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Aramis

Na telinha paralela, se mostrou até o filme que não foi concluído

Apesar dos festivais de Brasília e Gramado evitarem, nos últimos anos, a expansão também para o vídeo - considerando que o boom nesta tecnologia é tão intenso que justifica eventos específicos - torna-se impossível, atualmente, ignorar a telinha como forma ao menos informativa para realizadores que optando pelo vídeo apresentam trabalhos dos mais importantes. Ao menos informalmente, tanto em Gramado como em Brasília, as últimas edições dos festivais já abriram salas para que as realizações em vídeo, com cópias em VHS, possam serem vistas. Entre os dias 4 a 9 de julho, numa das salas do Kubistchek Plaza - sede do 24o. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro - foi apresentado meia centena de vídeos de tendências, gêneros e origens diferentes - naquilo que, modestamente se chamou de "Mostra Informal de Vídeo". Além de vídeos completos, trabalhos já prontos para comercialização - seja através da televisão ou em distribuição pelas locadoras - houve também a oportunidade de se conhecer chamados works in progress - montagens-piloto de projetos ambiciosos em andamento. Tarcisio Vidigal, além de ter coordenado o seminário "Cinema Brasileiro, Urgente" - desenvolvido em três painéis - levou um piloto com as três primeiras histórias de sua original proposta em transpor para clips os cartuns criados por Miguel Paiva nas páginas da revista "Isto é" - "Radical Chic", com a bela atriz Andrea Beltrão (que não foi ao festival, mas que acabou premiada como melhor coadjuvante por "Vai Trabalhar Vagabundo II: a volta"). Com um humor tipicamente carioca, tendo um bar como cenário - e envolvendo clips-piadas-cartuns ultra-rápidos, "Radical Chic" ainda não teve sua produção regular dimensionada, já que as negociações com a Globo não prosperam. Entretanto, pelo que se pode observar, há condições destes cartuns eletrônicos alcançarem ótima comunicabilidade. Cláudio Kahns, um dos mais atuantes produtores paulistas nos [anos] 80 através da Tatu Filmes (que, entre outros filmes, realizou o premiado "A Marvada Carne" de André Klotzel), além de integrar o júri do festival, levou um vídeo mostrando 25 minutos das seqüências já feitas da mais complicada co-produção dos últimos anos: "O Judeu" de Tom Azulay. Marcando a estréia do carioca Tom Job (Jomico) Azulay, 50 anos, na direção de um longa de ficção - após dois documentários sobre o chamado grupo baiano ("Os Doces Bárbaros", 76 e "Corações a mil", 82, sobre uma excursão de Gilberto Gil), a história de Antonio José da Silva, O Judeu (Rio de Janeiro, 1705/Lisboa, 1739), dramaturgo dos mais importantes, cuja família (e ele próprio) sofreu perseguições da Inquisição. A produção foi iniciada há quatro anos, com filmagens realizadas entre outubro/dezembro de 1987, mas devido a problemas de recursos - as mesmas foram interrompidas. Técnicos e artistas abandonaram as filmagens (por falta de pagamento) - inclusive Dina Sfat (1939,1990), uma das intérpretes principais, voltou de Portugal dizendo cobras & lagartos da produção. As imagens vistas neste vídeo, com uma cuidadosa direção de arte de Adrian Cooper (fotógrafo e realizador inglês radicado no Brasil, que também integrou o júri [do] festival de Brasília) mostram uma produção muito bem cuidada, fotografada por um veterano profissional português (radicado na França), Eduardo Serra. Na produção já foram consumidos mais de US$ 1.200.000,00 (dobrando o orçamento original) e o produtor Kahns, orça em pelo menos mais US$ 800 mil indispensáveis para concluir os 20% das filmagens que deixaram de ser feitas, a finalização do filme e, sobretudo, pagamentos de muitos compromissos. "É um custo alto" reconhece Kahns, "mas pela grandiosidade da produção - com seqüências fotografadas em belíssimos castelos, centenas de atores - esta produção, se fosse feita agora passaria dos US$ 6 milhões". Para que o filme seja retomado há necessidade de que se consiga um parceiro de recursos e todo o projeto redimensionado. Os problemas na produção de "O Judeu"- assim como o fato da Embrafilme, ao ser extinta, ter deixado uma dívida de US$ 20 mil com o Instituto Português de Cinema no caso de outra co-produção, "Solo de Violino", da francesa Monique Rutler, inviabilizaram a continuidade de um projeto que poderia ter beneficiado outras realizações ( a curitibana Berenice Mendes, atualmente em Portugal, procurou inclusive o Instituto para tentar uma co-produção no seu longa "O Drama da Fazenda Fortaleza"), "Solo de Violino" - que teve co-produção da Raiz Filmes, de São Paulo, foi concluído e teve uma única exibição no VI Rio-Cine Festival (novembro/90). Assumpção Hernandez, produtora executiva, explicava: - A Embrafilme cobriu 80% do orçamento que lhe cabia (US$ 100 mil), mas enquanto o saldo não for liberado, com os juros normais, as negociações estarão paralisadas. Quanto ao lançamento do filme no Brasil - já exibido em vários países da Europa - só acontecerá quando a situação estiver normalizada". LEGENDA FOTO - Andréa Beltrão, premiada como melhor coadjuvante em "vai Trabalhar, Vagabundo" e, que estréia o vídeo-cartoon "Radical Chic", que ainda está em fase de produção.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/07/1991

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