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Aramis

O cinema através de Paulo Emílio

A Editora Paz e Terra se voltou já há alguns anos para a publicação de livro ligados ao cinema brasileiro. Assim, em caprichadas edições com orientação de um conselho formado por Jean-Claude Bernardet, Luciano Ramos, Maria Rita Galvão e Raquel Gaeber, a editora de Fernando Gasparian tem lançado bons títulos - abordando diferentes aspectos de nossa realidade cinematográfica. Especialmente significativo foi a co-edição feita com a Embrafilmes reunindo em dois volumes a "Crítica de Cinema suplemento literário d'Estado de São Paulo de Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977)". Além destes dois básicos volumes, representativos por enfaixarem uma contribuição daquele que foi o mais influente crítico de sua geração, a mesma editora, também em colaboração com a Embrafilmes, lançou "Cinema: trajetória no subdesenvolvimento" (95 páginas, prefácio de Zulmira Ribeiro Tavares), reunindo três textos em que o autor elaborou visões amplas e de conjunto da história do Cinema brasileiro. Finalmente, agora, pela mesma Paz & Terra, sai a aguardada obras que Paulo Emilio fez sobre o cineasta Jean Vigo (1905-1934), publicada em 1957, na França - quando Paulo Emilio vivia em Paris, e cuja tradução para o português há muito era aguardada. PAULO CRÍTICO - Entre outubro de 1956 a dezembro de 1965 - portanto por quase dez anos, muitas pessoas adquiriam "O Estado de São Paulo", aos sábados, exclusivamente para ler os artigos de Paulo Emilio. Textos inteligentes, pessoais, nos quais, como tão bem observou Zulmira Ribeiro Tavares, "vários temas surgiam entrelaçados: muitos nada tinham a ver com o cinema, outros chegavam até ele por desvios. Entretanto, representavam a posição de um dos intelectuais mais lúcidos do Brasil contemporâneo, ao qual se deve, entre outras coisas, a fundação da Cinemateca Brasileira em São Paulo. Não seria justo que este precioso material crítico permanecesse praticamente inédito, apenas em alguns privilegiados arquivos de entusiastas que, na época, recortaram e perpetuaram os textos de Paulo Emilio. Graças uma soma de esforços - entre a Embrafilmes, Paz e Terra e Fundação Cinemateca Brasileira, a contribuição crítica de Paulo Emilio está em dois belíssimos volumes - que, ironicamente, lançados há dois anos, hoje se encontram até em balcões de ofertas. O fato de não se constituírem em "novidades", não impede que se registre a importância destes livros, especialmente como uma dica para os mais jovens, interessados em conhecerem melhor o nosso cinema e que podem encontrar nas páginas deixadas por Paulo Emilio momentos de reflexões profundas sobre clássico do cinema, eventos culturais e, especialmente o cinema brasileiro - que ele tanto defendia e amava - no período entre 1956/65. Um de seus grandes amigos, Décio de Almeida Prado definiu a colaboração de PESG no suplemento literário de "O Estado de São Paulo" dizendo: "Eram artigos semanais, escritos sem preocupação metodológica, alguns sob a forma de reflexão sobre as novidades do momento, outros mais doutrinários, ou mais pessoais, ou mesmo simplesmente informativos. Em meio a essa massa riquíssima de fatos e de pensamento crítico, ainda voltada de preferência para a Europa e os Estados Unidos, por força do nosso panorama cinematográfico de então, começa já a despontar a preocupação nacionalista, organizando-se em torno de duas de suas grandes paixões de maturidade: a consolidação de uma Cinemateca Brasileira, nos moldes franceses, que pudesse preservar o presente para o futuro, e a pesquisa histórica, que nos devolvesse um pouco desse passado que, com a imprevidência dos pobres, já havíamos perdidos". A reedição de "Três Mulheres de Três PPPs", novela na qual o cineasta Paulo César Sarraceni se baseou para o filme "Ao Sul de meu Corpo", veio completar a possibilidade de se conhecer melhor a grandeza intelectual de Paulo Emilio - que tem no amor e fidelidade de sua viúva, a escritora Lígia Fagundes Telles - que o substituiu na presidência da Cinemateca Brasileira - outra pessoa admirável.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
24
04/11/1984

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