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Aramis

Maysa, ouça e viva! (13 anos depois)

"Os olhos de Maysa são dois não Sei que dois não sei como digo Dois oceanos não pacíficos Maysa são dois olhos e uma boca" (Manuel Bandeira, 1886-1968) xxx Parece que foi ontem. E já se passaram treze anos desde aquele trágico entardecer de um sábado, 22 de janeiro de 1977, que Maysa, sempre com pressa, cruzou correndo demais a ponte Rio-Niterói a caminho de Maracá e encontrou a morte a 120 Km por hora. Trágica coincidência: na mesma rodovia, onde, também num acidente automobilístico, 11 anos antes tinha morrido outra das grandes intérpretes da canção brasileira: Silvinha Telles. Todos acham que eu falo demais E que ando bebendo demais Que esta vida agitada Não serve para nada Ando por aí, bar em bar Dizem até que eu ando rindo demais E que conto anedotas demais Que não largo o cigarro Dirijo meu carro correndo Chegando ao mesmo lugar ("Demais", letra de Aloysio de Oliveira, música de Antônio Carlos Jobim, especialmente para Maysa). xxx Maysa seria hoje uma senhora de quase 54 anos - nasceu no Rio de Janeiro, em 6 de junho de 1936 (embora algumas biografias falem que ela seja paulista). Na manhã de 1o de dezembro de 1976, 53 dias antes de sua morte, num longo, pessoal e sentimental depoimento exclusivo que gravou conosco, nos estúdios da rádio Ouro Verde, falou sobre sua vida, sua carreira, seus amores e a fase branca de suave paz que atravessava. Falava de planos tranqüilos, inclusive da disposição de vir morar em Antonina - já que aqui tinha uma de suas maiores amigas, Rose Rogoski - hoje a secretária particular da Primeira Dama, Débora Dias. Maysa queria dedicar-se à pintura, ao artesanato e talvez a alguma nova montagem teatral, apesar de uma experiência que havia feito em 1973 - "Woyzeck" de George Buchner (1813-1837) - lhe ter trazido grande prejuízo, levando quase todo o seu patrimônio. Mas dinheiro nunca preocupou Maysa. Para ela, a vida devia ser vivida intensamente. Filha de uma família classe média de São Paulo - Figueira Monjardin, aluna do Sacre Coeur de Marie, em São Paulo, casou aos 18 anos com André Matarazzo, com quem teve seu único filho - Jaime, hoje diretor artístico da Rede Manchete de Televisão. Em 1956, gravou seu primeiro LP, na RGE, produção de Côrte Real, "Convite para Ouvir Maysa - Volume 1", que tendo "Ouça", de sua autoria (aos 12 anos, já havia feito uma primeira música "Adeus") a projetou nacionalmente. O resto da história é conhecida! Sucesso, o casamento findo, uma carreira que se firmaria pela imagem da cantora romântica, a dor-de-cotovelo da maior dignidade, que a faria uma cantora maior - da melhor fase do romantismo da segunda metade dos anos 50 e integrando-se ao movimento da Bossa Nova com a gravação do histórico "Barquinho" (CBS, 1961, já reeditado uma dezena de vezes), no qual era acompanhada por garotos instrumentistas como Luizinho Eça, Bebeto e Roberto Menescal, que se tornariam seus grandes amigos e companheiros de jornadas musicais. xxx 13 anos após sua morte, Maysa vive! José Maurício Machline, poeta, compositor e cantor - um apaixonado pela MPB e que como diretor de comunicação do grupo Sharp idealizou a maior promoção já feita no Brasil em favor de nossa música, escolheu este ano a grande Maysa para ser a homenageada. Nas edições anteriores foram homenageados Vinícius de Moraes (88) e Dorival Caymmi (1989). Este ano, dentro de algumas semanas, quando na noite de gala em que os premiados desta promoção destinada a destacar os melhores de nossa música - numa edição à brasileira do Grammy - Maysa será lembrada com suas canções. Afinal, como já dizia Guimarães Rosa, há pessoas que não morrem. Ficam encantadas. Dolores Duran (1930-1959), Silvinha Telles (1934-1966), Elis Regina (1945-1982), Clara Nunes (1943-1983), Nara Leão (1942-1989) estas vozes maravilhosas que tão cedo se foram, como Maysa, estarão sempre sendo ouvidas - nos corações e mentes de todos que sabem amar o eterno em nossa música. A Maysa romântica, sentimental, sincera como dizia em muitas de suas músicas. Eu só digo Eu só digo o que penso, só faço O que Gosto e aquilo que creio E se alguém não quiser entender E falar, pois que fale! Eu não vou me importar com a Maldade De quem nada sabe E, se alguém, interessa saber, Sou bem Feliz assim. Muito mais de que quem já falou Ou Vai falar de mim. (Maysa, "Resposta", 1970) LEGENDA FOTO - A cantora "dor-de-cotovelo" que mais soube interpretar a fossa. Há 13 anos morria Maysa num acidente automobilístico.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
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23/01/1990

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