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Roberto Carlos em ritmo de cinema volta em tres vídeos

Em 1967, quando Roberto Faria confirmou que iria dirigir um filme estrelado pelo Rei da Jovem Guarda - Roberto Carlos, muita gente surpreendeu-se. Afinal, apesar de suas origens na chanchada, como assistente de José Carlos Burle e Watson Macedo, em 1962, já havia realizado um dos mais premiados filmes policiais da história do cinema brasileiro - "Assalto ao Trem Pagador", inspirado em fatos reais ocorridos pouco tempo antes no Rio de Janeiro. Em seguida, fez um realista drama denunciando as condições de miserabilidade dos trabalhadores na indústria extrativa de erva-mate - "Selva Trágica", 1964, baseado no romance de Hernani Donato. Cineasta eclético, entendendo a necessidade de diversificação, Faria entretanto sempre soube alternar o humor ao drama. Tanto é que entre suas 3 primeiras chanchadas ("Rico Ri à Toa", "O Mundo da Lua" e "Um Candango na Belacap") havia feito, ainda em 1959, o contundente "Cidade Ameaçada", também um retrato em preto-e-branco, realista do submundo do Rio de Janeiro - longe do glamour de Copacabana e Ipanema. Ipanema, em compensação, seria o cenário para sua adaptação ao cinema da comédia de Glaucio Gil, "Toda Donzela tem um pai que é uma fera", de 1966. Na metade dos anos 60, na Swinging London dos Beatles, Mary Quaint (a inventora da mini-saia), época do paz & amor (com muita droga) e Carnaby Street, um norte-americano da Filadélfia, radicado na Inglaterra, então com 31 anos de idade, Richard Lester, trocou o curso de psicologia pelo teatro e piano e acabou na televisão inglesa com a série humorística "The Goon Shown". Após um curta ("The Running Junping and Standing Still Film", 59) e um longa ("It's Trial Dad", 63) que nunca seriam da Inglaterra, Lester mostrou um humor numa deliciosa sátira anti-americana - "O Rato na Lua" (Mouse on the Monn), com Margareth Rutherford e Terry Thomas - que vez por outra, é reprisada nas sessões corujões (ou da tarde) da televisão. Assim, em 1965, quando o astuto Brian Epstein, o homem que fez dos Beatles uma das maiores minas de ouro deste século, pensou em explorar também no cinema o sucesso que os cabeludos de Liverpool vinha conquistando já há três anos, não teve dúvidas: buscou Lester para desenvolver o roteiro e dirigir o filme que marcaria a estréia dos besouros ingleses na tela. "Os Reis do Ié-Ié-Ié" (A Hard Day's Night) seria não apenas um grande sucesso, em seu ritmo amalucado, quase ao estilo keystone, mas faria com que teóricos da comunicação de massa o vissem como símbolos de uma época de transição. Imediatamente, Lester faria outro filme com o mesmo quarteto - "Socorro" (Help, 65), que no I Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, levaria inclusive a Gaivota de Ouro. Os Beatles prosseguiram sua carreira - com outros filmes (inclusive desenhos animados e documentários) e Lester também se firmaria, evoluindo para outros gêneros. Portanto, se os maiores ídolos da juventude mundo naqueles trepidantes anos 60 se transformaram em astros de cinema, porque não fazer do capixaba Roberto Costa (Braga), então com apenas 21 anos, mas já um campeão de público - através do programa "Jovem Guarda", shows e principalmente dos discos da CBS (gravadora em que continua até hoje) também ter o seu carisma explorado pelo cinema. Assim outro Roberto - o Faria - topou o desafio e fez nada menos que três filmes capitulados por Roberto Carlos. Não havia muitos segredos: convocar o cantor e alguns amigos igualmente populares, junto mulheres bonitas, muita ação e rechear de músicas. "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura", em 1967, foi o primeiro da série, com o poeta e jornalista Paulo Mendes Campos colaborando no roteiro e o mestre José Medeiros garantindo uma boa fotografia. O vilão da história, naturalmente, teria que ser José Lewgoy, um ator gaúcho que desde os anos 50 caracteriza-se por este tipo de personagens. Reginaldo Faria, irmão de Roberto - e jovem galã na época - entrava também no elenco, em que, entre outras garotas bonitas aparecia Rose Passini. Mas para o público a atração mesmo era Roberto Carlos: "Como é Grande o meu Amor", "Eu sou Terrível", "Eu te Darei o Céu..." etc. As bilheterias confirmaram o acerto do esquema e a forma teve que ser repetida poucos meses depois: "Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa". Desta vez, o roteiro só de Roberto Farias, partia de uma lenda sobre a existência de um tesouro deixado pelos fenícios - que antes de Colombo já haviam estado na América - num morro do Rio de Janeiro. Com base neste "argumento" simples, o filme teve novamente uma produção de bons recursos: Fernando Amaral cuidou da fotografia, David Hart fez a direção de produção e no elenco além de José Lewgoy (novamente como vilão) e Paulo Porto, somavam-se os dois maiores amigos e parceiros do "Rei": a "Ternurinha" Wanderléa e Erasmo Carlos. Só três anos depois (1971), haveria o terceiro filme da série: "A 300 km por Hora", no qual o roteiro de Farias tentou dar um tratamento mais culto ao personagem interpretado por Roberto. Afinal, aproveitando toda sua imagem ligado ao automobilismo - a partir da marca "Calhambeque" (1963) - que seria inclusive patenteado pelo astuto empresário Magaldi como griffe (e um dos pontos de início da fortuna do "Rei"), o filme se passava no ambiente das corridas. Embora mantendo Roberto e Erasmo Carlos como intérpretes, o elenco foi reforçado com gente competente: Raul Cortez, Mário Benvenuti, Flávio Migliaccio, Otelo Zeloni, Reginaldo Farias e Walter Forster. O maestro Chico Moraes costurou a trilha sonora e a fotografia voltou a ser entregue ao mestre José Medeiros. Resultado: um filme que, independente do aspecto comercial com que foi concebido - e o público alvo a que se dirigiu - não envergonha a filmografia de Farias. Agora, em edições da Sony Vídeo, "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura", "Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa", e a "300 km por Hora" estão a disposição dos fãs mais jovens - ou os nostálgicos dos anos de juventude - do já cinqüentenário cantor (Cachoeiro do Itapemirim, ES, 1934/43) que continua ainda com a bola toda - apesar de Xuxa e de Leandro e Leonardo ameaçarem sua supremacia como vendedor de discos. Em tempo: há três anos, Roberto Faria vem pensando em fazer um novo filme com Roberto Carlos. Mas apesar de toda a grana do cantor, arriscar numa produção de cinema hoje é muito arriscado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Vídeo/Som
21
16/02/1992

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