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Aramis

Ótimos filmes em exibição

A programação continua a esquentar com lançamentos para diferentes faixas: os filmes-revelações de Cannes-89 estão chegando - "Sexo, mentiras e videotapes", de Steven Sondenberg, previsto para os próximos dias no Ritz (pré-estréia amanhã, 24 horas), enquanto "Faça a Coisa Certa", de Spike Lee, substituirá "Chuva Negra", de Ridley Scott - que apesar de seus méritos e marketing estreou com público abaixo do esperado: pouco mais de 5 mil espectadores na primeira semana (apesar disto continua no Condor). Dois dos melhores filmes do ano estrearam ontem: "Vozes Distantes", do inglês Terence Davies, e "Sur - Amor e Liberdade", de Fernando Solanas. Em termos de público jovem, "A Fera do Rock" - cinebiografia do roqueiro Jerry Lee Lewis - chegou no Bristol, enquanto no São João, em substituição ao interessante "Na Trilha dos Assassinos", outro thrilling de muita ação, envolvendo uma trama atualíssima: um complô para assassinar Gorbachev em "A Entrega Mortal" (The Package), de Andrew Davis. Em termos de reprise, mais um Luís Buñuel (1900-1983): "Simão do Deserto" (Simon del Desierto), rodado em 1965, com Sílvia Pinal (com quem, 3 anos antes havia realizado "O Anjo Exterminador" e que anteciparia seu maior sucesso popular - "A Bela da Tarde" (67). AS VOZES DISTANTES Entre as mostras paralelas do FestRio-88, uma das mais interessantes foi a que trouxe "Distantes Voices... still lives", do inglês Terence Davis - que havia sido a grande sensação para a crítica meses antes em Cannes. Um filme profundo, belíssimo em sua concepção visual (com experimentações dos fotógrafos William Dive e Patricia Duvall), "Vozes Distantes" - que agora a nova distribuidora Pondora lança no Brasil insere-se entre aqueles filmes humanos, que falam ao coração em sua simplicidade, emotividade e empatia. A história de uma família de Liverpool (mas que poderia ser de qualquer cidade do mundo, com os conflitos entre o pai duro e autoritário (Pete Postlethwaite), a mãe amargurada e sofredora (Freda Dowie) e as filhas Eileen (Angela Walsh), Maise (Lorraine Ashbourne) e o filho Tony (Dean Williams), mais a amiga Monica (Debi Jones). Em torno de um universo familiar, embalado com uma das mais enternecedoras trilhas sonoras montadas com standards dos anos 50 - quase 60 temas incidentais, especialmente "Singing in the Rain", "Bye Bye Blackbird", "Buttons and Bows" - o filme se abre (e se fecha) em duas partes: numa primeira (Distant Voices) com os fatos que antecederam a morte do patriarca autoritário, na segunda (Still Lives) numa reflexão de sentimentos. "Vozes Distantes" é uma pequena obra-prima. Espera-se que não venha a ser retirado de cartaz na próxima semana. O SUR DE SOLANAS "Tangos - O Exílio de Gardel", de 1985, após ser premiado no Festival de Veneza a ter aberto o II FestRio, mostrou o belíssimo cinema que Fernando Solanas, 54 anos, sabe fazer. Realizador de um antológico documentário sobre a realidade de seu país - "La Hora de los Hornos" (1968, inédito no Brasil a não ser em exibições especiais), e tendo se auto-exilado em Paris durante os anos mais duros da repressão, Solanas fez em "Tangos" um enternecedor canto de amor sobre os argentinos obrigados a deixar Buenos Aires. Dois anos depois, em 1987, faria uma espécie de continuação - "Sur" (que no Brasil ganhou o dispensável acréscimo de "Amor e Liberdade". Em "Tangos", os exilados estavam na França, num filme em que teatro, musical e política se confundem. Agora, é a volta de um ex-exilado a Buenos Aires e o choque no reencontro de amores, familiares e amigos. Como em "Tango", o filme tem uma fotografia elaboradíssima - motivo, aliás, de burras críticas tipo "o filme é bom mas belo demais". A trilha sonora não poderia ser de outro: Astor Piazolla, lançado em disco na Argentina e França - que devido a estupidez de nossos diretores de marketing fonográficos continua inédita no Brasil. ATENTADO A GORBACHEV Com um roteiro digno da melhor fase de 007 - um atentado ao primeiro ministro Gorbachev, às vésperas do Natal, em Chicago, "A Entrega Mortal" é um thrilling de ação, com muita política internacional, que mereceria ser exibido num cinema de melhor categoria do que o São João. Afinal, esta produção de 20th Century Fox foi selecionada para a semana de pré-estréia paralelas do último FestRio, em Fortaleza e teve, nos Estados Unidos, uma cuidadosa distribuição. Há outros fatores atraentes: Gene Hackman, em seu primeiro filme após "Mississipi em Chamas" (que lhe valeu indicação ao Oscar 90 como melhor ator); o diretor Andrew Davis, ex-fotógrafo e que começou com o pé direito (1968, "Dias de Fogo", de Haskell Wexler), e no elenco de esporte tem Jeanne Cessidy, Tommy Lee Jones e John Heard. Um filme que merece ser conferido. OUTRAS OPÇÕES Sem contar a reprise de "Simão do Deserto", de Buñuel - mas que tem sabor de estréia para uma nova geração, continuam outros filmes atraentes em cartaz: "Black Rain", de Ridley Scott, no Condor; o divertido "Querida Encolhi as Crianças", no Astor; "O Urso", de Jean-Jacques Arnaud (que o público está descobrindo na base do boca-a-boca) no Cinema I; o violento "Condenação Brutal" (Lock Up) de John Flynn, com Sylvester Stallone e Donald Sutherland, no Plaza. No Lido II, retorna nas sessões noturnas, "A Morte Pede Carona", um exercício de violência e suspense, com toques surrealistas que, há quatro anos, foi um dos maiores êxitos de bilheteria. Para a faixa infantil, no distante Cine Guarani, a reprise de "Oliver e seus Companheiros", desenho de longa-metragem dos estúdios Disney. LEGENDA FOTO 1 - Gene Hackman é um militar em "A Entrega Mortal": no cine São João. LEGENDA FOTO 2 - Dennis Quaid é Jerry Lee Lewis em "A Fera do Rock", no Bristol. LEGENDA FOTO 3 - No Cine Guarany: desenhos para as crianças.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
02/02/1990

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