Bonilha fez sua mensagem com a pesquisa do futuro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de janeiro de 1988
Mesmo com atraso de algumas semanas, algumas mensagens de fim de ano merecem, pela originalidade, registro. Por exemplo, o sociólogo, professor e poeta (atualmente em recesso) Rogério Bonilha, 41 anos, uniu uma interessante pesquisa que fez sobre as esperanças (sic) dos habitantes de Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre com um recado muito pessoal para fazer chegar aos seus amigos uma "Circular".
xxx
Diretor do Instituto Bonilha - que vem fazendo pesquisas de opinião pública com muita credibilidade (em 1986, foi uma das sustentações nas campanhas do PMDB tanto a Prefeitura de Curitiba como ao governo do Estado), Bonilha coordenou pessoalmente uma pesquisa sobre como o povo espera 1988. Os resultados foram terríveis! Nas classes A/B, 52% esperam o pior - proporção que cai para 48% entre as classes C/D. Apenas 14% (A/B) e 15% (C/D) são otimistas - melhor, 24% (A/B) e 23% (C/D) acham que será igual.
Finalmente, 14% não sabem o que esperar neste ano.
xxx
Em cima desta realidade, Rogério Bonilha, 5 livros publicados, bom texto publicitário (profissão que ainda exerce eventualmente), escreveu uma mensagem que merece transcrição.
xxx
Que se vá o pão do pobre,
que se vá o cafezinho da classe média
e a Disneylandia do rico.
O que tem de ficar
é a esperança.
Um povo sem esperança
é um povo incapaz de reconquistar
o pão, o cafezinho e os privilégios
a que têm direito os que trabalham
para alcançar e consolidar o progresso.
Mas as pesquisas
mostram que a esperança
está se tornando cada vez mais rara -
tal qual pão, café e avião
o que faz de 88 um ano difícil e decisivo.
Um ano para homens especiais -
de grandes idéias e nobres ideais -
capazes de transmitir para a sociedade,
com convicções e vontade,
através de ações seguras
e de realizações lídimas,
um mínimo de fé e confiança no futuro.
xxx
Outra original e bela mensagem foi a que o jornalista Fernando Albagli, diretor da Ebal e editor da revista "Cinemin" distribuiu em nome de sua família. Eis o texto dos mais significativos.
xxx
1987. A gente sabe que foi um sufoco. Tá certo. Foi.
A violência fez tantas vítimas que se tornou cotidiana e comum
(mas houve gente acarinhando gente e fazendo vigílias solitárias).
A poluição não permaneceu em seus limites físicos: assumiu contornos morais
(mas aconteceram inaugurações de jardins e um motorista devolveu dois milhões que encontrou no banco traseiro do táxi).
Prédios que varam as nuvens formaram barreiras de concreto, cortando passagem de ar e luz
(mas associações de moradores impediram que derrubassem árvores e erguessem novas monstruosidades).
Muitos se marginalizaram, esmagados pela concorrência da vida
(mas tem criança nova chegando).
A inflação e o desgoverno deceparam penúltimas esperanças
(mas restaram as últimas).
Dando-se as mãos, contribuindo com o esforço possível, dobrando dos poderosos, realizando o que se tem de alcance, a gente ainda pode ajudar a construir um muito mais feliz 1988.
Enviar novo comentário