A boa escolha para os curta-metragens
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de julho de 1988
Foi aquilo que se poderia classificar de uma "feliz coincidência": ou autores dos quatro roteiros premiados para ganharem imagens e sons, em curtas metragens, financiados através de convênio entre a Secretaria da Cultura/ Museu da Imagem e do Som e Embrafilmes, representam trabalhos de profissionais de diferentes formações, mas que justamente situam-se entre os mais talentosos de nosso pequeno universo cinematográfico.
Um júri totalmente imparcial, formado pelo jornalista e cineasta Sebastião França; crítico Carlos Eduardo Lourenço Jorge, ex-"Folha de Londrina", hoje do "Jornal da Cidade", de Apucarana e o cineasta gaúcho Giba Assis Brasil, examinou, cuidadosamente, os 17 roteiros inscritos. Depois, ao longo de uma reunião que se prolongou por muitas horas chegou a um resultado equilibrado, que contemplou os roteiros mais bem estruturados, tecnicamente bem desenvolvidos e com temáticas diversas.
Agora, começa a parte mais difícil: a Secretaria da Cultura teria que liberar em recursos de hoje, uma soma ao redor de Cz$ 6 milhões como sua parte para o início das filmagens. A Embrafilmes dará sua contribuição - de mais um terço (também ao redor de Cz$ 6 milhões, em valores de julho/88, mas em serviços técnicos, quando os filmes entrarem na fase de finalização. E o restante, caberá aos realizadores buscar através de patrocínios ou recursos próprios. Uma forma, sem paternalismo, de envolver os profissionais em projetos a serem desenvolvidos num tempo fixo, de forma que estes curtas ficarem concluídos até o início de 1989 - disputando já os festivais do primeiro semestre e, tendo a qualidade necessária, obterem o certificado do Concine, para exibição como complemento das sessões de filmes estrangeiros.
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Os irmão Wagner, que com o roteiro do filme de animação "A Flor", foram premiados, estão entre os poucos realizadores que, no Brasil, se dedicam ao cinema animado. Há uma década que vem realizando filmes admiráveis, inicialmente em Super 8, passando depois para o 16mm e, com "Respeitável Público" atingindo o 35mm. Este último filme de animação, como as demais obras dos irmãos Wagner, marcado pela ironia inteligente e humor fino, foi concluído em julho do ano passado, com inúmeras dificuldades. Premiado na X Jornada de Cinema, em São Luiz, obteve uma das principais premiações e, aprovado pelo Concine (só que para tanto, a metragem original teve que ser reduzida em dez minutos) já vem sendo exibido em várias cidades, com o agrado do público.
"A Flor", o projeto que os Wagner vão desenvolver agora, demonstra pelo seu roteiro uma extrema ternura e emoção, "através" da peregrinação de uma flor, com muita poesia como comentou Sebastião França, 57 anos, paranaense de Bocaiúva do Sul, que após 30 anos no Rio de Janeiro - período em que exerceu inúmeras atividades e realizou sete curtas (alguns premiados internacionalmente) voltou a Curitiba, para assessorar ao seu amigo Renê Dotti.
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Integrante da chamada "Turma do Balão Mágico" - grupo de jovens que vem tentando fazer cinema há alguns anos e que se reúne na Cinemateca do Museu Guido Viaro - Palito (Nivaldo Lopes), teve aprovado o seu projeto "Lápis, de cor e salteado". Com vários curtas e uma média no qual reconstituiu, livrementre, um fato ocorrido em Curitiba, há 29 anos - "A Guerra do Pente", Palito evoluiu a idéia original de um simples documentário sobre o compositor Palmilor Rodrigues Ferreira (1943-1978), para um curta em que mostrará as contradições da vida musical curitibana, enfocando "os sofredores profissionais da noite". Sua idéia é muito feliz e o roteiro, trabalhado a partir de algumas anotações iniciais, mereceu a aprovação do júri.
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Há seis anos em Curitiba, trabalhando na área do vídeo e também em produções com suas amigas Berenice Mendes e Lu Rufalco - atualmente na pré-produção de "O drama da fazenda Fortaleza" - Fernanda Morini desenvolveu um roteiro, em colaboração com o jornalista Nelson Padrela, a partir de um fato que ocupou manchetes da imprensa curitibana há 13 anos: a extraordinária história da "loira fantasma", que teria aparecido para o motorista de táxi e sido vista por várias pessoas. Fato, amplamente documentado na época, nunca foi devidamente esclarecido e pesquisado a respeito. Fernanda constatou que duas das pessoas diretamente ligadas aos fatos já faleceram. Em seu roteiro, procurou dar um tratamento cauteloso ao tema, partindo de uma análise do ponto de vista de um repórter policial (setor que cobriu os fatos, que resultaram em edições esgotadoas d'O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná).
Como atualmente está integrada a pré-produção de "O Drama da Fazenda Fortaleza", o projeto de Fernanda, paulista de Pirajú, psicóloga de formação profissional, mas que se apaixonou pelo mundo das imagens, pensa em realizar o seu curta no final do ano, após a realização do longa baseado no romance de David Carneiro.
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Premiado com o Kikito de melhor roteiro, na categoria de curta, 16mm, no XV Festival do Cinema Brasileiro de Gramado - por seu belo documentário "O mundo perdido de Kozák", Fernando Severo, 33 anos, confirmou mais uma vez seus méritos de roteirista competente: adaptando livremente um conto de Jorge Luis Borges (1899-1986), "longas sombras no final da tarde" mereceu também aprovação. Um tema de ficção, desenvolvido num roteiro enxuto e que deverá se constituir num curta inventivo e bem realizado, uma das características de Severo, que trabalhou por quase três anos para fazer o belo filme sobre Kozák.
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Entre os roteiros inscritos, havia outros trabalhos interessantes - em contrapartida há muitos de nível amadorístico, sem qualquer competência. Entre os trabalhos que mereceu simpatia do júri - e que poderia, caso houvesse possibilidades de existir uma quinta premiação, ser considerado, esta "A cor da luz", de Havita Riogamonte - nome totalmente desconhecido no meio cinematográfico. Mas que apresentou um roteiro elaborado com inteligência e competência.
LEGENDA FOTO - Severo: roteiro aprovado.
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