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Aramis

Cinemas apresentam agradáveis estréias

Numa semana em que, felizmente, continua em cartaz um dos filmes mais conscientes e importantes do ano - o admirável "Condenado por Suspeita" de Henry Winkler (cine Ritz, 5 sessões) - surgem quatro estréias digestivas e agradáveis. Entre os lançamentos, "Contos de Primavera" do francês Eric Rohmer (Luz) é o de maior importância, embora a comédia "O Pequeno Diabo", do italiano Roberto Benigni (Groff) também mereça atenção. Duas comédias americanas, em linhas de fácil agrado do público, exploram temas da moda: estrepolias de crianças ("A Malandrinha", cine Bristol) e a reencarnação vista com ironia ("Trocaram meu Sexo", Lido I). Entre os filmes que retornam, o vigoroso e atual "Boyz N'The Hood-Os Donos da Rua", de John Singleton (cine Guarani). Eric Rohmer, 71 anos, é considerado um dos mais densos e teóricos artífices da Nouvelle Vague - em cujos princípios influenciou muito como professor de literatura e crítico do Cahiers du Cinema. Cerebral e ao mesmo tempo observador da sociedade francesa, desenvolveu uma obra clínica nos seus "Contos Morais", ao longo de dez títulos diferentes (sem ordem cronológica) aos quais, acrescenta agora outra série, "Contos das Quatro Estações", das quais "Contos da Primavera" (Conte du Pritemps), França, 1990, 112 minutos - em lançamento no Luz - é um elogiado exemplo. Seu "O Raio Verde" que, em 85, lhe valeu o Leão de Ouro em Veneza, só foi visto em sessões promovidas pelo monsieur Ravel, no auditório da Aliança Francesa e desde "A Marquesa d'O" (76), seus filmes não chegam ao circuito. O que confere especial importância a "Conto de Primavera", com uma história de amor - sempre dentro daqueles triângulos no qual ele é mestre em conduzir - mas com uma visão profunda de nossos tempos. Elenco desconhecido no Brasil (Anne Teyssedre, Hughes Quester, Florece Darel etc.). Roberto Benigni, comediante italiano, tornou-se cultuado após ter sido escolhido por Jim Jamurschi personagens de "Daunbailô" (Down By Law, 86), ganhando a seguir, o principal papel de "Vozes da Lua", o último filme de Fellini lançado no Brasil. Em 1989, Benigni estreou como diretor, numa comédia irreverente, com um excelente comediante americano - Walther Matthau - a bela Stefania Sandrelli e ele próprio no personagem-título, um demônio simpático que inferniza a vida do padre Maurice (Matthau). Selecionado para a Quinzena dos Realizadores em Cannes-89, pré-lançado no Brasil na Mostra Internacional de Cinema e a disposição em vídeo (Pandora/Look Filmes) pode agradar a quem procura comédias criativas. Black Edwards, 70 anos a serem completados em 26 de julho, 38 de cinema, 36 filmes a partir de "Sorria para a Vida" (54, um musical com Frankie Laine) é, no mínimo, um diretor competente. Oscilando entre a comédia, o drama e a sátira, Edwards tem títulos dos mais expressivos em sua filmografia, que, para o grande público, identifica-se com os sucessos da série "Pantera Cor de Rosa", mas para quem curte o cinema que aborda satiricamente Hollywood não esqueceu seu contundente "S. O. B." (1980). Digestivo nos últimos anos, Edwards é o diretor de "Switch-Trocaram meu Sexo" (Lido I), cujo roteiro lembra meia dúzia de outros filmes de sucesso - do "Céu Pode Esperar" a "Ghost": o retorno à Terra de um homem que não desejava morrer. Só que o personagem, Stee (Perry King), morto por uma ex-amante, Margot (Jobeth Williams), consegue a volta no corpo de uma bela loira, Amanda (Ellen Barkin), estabelecendo-se as confusões. Como sempre, Edwards sabe sofisticar uma produção, com música de seu constante amigo e parceiro Henry Mancini (cujas magníficas trilhas sonoras, infelizmente, não têm mais saído no Brasil), ambientes requintados e boas gags. A verificar. Crianças Enquanto "O Pestinha II" continua a faturar no Condor, chega "A Malandrinha" (Curly Sue), na comédia de John Hughes, que o bom amigo Rubens Ewald definiu como "o Steven Spielberg das comédias sobre jovens". Desde "Gatinhas" (84), que Hughes tem se voltado ao universo de crianças e adolescentes, com fitas suaves. Nesta "Curly Sue", traz a garota Alisan Porter 9 anos, uma órfã encantadora, com a qual se envolve um publicitário, Bill Dancer (James Beluschi), para quem a vida deve ser vivida intensamente mesmo sem dinheiro. O esquema criança-emoção-ternura sempre funciona e "A Malandrinha", com música do ótimo Georges DeLeRue deve agradar. "Culpado por Suspeita", o excelente filme que faz um corte visceral nos anos do Macarthismo, valendo como verdadeira aula de história contemporânea, continua até a próxima quinta-feira no cine Ritz. No domingo, dedicaremos nossa página "Tablóide" a uma demorada análise sobre esta obra contundente. LEGENDA FOTO 1 - "Conto da Primavera": história de amor conduzida com maestria. LEGENDA FOTO 2 - "A Malandrinha": opção para crianças.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
17
31/01/1992

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