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Aramis

A tapeçaria de Sandra e a ambientação de Mário

Na multiplicidade de vernissages que acontecem na cidade, poucas merecem maior atenção - já que a generosidade (leia-se falta de critérios) dos responsáveis pelos espaços de exposições tem estimulado que muitas mediocridades ganhem uma promoção que, em cidades com maior rigor crítico, não teriam. Felizmente, vez por outra, ocorrem acontecimentos realmente significativos - como é o caso da mostra de tapetes de Sandra Wolf (domingo, 10h da manhã, sala do artista popular na Fundação Cultural, Praça Garibaldi, 7). Catarinense de Jaraguá do Sul, 40 anos completados na última segunda-feira, 21, formada pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, curso de pintura (1982), meia dúzia de cursos de especialização e participação em 18 coletivas, Sandra Wolf mostra nos 12 tapetes que expõe agora "uma arquitetura de signos onde se entrecruzaram desde blusas com fios de latão até árvores com meias de seda, como diz um dos mais entusiastas apreciadores de sua obra, o dramaturgo e pesquisador Romário Borelli. xxx Para Borelli, que acompanha há anos o trabalho de Sandra Wolf, um aspecto especial na criação da tecelã é a sua utilização em torno das folhas de hera "que deram origem a uma série dos tapetes, soltas, geometrizadas, partidas, compondo todo um projeto personalíssimo". É bom lembrar - observa Romário - que, "por ser uma planta que expande e se multiplica a partir de uma única raiz e refloresce após cada "morte outonal", a hera foi usada como símbolo pelas famílias tradicionais da Idade Média, representando justamente a sucessão de diferentes gerações a partir de um mesmo tronco. Por essa razão as folhas de hera aparecem como símbolo estrutural dos brasões medievais, bordejando os escudos de armas. A própria raiz da palavra ("Hera") serviu para dar origem ao termo heráldica (ciência que estuda os brasões). Assim, Sandra Wolf busca em seus trabalhos uma indelével fantasia histórica - mas seus trabalhos também remetem a uma imagem - caracteristicamente curitibana - o lambrequim, presente como característica ornamental em casas de madeira de Curitiba que, infelizmente, está desaparecendo. xxx Integrada a III Semana da Cultura Brasileira, que o Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná promove de 16 a 24 de agosto, acontece uma mostra de um artista plástico curitibano que ainda não entrou no esquema do consumismo (e da badalação oficial): Mário Barros. Participando como convidado através de uma "ambientação", Barros, 41 anos, exibiu uma proposta interessante, reflexo de uma visão pessoal da criação plástica. Ex-aluno de Laura Miranda e Raul Cruz (desenho e pintura), Eliane Prolik e Dusi Maia Rosa, Mário Barros - não confundir com o notável poeta matogrossense - em sua "ambientação" desenvolveu painéis de pintura sobre papel, dispostos de uma maneira a fazer o espectador/público se sentir envolvido pelo tema cotidiano urbano, numa área de 16 metros quadrados. LEGENDA FOTO - Sandra Wolf: tapeçaria lembrando heráldica e lambrequins em exposição a partir de domingo na sede da Fundação Cultural de Curitiba.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
23/08/1991

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