando ao retângulo convencional da tela, a imagem poderia ser pintada ininterruptamente sobre rolo, tal como fizeram os chineses de outrora com as paisagens e as fábulas. Pintando destarte o rolo, restava apenas esse passo lógico: transferi-lo para uma película de celulóide e projetar o desenho numa tela em vez de o desenrolar penosamente à mão. xxx A exposição que vem agora a Curitiba torna possível, através de fotos e mesmo da projeção do curta-metragem com fragmentos de quatro de seus filmes, conhecer um pouco de Richter, que embora faça parte da história da arte (e da vanguarda) em nosso século, é um ilustre desconhecido ao grande público. Como bem disse Reed, "é certo que Richter alcançou fama mundial como pioneiro de um cinema que as vezes tem sido definido como criativo, ou seja, como obra de arte não influenciada pelas necessidades das massas. Mas não há nada mais irritante para um artista que usa de diversos meios de expressão (como fizeram os artistas da Idade Média e da Renascença), do que a tendência moderna à vinculá-lo arbitrariamente a um só desses meios. Richter é um artista total, um artista universal. Quer pinte, quer escreva, quer realize um filme abstrato ou um documentário, é sempre o mesmo, a exprimir com liberdade o seu mundo único e peculiar. Só se pode avaliar com justeza o importante lugar que ocupa na arte moderna, quando se tem consciência da extraordinária vastidão da sua ação criadora, lembrando, ao mesmo tempo, que tudo era expressão de uma mesma visão poética". ILUSTRAÇÃO LEGENDA - Auto-retrato de Hans Richter, um artista de vanguarda, que merece exposição na sala FUNARTE a partir do dia 16.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
14/04/1987

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