Login do usuário

Aramis

"Surdinhas" criaram caso e deixam de ver o balé

Algumas espectadoras que foram segunda-feira ao auditório Bento Munhoz da Rocha Neto deveriam ter se empetecado menos e limpado melhor os seus ouvidos para não fazer uma cena, no mínimo, ridícula. Quanto a atriz Olinda Wischral, 34 anos, numa dicção clara e perfeita, anunciou antes do espetáculo iniciar que a revista-programa, devido a um problema de produção, havia sido enviada diretamente de Porto Alegre para São Paulo, houve quem entendesse que o Ballet Nacional de Cuba não iria mais se apresentar. Pior ainda: algumas espectadoras, que, no momento do aviso, estavam papagueando (numa prova inclusive de falta de educação) "entenderam" que o espetáculo havia sido substituído pelo Studio E ou Studio 4 - escolas amadoras de ballet de Curitiba. Isto porque, Olinda também anunciou que o primeiro programa da noite seria "Estúdios para 4", coreografia de Ivan Tenório, música de Astor Piazolla. xxx O grupo das surdinhas saiu do auditório, esbravejando e no hall de entrada promoveu uma verdadeira manifestação, exigindo o valor do ingresso de volta, "pois não viemos aqui assistir amadores". Cavalheirescamente, o empresário Marco Veggiani procurou explicar às irritadas senhoras que não era nada do que estavam imaginando: no palco do Guaíra, apresentava-se mesmo o Ballet Nacional de Cuba, um dos melhores grupos de dança do mundo e que estreando dia 3 último em Porto Alegre, fez um tour nacional que se encerra dia 30, em Recife. Não houve jeito: os ingressos foram devolvidos para as mais radicais que foram para casa, perdendo de ver a magnífica atuação de Alicia Alonso, que ao lado de Orlando Salgado, dançou uma cena do segundo ato de "O Lago Dos Cisnes", no encerramento do espetáculo. xxx As opiniões em relação à performance do Ballet Nacional de Cuba dividiram-se entre os ditos entendidos na arte da dança. Houve quem colocasse nas nuvens as coreografias apresentadas - especialmente para "Rara Avis" e "Canto Vital" (este com música de Mahler) e aqueles que fizeram restrições, achando mesmo que o próprio Ballet Guaíra já apresentou espetáculos melhores. Unanimidade, entretanto, teve o aspecto técnico dos bailarinos, vigorosos e atléticos, em números marcantes. Numa atitude muito simpática, Alicia Alonso, diretora geral da companhia, ao saber que vive em Curitiba, pobre e esquecido, Yurek Shabelewski - que foi nos anos 20/30, um grande nome da dança na Europa - lhe dedicou o número "Tarde Em La Siesta", coreografia de Alberto Mendez, música de Ernesto Lecuona. A própria Alicia Alonso, 66 anos (nasceu em 1921), mereceria também ser homenageada: uma placa de bronze, ao lado das que foram inauguradas quando dançaram no Guaíra as estrelas Margot Fonteyn (19.08.80) e Márcia Haydée (outubro/1979), lembraria, para a posteridade, a noite em que a primeira dama da dança cubana passou por Curitiba. Primeira e, possivelmente, última vez.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
08/04/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br