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Aramis

As boas trilhas que saem das telas

O mercado de trilhas sonoras apresenta curiosidades. Por exemplo, acontecem lançamentos de sound-tracks de filmes que dificilmente terão exibição comercial no Brasil - mas que, como o prestígio dos compositores ou intérpretes - garantem a aceitação. No passado, tivemos o belo álbum triplo "The Secret Life of The Plants", com a música de Stevie Wonder - de um documentário nunca visto em nossas telas. Há alguns meses, foi a Polygram que aqui lançou em sua "O Melhor do Cinema", a trilha de "Cal", música de Mark Knopfler (do Dire Straits) - para nós um dos dez melhores discos internacionais de 1985. Em compensação, a WEA, inexplicavelmente, retarda trilhas sonoras de filmes de grande sucesso, só se lembrando de aqui editá-las meses (ou anos) após os mesmos terem feito carreira. Foi o caso da vanguardista música que Vangelis criou para o "Blade Runner", só no ano passado chegando às lojas, apesar de todo o prestígio do compositor grego, premiado com o Oscar por "Carruagens de Fogo" (que foi um imenso sucesso em disco). O mesmo se repetiu com a romântica, suave e enternecedora trilha de "Em Algum Lugar do Passado " (Somewhere In Time), filme que Jeannot Szwaro realizou há 4 anos, com um tema fascinante: uma viagem ao tempo impulsionada por um grande amor. A temática da máquina do tempo, presente também em "De Volta ao Futuro" (Back To The Future), atual sucesso de bilheteria (Cine Condor, 4ª semana) e cuja trilha - mesclando temas de rock dos anos 50 a novas composições pop - a RCA já colocou no mercado. Composta por John Barry, "Somewhere In Time" é uma das trilhas mais bonitas dos últimos anos. Numa época em que as sound-tracks são produzidas na base de junção de hits jovens, numa verdadeira colcha-de-retalho, sem unidade/identidade, é um prazer ouvir uma música como a que John Barry desenvolve em "Somewhere In Time", calcando os temas conforme as imagens utilizando uma "Rapsodia" de Paganini (com solo de piano de Chet Swiatkowsky) - trazendo, enfim, aquela música do cinema como os grandes mestres (de Alfred Newman e Max Steiner e Francis Lai Michel Legrand - Georges De LaRue) nos ofereciam. Aliás, que falta fazem os discos com as trilhas que Henry Mancini, De LaRue e Legrand têm composto mas que, infelizmente, não chegam até nós (ou quando chegam, como é o caso de "The Return of The Black Stallion", de De LaRue, lançada pela Odeon, ficam sem nenhma promoção - uma das falhas dessa gravadora). Se a música de "Somewhere In Time" (para nós, um dos 10 melhores LPs internacionais de 85), foi um reencontro de ternura, bons arranjos e competência, a trilha do "O Último Dragão" - recentemente exibido no Vitória - tem a característica desse filme sobre lutas marciais, dirigido por Michael Schultz. Ou seja, uma música nervosa, com toques da ação que o filme propõe. A produção da trilha foi de Suzanne Coston, da Motown Records (distribuída no Brasil pela RCA), trazendo nomes fortes como Stevie Wonder ("Upset Stomach"), sua esposa, Syreeta - dividindo com Smokey Robinson, o "love theme" do filme ("First Time On A Ferris Wheel") Willie Hutch ("The Glow" e "Inside You", neste com The Temptations), mais os grupos Vanity ("7th Heaven"), Rockwell ("Peeping Tom"), DeBarge ("Thutham Of The Night"). Uma trilha quente, nervosa e explosiva - como o próprio filme. TRILHAS NACIONAIS - A onda de filmes destinados à juventude tem valido apejas pela edição dos lps com as trilhas sonoras. Filmes que mais parecem video-clips - como "Trop Clip", "Rock Estrela" (ainda inédito nas telas, mas já à disposição em vídeo) e o pretencioso "Areias Escaldantes", do garotão Fancisco de Paula, trazem inúmeros grupos de rock. A trilha de "Areias Escaldantes", numa produção da Mirco, com distribuição BCA, saiu junto com o filme (já exibido em Curitiba, sem êxito). Além de participarem da trilha sonora, Lobão e o grupo Os Titãs estão presentes também como atores neste misto de ficção-científica e comédia jovem. Lobão e os Ronaldos - (grupo que há muito já desapareceu) comparecem nas faixas "Mal Nenhum" e "Ronaldo Foi para a Guerra", o Ira defende "Longe de Tudo", o Ultraje a Rigor comparece com "Ciúme", o Capial Inicial com "Leve Desespero"; Gang 90 & Absurdettes na versão de "I Know but I Don't Know" e May East com "Fire In The Jungle". Lulu Santos, em parceria com Nelson Motta, compôs o tema-título, que também interpreta. Um destaque: as duas bonitas ilustrações a cores, criadas por Luiz Zerbini, para a capa e contracapa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
23
19/01/1986

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