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Aramis

Uma estréia e outros bons programas

Poderia ser pior. Afinal, estamos em férias, é verão e, teoricamente, todos estão viajando. Pelo menos assim pensam os dirigentes dos paquidérmicos órgãos culturais do Estado, especialmente a incompetente Secretaria da Cultura e dos Esportes (sic, sic), que há anos já adotou a sistemática de cerrar as portas dos auditórios doTeatro Guaíra durante janeiro e fevereiro. (Mau) exemplo seguido por outras salas. Mas em cinemas, há opções. Começa com dois excelentes filmes que, lançados na semana passada, obtiveram, com toda razão, mais sete dias em cartaz: o ecológico e emocionante "A Floresta das Esmeraldas", que o americano John Boorman rodou no Brasil - e apresentado hors-concours no encerramento do Festival de Cannes, no ano passado. Após uma semana no Vitória, esse filme que, embora não tenha nomes famosos no elenco, apresenta um ator curitibano, Ariel Coelho, num curto mas marcante personagem (padre Leduc), está agora sendo exibido no São João (às 20 e 22 horas). Requintado, profundo, buscando transpor para a tela o difícil mundo que Marcel Proust descreveu em sua imensa obra "Em Busca do Tempo Perdido" (7 volumes, editados entre 1913/1927), "Um Amor de Swann" é um filme para o público especial. Com três ótimos intérpretes nos papéis centrais - Jeremy Irons, Ornela Mutti e o veterano Alain Delon - esse filme que o alemão Volker Schlondorff conseguiu realizar (após o mesmo projeto ter sido abandonado por René Clement, Visconti, Joseph Losey e Peter Brook), merece ser visto. Em cartaz no cine Ritz. Gwendoline, uma Indiana de Saias Em termos de estréias, apenas uma: "As Aventuras de Gwendoline Na Cidade Perdida". Produção francesa, dirigida pelo holandês Just Jaeckin - que ficou famoso ao realizar o primeiro filme da série "Emanuelle" (e depois "A História d'O"), esta produção tem elementos para conquistar a garotada. Baseado numa personagem de histórias em quadrinhos de popularidade na Europa, criado por John Willie. A exemplo de Modesty Blaise, Valentine, Barbarella e outras superstars do moderno quadrinho, Gwendoline une às suas aventuras também um ótimo desempenho sexual. Isso entusiasmou Jaeckin, que decidiu transpor suas aventuras para a tela no melhor estilo de Steven Spielberg: tal como um Indiana Jones de "Os Caçadores da Arca Perdida" e "O Templo da Perdição", Gwendoline (interpretada pela nova atriz Tawny Kitaen) envolve-se em mil aventuras na Ásia, encontra-se com um irresistível aventureiro, Willard (Brent Huff) e acaba sendo ameaçada por uma cruel rainha (Bernadette Lafont, único nome conhecido no elenco). Dificilmente o timing que Jaeckin deu a este filme de muitos exteriores tem o mesmo ritmo de Spielberg, mas, no mínimo, vale conferir a produção. Dos quadrinhos ao pop Outro filme com origem em quadrinhos - "Universo em Fantasia", que em boa hora o simpático Francisco Alves dos Santos decidiu reprisar no Groff, tem grandes atrativos para o público jovem. Além de "Heavy Metal" ser uma das mais conhecidas revistas americanas, com estórias incríveis criadas por Richard Corben, Angus McKie, Dan O'Bannon, Thomas Warkentin e Berni Wrighson, este filme dirigido por Gerald Potterton utiliza também uma incrementada trilha sonora. Assim, as imagens fantásticas desse delírio visual desenhadas por uma grande equipe são emolduradas por uma quente sound track (já editada no Brasil, quando da estréia do filme, há 2 anos) na qual Elmer Bernstein foi buscar grupos da pesada - embora mais equilibrados do que os chamados heavy metal destes últimos anos: Black Sabbath, Cheap Trick, Grande Funk Railroad, Journey, Nazareth, Riggs, Trust, entre outros. "Heavy Metal - Universo em Fantasia" pertence à categoria dos desenhos animados delirantes e fascinantes - exemplos de uma nova época de cinema de animação - bastante diferente da filosofia e escola que Walt Disney criou e que seus herdeiros mantêm na produção - embora buscando maiores requintes, como no elogiado "O Caldeirão Mágico", desenho em longa metragem que continua em cartaz no Lido I - assim como "Conan, O Destruidor", mesmo em reprise, se mantém ainda firme - sem falar no fascinante "De Volta ao Futuro", com rendas cada vez maiores no Condor. Aliás, as continuações ocupam a maioria das telas: a comédia "Quinteto Irreverente", de Mario Monicelli - segunda parte de "Meus Caros Amigos", entusiasma o público que ainda não viu essa deliciosa visão do comportamento italiano (cine Luz); "Os Trapalhões no Rabo do Cometa" - que tem 85% em forma de desenho animado, criado por Maurício de Souza - e apenas 15 minutos com Os Trapalhões ao vivo - permanecem nas sessões vespertinas do São João e Itália, onde, à noite, estão em reprise "A Floresta de Esmeraldas" e "Blade Runner, Caçador de Andróides", respectivamente. Na Itália, outra comédia - "Essa Louca, Louca Gente", também continua com excelente bilheteria. "Comando Para a Morte" (cine Plaza), novo festival de violência com o halterofilista Arnold Schwarzenegger, austríaco, 39 anos - que em seu físico perfeito mas talento dramático nulo, pode ser visto também na pele pré-diluviana de Conan (no Lido). Na mesma linha de violência de "Comando Para a Morte" é "O Exterminador" (The Exterminator), de James Clicknhaus, que voltou nas sessões noturnas do São João na semana passada, fez tanto dinheiro que agora está em programação normal no Bristol. Por último, uma recomendação: vale a pena (re)ver "Starman - O Homem das Estrelas", de John Carpenter. Um lírico ET adulto, com Jeff Bridges numa atuação tão emocionante que ganhou indicação ao Oscar de melhor ator no ano passado - ao lado de Karen Allen e Richard Jaeckel. Na linha de "Encontros Imediatos do Terceiro Grau", também do mesmo Spielberg de "E.T.", "Starman" é um filme com uma bela mensagem de paz e entendimento -- que se assiste com o maior prazer. Em reprise no Cinema I.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
24
19/01/1986

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